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Ex-presidentes pedem para Palmeiras jogar "sem arma na cabeça"

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23/08/2014 11h13

O blog ouviu três ex-presidentes do Palmeiras sobre a fase atual do time, lanterna do Brasileirão. Luiz Gonzaga Belluzzo, Arnaldo Tirone e Mustafá Contursi defendem um esforço para diminuir a pressão psicológica sobre a equipe. A seguir, o que cada um deles diz.

 

Luiz Gonzaga Belluzzo

 

Pressão pela saída de José Carlos Brunoro, principal executivo do clube

"Esse não é momento para ficar colocando culpa. Temos que nos concentrar em apoiar o time. Senão, o combustível nesse campeonato não vai ser bom, se houver esse bate-boca, essas brigas que infelicitam o clube há muitos anos. Temos que apoiar. Não adianta discutir se é o Brunoro, se é não sei quem. Temos que apoiar e só. Não tem jeito, o que nós vamos fazer? Temos que escapar disso, é o primeiro passo. Depois discutimos a eleição. A questão é o clube e a torcida que não podem ser submetidos outra vez ao desgosto de uma queda. O que tem que ser feito, quem sabe é quem está lá dentro. Não vou dar a 'solucionática' porque não sou disso".

O time

"Não é pior do que muitos que estão na frente. Então, há o problema de estado de espírito, o time entra um pouco cabisbaixo. Não tem muito espaço pra fazer muita coisa. Quem é que você vai contratar? Talvez Ronaldinho Gaúcho, que tá dando sopa por aí. O que quero dizer é o seguinte: precisa botar esse time pra funcionar. Contra o Sport, começou bem. Aí tomou um gol e se desfez. Parecia o time do Brasil no 7 a 1. Se as pessoas pensam que estado de conflito no clube não passa para o vestiário, estão enganadas. Então você precisa fazer o gesto de confiança nos jogadores. As pessoas ficam falando mal do atleta no Twitter, essas coisas chegam no vestiário, esse tipo de atitude crítica só agrava situação".

 

Arnaldo Tirone

 

Técnico

"Teve uma grande mudança no elenco, um técnico novo, que tem um currículo de treinador bem sucedido. Mas não depende só do técnico, não é ele que faz gol, não é ele que bate pênalti. Se o técnico estiver motivado, ele tem que continuar. Trocar de técnico, só se os resultados não aparecerem daqui pra frente. Acho que o próprio treinador não vai ter ânimo de continuar".

Pressão

"Quanto mais houver pressão sobre os jogadores, pior. O Palmeiras já perdeu no passado com essa pressão. Você trabalha com uma arma na cabeça, fica muito mais difícil para desempenhar o seu trabalho. O Palmeiras está num ano de centenário. Todo mundo cobra. Novos jogadores que chegaram, não conseguiram jogar o que parece que eles sabem. O fator psicológico interfere. Contra o Sport, o Palmeiras começou bem. Uma bola errada, um vacilo, tomou o gol. Isso influencia. Fora de casa mais ainda, e com o revólver na cabeça, porque o time está jogando pressionado".

Rebaixamento em 2012

"Já passei por uma situação dessas. Naquela época, também foi muito complicado. Nós fizemos de tudo. O que a gente precisa nesses momentos é manter a calma, a atenção. Na minha época foi diferente porque a gente vinha de um título importante, que provocou um certo relaxamento no time. Além disso, perdemos nove ou dez jogadores contundidos. A tensão, a pressão de hoje é parecida com a que nós passamos, mas o momento é diferente porque o Brasileiro ainda tem 55% pra ser jogado".

Contas para escapar

"Acho que a cada dois jogos tem que ganhar um. Daqui pra frente tem que ter dez ou 11 vitórias".

Pressão pelo centenário

"O que aconteceu com a seleção? Também tinha essa pressão pra ser campeã mundial. O fator psicológico influenciou. Não sei se agora é parecida, mas o Palmeiras acumulou a pressão do centenário, que é dia 26, com esse momento do time. Todo mundo tinha uma expectativa, o Palmeiras tem que montar um time para o centenário… O atual presidente vem tentando fazer isso, na filosofia da atual diretoria. Ele contratou um técnico que eu também até contrataria. E esse técnico indicou vários jogadores. É complicado porque agora tem que dar certo, se trouxe os jogadores, tem que dar certo. Se chegar outro, técnico tem que aproveitar os jogadores que o clube tem. Tem que dar oportunidade para esses jogadores engrenarem.

O time

"O Palmeiras vem mostrando uma cara de time que quer jogar futebol, mas às vezes falta aquela confiança, entrosamento, falta aparecer aquela qualidade que parece que os jogadores têm. A torcida precisa ter paciência. A primeira coisa é o time não perder a motivação. Os jogadores precisam acreditar no trabalho, acreditar que podem vencer. E o técnico também".

Pressão pela saída de Brunoro

"Uma época, o presidente Paschoal Giuliano, que foi vencedor, ganhou vários títulos com a segunda Academia, tinha um técnico que era muito amigo dele. Não sei se o Rubens Minelli ou o Oswaldo Brandão. O Palmeiras não vencia havia uns cinco jogos. Ele chamou o técnico e falou: 'você é muito meu amigo, mas estão me cobrando. O time não está vencendo, além da torcida, a minha diretoria, o conselho estão me cobrando. Eu não posso ir embora. Quem tem que ir embora é você'. E mandou o cara embora. Então, não quero falar do Brunoro. Ele tem um passado na época da Parmalat. Quem tem que decidir é a diretoria. Brunoro tem pessoas contra e a favor. Quando contratei o César Sampaio também tinha gente que não queria a permanência dele. E mantive até o final".

 

Mustafá Contursi

 

 Técnico

"Filosoficamente, sempre fui pela permanência do treinador em qualquer circunstância. No ano em que trocamos três, com uma equipe boa, em 2002, nós tivemos aquele percalço da Série B. Tivemos Murtosa, Vanderlei Luxemburgo e Levir Culpi. Acho que o treinador precisa ter tempo".

As causas

"Os acontecimentos de agora não são um reflexo só do campo. Dificuldades econômicas, algumas coisas que não podem ser feitas por causa da falta de dinheiro… O fato é que o clube está desorganizado administrativamente e financeiramente. Enquanto isso não se equilibrar… Não vejo o Palmeiras, historicamente organizado, conseguir se organizar nessas dificuldades. Você tem percebido os meus comentários de anos de que enquanto o clube continuar com o desperdício, continuar com os histerismos momentâneos, com desequilíbrio financeiro, nós não vamos nos organizar. Não sei por qual motivos andamos fazendo investimentos em milhões de euros em jogador, se hoje a relação é só contratual. Não é só questão de contratar jogador, há um inchaço em todos os quadros do clube".

Próximos passos

"Agora é emergência, luta, muita calma, transmitir confiança ao elenco. Tem que definir quem são os atletas que têm que participar desses jogos, definir a formação titular, tem que ter uma ordem. Não vou fazer um tratado sobre futebol, porque sou cartola e cartola desprezível (risos). Quem tem que resolver isso são os profissionais".

Pressão no centenário

"Não pressiona, acho que não. Sou muito frio nessas circunstâncias. É um ano como qualquer outro. Claro que é uma marca, mas não significa que é uma obrigação. As circunstâncias que foram comprometendo o centenário são dos últimos anos, não são de agora. Foram deteriorando até chegar nesse momento. Nada começou no dia primeiro de janeiro. Talvez até algumas coisas que venham da minha presidência. O centenário talvez seja a vítima".

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.