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Vida de torcedor uniformizado tem de protetor de MMA a viagem de graça ao exterior

Perrone

31/03/2012 11h32

A cena é comum no metrô e em trens nos dias de clássicos em São Paulo. Jovens integrantes de organizadas vão aos estádios com protetor bucal, aqueles usados no MMA e no boxe.

Esses garotos são os chamados "linha de frente". Eles podem descer algumas estações antes do previsto para "trombar" de propósito com os torcedores adversários. Via rádio, antes de entrarem nas estações, conversam com colegas que dão a localização do inimigo.

Meninos como esses se envolvem em brigas iguais a que matou dois da Mancha Alviverde na "treta" com a Gaviões da Fiel no último domingo. Na hierarquia das torcidas, eles estão na base da pirâmide. As brigas ajudam a ganhar respeito e a crescer na "organização".

No caminho rumo ao topo, precisam também fazer o serviço pesado. Carregar bandeirões e faixas, abrir tudo para a PM revistar, enrolar novamente para entrar no estádio, esticar lá dentro, guardar, carregar na saída… Trabalho cansativo.

Com os pontos acumulados, começam a ganhar missões mais nobres. Como integrar a eliete das uniformizadas que viaja de avião em jogos mais distantes do Brasileirão. Fora de casa, uma das principais missões é evitar que torcedores rivais roubem faixas e bandeiras. Outra tarefa fundamental é estender a faixa em local que as câmeras de TV mostrem.

Há casos que lembram empresas, com torcedores em viagens recebendo diárias e tendo que apresentar notas dos gastos.

Nesse plano de carreira, sinônimo de sucesso é ser brindado com passagens para jogos da Libertadores sem ter que pagar nem a estadia. Poucos conseguem.

Quem cumpre todo o ciclo e envelhece se afasta das "tretas", mas vira "liderança". É o que a maioria dos meninos busca, nem que tenha que ser na base da paulada. Justiça seja feita, a maioria desses jovens faz parte também do ritual vibrante nas arquibancadas, que empurra o time e embeleza o estádio.

Para saber um pouco mais sobre as organizadas, leia abaixo parte do vocabulário usado pelos torcedores.

Bonde – Grupo de torcedores ou caravana de uma determinada organizada.

Família – A própria torcida.

Farda – Uniforme da torcida.

Fardado – Uniformizado. 

Linha de frente – Grupo que vai para o combate com os rivais. É usado também em referência a um integrante do grupo.

Meninos das bandeiras – Jovens considerados como soldados rasos, mas de futuro promissor. Carregam faixas e desfraldam as bandeiras (nos estádios em que elas são permitidas).

Patrimônio – Faixas e bandeiras, que são os bens valiosos das organizadas.

Trombar – Brigar com torcedores rivais, na maioria das vezes premeditadamente.

T.O – Torcida organizada.

GDF – Gaviões da Fiel (usado na internet)

TTI – Torcida Independente, do São Paulo (usado na internet)

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.