Topo

Perrone

Distante de Gobbi, Andrés se aproxima de inimigo histórico no Corinthians

Perrone

13/02/2014 06h00


O esfacelamento do grupo situacionista no Corinthians gerou uma orgia eleitoral no clube. Ninguém tem compromisso com ninguém, e todos dão bola para todos. Nesse cenário, aconteceu uma surpreendente aproximação entre Andrés Sanchez e Antonio Roque Citadini, inimigos políticos históricos.

Recentemente, o ex-presidente se encontrou ao menos duas vezes com o e ex-vice-presidente. Não fecharam um acordo para a eleição, que vai acontecer entre dezembro e janeiro, mas ficou aberta a possibilidade de apoiarem o mesmo candidato. Andrés não pode se candidatar, pois pelo estatuto do clube precisa ficar fora de mais uma eleição. Citadini é apontado com um dos possíveis nomes da oposição.

"Sugeri ao Andrés que encontrasse o Roque, mas não tem nada a ver com política, com apoio eleitoral. Falei que eles precisavam acabar com as rusgas antigas. Só isso", disse o conselheiro André Luiz Oliveira, o André Negão. Ele é um dos principais aliados de Andrés e pré-candidato à presidência.

No entanto, o blog apurou que um dos fatores que empurraram Andrés na direção de Citadini foi o distanciamento em relação ao atual mandatário, Mário Gobbi. Segundo quatro interlocutores de Sanchez, ele reclama constantemente de seu sucessor. Discorda de diversas atitudes tomadas e teve ao menos uma ríspida discussão com o presidente alvinegro.

De acordo com as mesmas fontes, Sanchez também fala cobras e lagartos dos "engravatados", como ele chama parte dos conselheiros e dirigentes da turma de Gobbi, a maioria integrante do grupo Corintianos Obsessivos. Isso apesar de até membros dessa corrente terem abandonado a canoa situacionista.

Já aliados de Gobbi afirmam que, desde que saiu da CBF, Andrés voltou a se envolver em diversos assuntos do clube, apesar de ser o responsável apenas pela arena. Afirmam que sua movimentação no Parque São Jorge tumultuou o ambiente político. Há entre os "gobbistas" quem acredite que os "andresistas" querem apenas tumultuar o cenário. O objetivo seria conseguir uma mudança de estatuto que permita a Andrés participar do próximo pleito.

O ex-presidente sempre descartou a intenção de virar a mesa para se candidatar. Recentemente, depois de se aproximar da oposição, ele também tem dito publicamente que não participa de decisões da atual administração. Três interlocutores do presidente declararam ao blog que Sanchez vinha sendo consultado antes de todas as decisões importantes, na maioria das vezes sem se recusar a participar. Foi assim, afirmam, nos momentos críticos de Tite e também antes da nomeação do novo diretor de futebol, Ronaldo Ximenes.

Andrés não pôde ser ouvido, pois não fala com o blog. Gobbi, por meio da assessoria de imprensa do clube afirmou que "Andrés sempre foi bem-vindo, que é consultado sempre como amigo e conselheiro da gestão".

Gobbi não pode se reeleger, também por conta do estatuto corintiano. Isso não livra o presidente de ferozes ataques dos "andresistas", principalmente por supostamente delegar funções demais e quase nunca pegar a bola para bater o pênalti.

No meio da troca de tiros, está Roberto de Andrade, ex-diretor de futebol e que foi citado por Andrés com seu preferido para assumir a presidência. No vale-tudo em que se transformou a disputa eleitoral corintiana, a candidatura dele está ameaçada.

Os que defendem a união entre Andrés e Citadini afirmam que o clube precisará de um presidente cascudo e com apoio esmagador dos conselheiros. Essa ala prevê tempos bicudos, com estádio para pagar e manter, além da dívida alta já existente. E das dificuldades para montar um time forte. Oposicionistas acreditam que o grupo de Andrés não tem quadros desse porte. Esse seria outro motivo para o ex-presidente se aproximar de Citadini.

Assim, o pacto entre dois nomes com esse peso poderia forjar um candidato à altura, dizem os interessados na fusão. Tem até gente sonhando com uma candidatura única, algo pouco provável. Raul Corrêa da Silva, diretor de finanças, Elie Werdo, segundo vice-presidente, e Ilmar Schiavenatto,  diretor social, também são vistos como possíveis candidatos saídos dos escombros da implosão situacionista. Nenhum deles, porém, confirma a condição de pré-candidato.

Liderada por Citadini, Paulo Garcia, Fran Papaiordanou e Osmar Stábile, a oposição não lança candidato enquanto flerta com Andrés.

Conheça a origem da desavença entre Citadini e Andrés

Em 2004, Nesi  Curi, vice-presidente do Corinthians, indicou e Alberto Dualib nomeou Andrés como diretor de futebol, ao lado de Fran Papaiordanou. Queria dar visibilidade ao pupilo Andrés para que ele chegasse à presidência. Nesi não se dava com Citadini, vice de futebol e o preferido do presidente Alberto Dualib para ser seu sucessor.

No mesmo ano, o Corinthians firmou parceria com a MSI. Citadini era frontalmente contra. Andrés era a favor e acabou se tornando amigo do peito de Kia Joorabchian, o número 1 da empresa no Brasil. A partir daí, as divergências entre Andrés e Citadini se acentuaram e colocaram os dois em diferentes trincheiras.

Ironicamente, após os abalos causados pela parceria no Parque São Jorge, Andrés foi o principal articulador da queda de seu padrinho político, Nesi, juntamente com Dualib. Quando a poeira baixou, Andrés e Citadini continuavam de lados diferentes.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.