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Escândalo na Cohab atinge diretores e conselheiros do Palmeiras

Perrone

31/07/2014 06h00

Escândalo na Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação), envolvendo servidores municipais filiados ou ligados à dirigentes do PP (Partido Progressista) atinge diretores e conselheiros do Palmeiras. Eles estão relacionados à denúncias da Folha de S.Paulo, o que gera nova agitação política no Palestra Itália.

De acordo com o jornal, servidores atuam no partido de Paulo Maluf no horário de expediente no órgão vinculado à prefeitura. A série de reportagens fala também em nepotismo e numa cobrança mensal que seria feita pelo PP junto aos servidores.

O primeiro a perder o cargo no órgão municipal por causa das denúncias do jornal foi um dos assessores especiais da direção palmeirense, Fernando Pizo, que também era assessor especial de diretoria da Cohab, cargo de confiança, com salário de R$ 11.033,12, de acordo com o site da companhia.

Conforme reportagem da Folha de S.Paulo, ele foi flagrado durante quatro dias úteis seguidos na sede do PP em horário de serviço na Cohab. "Meu querido, desculpe, eu não tenho nada a ver com isso. Quer falar de futebol a gente conversa. É de futebol que você quer falar? Estou jantando, outra hora a gente conversa", disse Pizo ao blog, antes de desligar o telefone.

Quem despacha diariamente na casa do partido em que esteve seu colega de diretoria no Palmeiras é Antonio Jesse Ribeiro, terceiro vice-presidente palmeirense, secretário-geral do PP, membro do Conselho de Administração da Cohab, com remuneração de R$ 6 mil mensais, e amigo de longa data de Pizo. Ouvido pelo blog, Jesse nega existirem irregularidades.

Ele é pai de Guilherme Augusto Sanches Ribeiro, eleito em 2013 conselheiro do Palmeiras como quarto candidato mais votado da chapa Palestra e que deixou seu cargo no Conselho Administrativo da Cohab. Agora é candidato a deputado estadual pelo PP.

Segundo a Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Sanches Ribeiro, outro filho do vice palmeirense e assessor especial da presidência da Cohab (R$ 13.376,67 mensais) também esteve na sede do PP durante o período em que o jornal acompanhou a movimentação no local. Ele foi afastado por 30 dias de suas funções na Cohab para uma apuração. Na mesma situação está o diretor de relações institucionais do Palmeiras, Marco Polo Calandriello, gerente de patrimônio da Cohab (R$ 10.444,55). Como num dominó, ele faz ligação com outra peça vinculada ao Palmeiras e ao órgão responsável pela construção de casas populares. É parente de Américo Calandriello Júnior, do Conselho Fiscal da Cohab (R$ 3 mil mensais), conselheiro palmeirense e um dos representantes da ala do clube ligada à Federação Paulista. Américo é vice de futebol amador da entidade estadual e homem de confiança de Marco Polo Del Nero, presidente da FPF e que vai assumir a presidência da CBF em abril do ano que vem.

Também conforme o jornal, Marco Polo Calandriello, está entre os servidores que estiveram na sede do PP ou do comitê de campanha de Guilherme Augusto Ribeiro.

O blog telefonou para o celular de Marco Polo Calandriello, mas a pessoa que atendeu perguntou quem era e desligou ao ouvir a identificação. Na casa de Guilherme, uma senhora afirmou que ele não estava, anotou o recado, mas até a publicação deste post não houve retorno. Por sua vez, Américo Calandriello disse que não poderia falar porque estava num jantar. Afirmou que conversaria com o blog depois, mas não o fez.

A versão do vice palmeirense

A reação às denúncias foi rápida no Palmeiras. Há quem queira que o terceiro vice-presidente, o assessor especial e o diretor de relações institucionais renunciem a seus cargos. Jesse é o mais visado. Um grupo que não pede sua saída agora, no entanto, promete fazer campanha contra seu nome numa das chapas na próxima eleição do clube.

Ele é visto não só como possível candidato a mais um mandato como vice, mas também como postulante à presidência e ao posto de homem forte do futebol. "Jamais vou me candidatar a presidente do Palmeiras. Se alguém acha que posso ser candidato, pode virar o foco pra outro porque não serei. E não teria tempo para fazer o que o Palmeiras merece como diretor de futebol", declarou Jesse ao blog.

O vice-presidente alviverde se irritou ao ser indagado se prestou esclarecimento a seus pares no Palmeiras sobre as denúncias. "Nem tenho que dar satisfação para ninguém no clube. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Para o clube não devo nenhum tipo de explicação. E também para os demais, porque o que foi publicado não tem muita lógica. Tiraram uma foto no partido, que é um lugar público, qualquer um pode ir até lá", respondeu o cartola. Depois, ele disse: "Manda quem está preocupado [no Palmeiras] me abordar porque cada um tem uma história, e a gente sabe a história de cada um. Acusação na vida pública é feita por quem é desprovido de caráter".

No entanto, o dirigente do Palmeiras e do PP admitiu que servidores da Cohab estiveram na sede do partido em horário de expediente na companhia. "Se cometeram um erro, estavam no horário de expediente e passaram no partido, não trabalham no partido. Passaram lá, um foi levar um documento para eu assinar e foi fotografado [pela Folha de S.Paulo]", afirmou Jesse.

Sobre se indicou seus filhos para atuarem na Cohab, ele disse que os currículos são mandados para uma comissão da prefeitura que julga quem deve ser aceito e que no caso do conselho da companhia ainda há uma votação. No entanto, Jesse admitiu que o PP fez indicações.

"Quando qualquer partido faz um acordo político apresenta nomes. Uns são aceitos, outros, vetados. Marco Polo Calandriello foi indicação do partido. Ele é filiado, estava na Câmara, tem currículo cabível, é advogado e sempre militou na juventude do partido. Guilherme [um de seus filhos] foi conselheiro de administração, era pra ser eu na ocasião, mas estava com uma atividade que não dava para assumir. Mas não fui eu que indiquei. Foi o partido, o presidente se chama Paulo Salim Maluf, o primeiro vice, deputado José Olímpio. Meu nome foi usado. Sei por quem e por qual motivo, mas não vou dizer agora", completou Jesse. Ele ainda sustentou que Américo Calandriello Júnior tem currículo para estar no Conselho Fiscal e passou por uma eleição para ficar com a vaga.

O dirigente negou que exista irregularidade no fato de o PP enviar mensalmente um boleto para servidores fazerem pagamentos à legenda. "Isso faz parte do estatuto do partido, é aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral. A contribuição de filiado é espontânea, não é obrigatória. Duvido que apareça alguém dizendo que foi perseguido porque não pagou [o boleto]".

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.