Topo

Perrone

Antes de renunciar, Ricardo Teixeira disse que seleção não ganha Copa de 2014

Perrone

20/04/2012 06h00

Entrevista com Marco Antônio Teixeira, tio de Ricardo Teixeira, ex-secretário-geral da Confederação Brasileira e um dos poucos capazes de decifrar a caixa-preta da CBF. A seguir, os principais trechos.

Renúncia

"No dia 31 de janeiro, o Ricardo me chamou e disse que iria renunciar, além de me demitir. Disse que estava saindo por problemas de saúde, por causa do cenário político internacional desfavorável a ele e também por acreditar que a seleção brasileira não vai ganhar a Copa de 2014. Ele disse que ainda não temos um time formado e que não temos uma liderança nesse time. Por isso não vamos ganhar.

Mas acho que desde agosto ele preparava a renúncia. Colocou o José Maria Marin para chefiar a delegação no jogo contra a Argentina. Acho que foi um teste.

Deve ser muito ruim para uma pessoa poderosa como o Ricardo, que tinha tanto acesso com o Joseph Blatter [presidente da Fifa] e com o Lula perder tudo isso de repente".

Convite a Muricy Ramalho

"O Ricardo estava muito forte politicamente naquela época e acabou perdendo o chão, isso acontece muito com ele. Estava brigado com o Roberto Horcades [presidente do Fluminense] e resolveu chamar o Muricy para treinar a seleção sem falar com o clube antes. Achava que tinha poder para isso, mas o Horcades vetou".

Andrés Sanchez

"Falei para o presidente não se meter no Clube dos 13. Mas o Marcelo Campos Pinto, da Globo, e o Kléber Leite [ex-presidente do Flamengo] falaram para ele entrar. Era para o Kléber ganhar a eleição e presidir o C 13. O Ricardo não queria, mas os dois encheram, encheram muito para ele participar do projeto de tirar o Fábio Koff do Clube dos 13. Ele acabou aceitando.

O Andrés foi o primeiro a participar do projeto. E o presidente ficou grato pela ajuda. Por isso ficaram tão unidos".

Entrevista polêmica

"Quando saiu aquela entrevista na revista Piauí, disse ao Rodrigo Paiva: 'você, como assessor de imprensa, não poderia ter deixado o presidente dar aquela entrevista, ficar tanto tempo com a jornalista". Ele respondeu: 'você conhece seu sobrinho. Tentei fazer ele parar de falar, mas quis continuar.'

Contei essa história para o Ricardo naquele 31 de janeiro. Ele ficou muito irritado. Disse que a ideia da entrevista foi do Rodrigo. Era algo para melhorar a imagem do presidente. E o Rodrigo achava que a Piauí era o melhor veículo para isso. Achei estranho porque o Ricardo diz que tudo que não é Globo é traço".

Demissão

"Ricardo disse que precisava me demitir porque tenho o mesmo sobrenome que ele. Não queria que o sobrenome dele continuasse na mídia. Disse pra ele não esperar que eu fosse idiota. Eu disse: 'estou saindo porque não concordo com o projeto de fazer o Marco Polo Del Nero [presidente da Federação Paulista] presidente da CBF. Vou ser um empecilho'. O Del Nero deve ter pedido minha demissão.

 Eu discordava de a eleição que estava marcada para 2015 já estar resolvida, queria que fosse uma disputa democrática. Outros interessados deveriam ter a chance de disputar o cargo.

Mas fizeram tudo para passar o poder para o Del Nero. E ele não quer ser vice da CBF porque quer o cargo. É só para impedir que outra pessoa entre na linha sucessória do Marin".

Poder paulista

"Quem manda hoje na CBF é o Marco Polo. Ele decide demissões, contratações, dá ordens aos funcionários. E tem também o Reinaldo Carneiro Bastos [diretor da confederação e vice da FPF] para fazer as coisas pra ele. Dizem que os dois não se dão bem, mas já fizeram um acordo. O Reinaldo vai assumir a Federação Paulista".

Os homens do presidente

"Durante muito tempo, o Ricardo me ouviu, mas de repente ele passou a ter outros interlocutores. Praticamente, passou a ouvir só Sandro Rossel (hoje presidente do Barcelona) e o Rodrigo Paiva. Passou a ouvir pessoas que não contestavam suas ideias. Eu não era bajulador e fui sendo deixado de lado".

Zagallo

"Sou testemunha de que havia um acordo pra que o próximo vice-presidente da região fosse indicado pelo Rio. Por isso a federação indicou o Zagallo. Mas o acordo era na palavra. Você honra ou não a sua palavra. Del Nero diz agora que não fez acordo. Sou testemunha de que fez.

Na ocasião, Reinaldo Carneiro veio me pedir para ver com a Federação do Rio se não dava para indicar o Marin como vice. O Rubinho [presidente da Ferj] estava chegando e aceitou com a condição de que da próxima vez a escolha fosse dele. É o que ele cobra agora".

Perseguição

"A CBF está demitindo quem era ligado a mim. Ouvi até que eles proibiram os funcionários de conversarem com quem saiu e tinha ligação comigo. É assim, fazendo essa perseguição, que esse pessoal que prega a transparência na CBF age".

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.