Irmão do pivete Raí, Sócrates nunca quis ser atleta
Reproduzo abaixo texto que escrevi a convite da Folha de S. Paulo, publicado na edição desta segunda.
Causos
Irmão do pivete Raí, Sócrates nunca quis ser atleta.
Anos 80, no auge da "Democracia Corinthiana", Sócrates, com roupa de treino, toma uma cervejinha no Bar da Torre, no Parque São Jorge. O colega Biro-Biro tenta, em vão, tirá-lo de lá. A cena se repetia com frequência.
"Se ele se cuidasse, seria o melhor do mundo. Mas nunca me escutou. Mesmo assim, jogou mais do que o Raí."
Ouvi esse depoimento de Biro-Biro nos anos 90, quando foi jogar no Botafogo-SP.
O Doutor respondeu na ocasião: "Melhor do mundo? Biro exagera. Sobre o pivete [Raí], ele sempre foi atleta. Nunca fui. A parte técnica, nem discuto".
Na época, Raí jogava pelo Paris Saint-Germain, da França. Eu era repórter da  Fo lha Ribeirão e virei colecionador de histórias sobre Magrão.
No Botafogo, teve curta passagem como técnico. No jogo mais importante, enfrentou o arquirrival Comercial. Horas antes do Come-Fogo, ele estava numa sala do estádio com uma geladeira de isopor ao lado, bebendo cerveja, quando foi abordado por um torcedor. O rapaz carregava fogos de artifício.
"Você é o homem da fumaça? Só tem essa que atrapalha ou tem aquela da boa?", soltou o Doutor, desconcertando o torcedor.
Mais constrangidos ficaram os músicos de uma banda durante o Carnaval da Recreativa, clube da cidade.
Chamaram o ex-craque para cantar no palco. Na primeira desafinada, vieram as vaias da plateia.
"Estava quieto e me chamaram aqui. Vão todos à merda", desabafou Sócrates.
Ele gostava de cantar.
Para desespero de uma namorada, certa vez se levantou da mesa numa churrascaria com música ao vivo e soltou a voz sozinho.
"Como será o amanhã?…", cantava animado, enquanto a moça, de 19 anos, implorava para o ex-jogador quarentão: "Senta, amor".
Estava preocupada com o ar de reprovação das tias sisudas que acompanhavam o casal no restaurante.
Na mesma época, causou alvoroço na Fo lha Ribeirão ao telefonar anunciando que seria candidato a prefeito.
A candidatura não se concretizou. "Estava tomando cerveja com amigos, eles me encheram o saco com essa história de candidato. Acabei me empolgando", justificou-se o ex-atleta mais tarde.
Em 2000, Sócrates surpreendeu diretores do São Paulo aparecendo na festa pela conquista do Paulista em cima do Santos, na qual estava também o irmão Raí.
"Pô, o cozinheiro é corintiano. Trouxe pra mim uma porção cheia de frescura e uma garrafa de uísque. Alguém quer ficar com ela? Isso é que dá vir em festa de são-paulino. Se fosse do Timão, a gente estaria tomando Kaiser e comendo espetinho", queixava-se ele, com uma faixa do time tricolor amarrada na testa.
Surpresa maior Magrão causou, anos antes, ao guarda rodoviário que era seu parceiro musical.
Num dia em que saiu do hospital, o amigo foi visitá-lo. Na cidade, espalhou-se o boato de que ele estava com cirrose. Ao ver a mesa forrada de latinhas vazias de cerveja, o parceiro disparou: "Ficou louco? O médico disse que você não pode beber".
"Esqueceu que sou médico? E sou melhor do que ele. Eu me formei na USP, ele não. Estou liberado", devolveu. Magrão deixou claro que seria incapaz de ser controlado por rigorosas restrições médicas, para ele tão contestáveis quanto ordens de treinadores e cartolas linha-dura.
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