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Santos dobra segurança em reunião de caça a 'culpados' na venda de Neymar

Perrone

12/02/2014 06h00

Em meio a ameaças de agressão e de protestos do lado de fora da Vila Belmiro, o Conselho Deliberativo do Santos faz nesta quarta uma reunião para lavar a roupa suja que sobrou da venda de Neymar. O desejo de parte expressiva dos conselheiros é caçar cartolas que eles consideram culpados por um mal negócio para o clube. Por isso, prometem um bombardeio de perguntas sobre a venda.

Por causa da tensão, a segurança será dobrada e a Polícia Militar já foi chamada para ajudar a proteger os cartolas na entrada e na saída, pois torcedores prometem protestar na rua.

Segundo Paulo Schiff, presidente do Conselho Deliberativo, dez seguranças trabalharão nesta noite na Vila Belmiro, o que significa o dobro do número de profissionais usados normalmente. Além deles, dois carros da Polícia Militar são aguardados. A PM não costuma ser chamada.

Depois da goleada por 5 a 1 aplicada sobre o Corinthians, torcedores tentaram agredir o presidente  em exercício, Odílio Rodrigues, juntamente com outros cartolas. Os vândalos se diziam revoltados com as últimas informações sobre a venda de Neymar, reveladas após a Justiça espanhola passar a tratar do caso. Odílio tem sofrido ameaças e a polícia investiga suspeitos.

"É um momento violento, mas não só no Santos. A sociedade está violenta. Então, é melhor prevenir do que remediar", afirmou Schiff sobre a segurança reforçada.

O principal alvo de críticas dos conselheiros, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, não estará presente. Ele não foi convocado por estar de licença médica.

"É melhor ele aparecer mesmo licenciado. Se não for à reunião, vai segurar a batata quente sozinho já que os outros estarão lá para dar suas versões", disse Celso Leite, conselheiro que já votou em Laor, mas hoje está na oposição.

Luis Alvaro não foi localizado para falar sobre o assunto, mas interlocutores do cartola alegam que ele foi proibido por médicos de comparecer a reuniões do conselho.

Os conselheiros querem saber do presidente afastado por qual motivo ele não revelou que tinha assinado um documento em 2009, antes do Mundial de Clubes, autorizando Neymar a negociar com times interessados.

Outro desejo de membros do Conselho é de que o contrato da venda do atacante seja exibido para todos eles, o que não deve acontecer, ao menos nesta quarta. Vagner Lombardi, integrante da Associação Movimento Resgate Santista, já havia pedido formalmente para ler o contrato logo depois da venda, mas não foi atendido. A Resgate votou na atual diretoria, mas passou a divergir e criticar a administração

Lombardi está entre os que defendem a tese de que os dirigentes respondam com seus bens, caso fique comprovado que o Santos foi prejudicado. A suspeita acontece desde que a Justiça espanhola levantou a hipótese de o Barça ter mascarado a compra dos direitos econômicos do atacante ao dar 40 milhões de euros para a empresa dos pais do craque. Nesse cenário, descartado pelo pai do jogador, Santos (55%), DIS (40%), empresa do Grupo Sonda, e Teisa (5%), que tem entre seus integrantes conselheiros santistas, teriam sido lesados por não receberem suas partes. O clube recebeu 17,1 milhões de euros para dividir com os parceiros.

Nesta terça, a direção santista divulgou no site do clube que entrou na Justiça para tentar obrigar a empresa dos pais do jogador a mostrar os documentos de sua negociação com o Barça, eliminando um dos pontos que seriam cobrados no Conselho.

No encontro desta noite, a Comissão Fiscal do clube dará sua opinião sobre a transação. Odílio e integrantes e ex-membros do Comitê de Gestão também devem dar explicações.

Os principais críticos da negociação prometem ir à Justiça para exigir do Santos a exibição do contrato de venda se não ficarem satisfeitos com o que ouvirem na reunião. O resultado do encontro também servirá para eles analisarem se existem motivos para irem à justiça contra os dirigentes.

Veja abaixo questões que os conselheiros esperam ser respondidas sobre a venda de Neymar:

1 – A diretoria vai exibir o contrato na íntegra para quem quiser ler?

2 – Por qual motivo Laor não informou que havia dado autorização em 2009 para Neymar negociar com outros clubes?

3 – Os demais membros do Comitê de Gestão sabiam da autorização?

4  – Por que Laor não reclamou publicamente das exigências do pai de Neymar no exato momento em que elas foram feitas?

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.