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De Huck à funkeira: seleção estreia após clima de oba-oba aumentar

Perrone

12/06/2014 08h37

O que era suposição virou certeza antes da estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo: Felipão terá dificuldade para evitar que o oba-oba mine o time nacional.

Os últimos dias de preparação antes do confronto de hoje contra a Croácia foram marcados por uma crescente vulnerabilidade da equipe de Scolari em relação a fãs, familiares, patrocinadores e apresentadores de TV. O assédio é um desafio extra para os jogadores manterem a concentração.

Tudo começou no primeiro dia na Granja Comary, com atletas se reunindo por cerca de 30 minutos com patrocinadores. A promessa era de que após o compromisso o time seria blindado.

Mas, no segundo dia, a seleção de Scolari protagonizou uma das cenas mais bizarras da história do time nacional, com o treino interrompido após o aquecimento para o apresentador Luciano Huck gravar seu programa no gramado por alguns minutos. Ao final do treinamento, ele entrou num dos prédios de acesso restrito aos jogadores com seus filhos.

Dias depois, foi a vez de Mumuzinho, integrante do programa Esquenta, da Rede Globo, entrar no prédio dos atletas para fazer um pagode.

Os patrocinadores tiveram dois dias para levar 60 convidados para ver os treinos e tentar pegar autógrafos dos atletas.

No primeiro domingo em Teresópolis, o treino foi aberto para familiares que lotaram as arquibancadas. Foi o pior treinamento da seleção e o que mais irritou Felipão. Será que os jogadores conseguiram se concentrar no trabalho? Ao final do treino, mais uma cena histórica para essa seleção: Neymar e Bruna Marquezine namorando na concentração diante das lentes dos fotógrafos e sendo interrompidos por Carlos Alberto Parreira que queria tirar fotos com seus netos e o craque.

No mesmo domingão familiar, uma moça que estava a trabalho na Granja dizia que ficaria pelada, invadiria o campo e correria atrás de David Luiz, que de tanto ouvir seu nome gritado foi tirar foto com ela.

Já depois do jogo com a Sérvia, um garoto que assistia ao treino na vizinhança, invadiu um dos campos da granja e foi paparicado por Neymar e outros jogadores. No dia seguinte, uma funkeira se sentiu à vontade, também pulou a cerca que separa os gramados e tirou fotos com Hulk. Impossível não lembrar da desastrosa preparação em Weggis, quando uma torcedora entrou no campo e se jogou sobre Ronaldinho, deitado no gramado. A preparação na Suíça para a Copa de 2006 na Alemanha virou símbolo de como o oba-oba pode destruir uma seleção.

Em Teresópolis, o clima de festa contagiou até bombeiros e policiais militares que queriam tietar jogadores, coisa que jornalistas já vinham fazendo desde o começo dos trabalhos.

Em São Paulo, antes da estreia desta quinta, foi prometida blindagem. Mas às 9h celulares dos jogadores começaram a tocar interrompendo o café da manhã. Eram parentes e amigos que queriam entrar. Parte deles, além de matar a saudade, queria tietar os demais atletas. Eles só estavam lá porque as visitas foram previamente liberadas pela comissão técnica. A movimentação foi até por volta das 12h.

Depois do jogo contra os croatas, nada de badalação. O time volta para Teresópolis e Felipão retoma o desafio de frear o crescimento desse assédio a seus jogadores. A missão é complicada porque em casa todo mundo vai querer se aproximar da seleção. E depois que você cede para um, fica difícil dizer não para outro. O treinador até agora não dá sinais de preocupação. Só Thiago Silva se queixou de que um torcedor atrapalhou o treino ao reclamar de uma falta que ele fez em Neymar.

O tempo dirá se estratégia do técnico relaxou o time na dose certa e promoveu a integração com a torcida ou se produziu um desfecho semelhante ao daquele grupo (des)preparado em Weggis.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.