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Grupo depositava dinheiro para Laor enquanto ele presidia Santos

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12/12/2014 11h46

 

Detalhe de comprovante de pagamento da Resgate Santista em nome de Laor

Detalhe de comprovante de pagamento da Resgate Santista em nome de Laor

 

Segunda parte de resumo de extrato bancário da Resgate com depósito em nome de Laor

Segunda parte de resumo de extrato bancário da Resgate com depósito em nome de Laor

Em novembro, durante entrevista ao diário "Lance!", Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro disse: "Nunca recebi dinheiro direta ou indiretamente". Ele negava que tivesse pedido a seus aliados salário para presidir o Santos. No entanto, nesta quinta-feira, o blog obteve com exclusividade documentos que mostram transferências bancárias feitas pelo Associação Movimento Resgate Santista para Laor entre 2010 e 2011. Nesse período, ele ocupava a presidência do clube.

Extratos de uma conta do grupo político no Banco Real-Santander mostram que em pelo menos cinco meses, entre 2010 e 2011, a associação depositou cerca R$ 25 mil mensais numa conta identificada com o nome de Luis Alvaro.

O ex-dirigente, porém, nega o recebimento. Ao blog, ele levantou a suspeita de uma armação para prejudicar Fernando Silva, ex-integrante da Resgate, como Laor, e que é um dos candidatos de oposição à presidência. Mas Marcos Zeli, que era diretor financeiro do grupo na ocasião, confirma a realização das transferências para Luis Alvaro, porém não sabe explicar a razão delas. Alega que não tomava deliberações, apenas cumpria o que era deliberado.

"Nunca recebi nada para dirigir o Santos, a Resgate nunca fez depósitos para mim", afirmou Laor. Ao ser informado que o blog teve acesso aos comprovantes das transferências, ele sugeriu o complô. "Enquanto fui presidente nomeei um procurador. Eu não mexia nas minhas contas. Não prova nada existirem depósitos em meu nome. Se alguém quiser prejudicar o Papa, por exemplo, vai lá e faz um depósito na conta dele. Sua Santidade nem deve mexer nas contas dela porque tem coisas mais importantes para fazer, como o presidente do Santos".

Mas Laor disse que teve outro tipo de ajuda da seus aliados na Vila Belmiro. "Como ia ficar em tempo integral no clube, pedi que eles me ajudassem arrumando trabalho para a minha empresa. Eles arrumaram. Acho estranho isso aparecer às vésperas da eleição, qualquer um pode ter feito isso para me prejudicar e prejudicar o Fernando Silva", declarou o ex-cartola. O ex-presidente apoia Silva na eleição deste sábado.

Durante a gestão de Luis Alvaro, conselheiros do clube afirmavam que ele recebia uma remuneração da Resgate para poder se dedicar integralmente ao clube. Aliás, essa é uma das discussões que embalam a disputa eleitoral. Existe uma corrente que defende que o presidente precisa estar com a vida ganha para poder se dedicar ao clube, pois o cargo não é remunerado.

Os documentos obtidos pelo blog mostram três transferências em fevereiro de 2010. Somadas, elas chegam a R$ 24.999,99. No mês seguinte, R$ 25 mil foram transferidos em duas operações de R$ 10 mil e outra de R$ 5 mil. Nos dias 1º e 6 de abril foram realizadas pela resgate duas Teds (Transferência Eletrônica Disponível) de R$ 18.000 e R$ 7.000 (R$ 25 mil no total) para conta identificada como sendo de Luis Alvaro.

Em março de 2011, no extrato da mesma conta da Resgate, Laor aparece como beneficiário de transferências de R$ 18.250, no dia 4, e de R$ 6.750, no dia 14. Elas foram registradas como comprovante de pagamento e, somadas, também atingem R$ 25 mil. Nos dias 6 e 11 de abril transferências nos mesmos valores se repetem para conta anotada com o nome de Laor.

Os documentos obtidos pelo blog mostram ainda que, entre janeiro de 2010 e maio de 2011, a Resgate fez outras dez operações que resultaram em transferências mensais no valor de R$ 25 mil para uma conta que não tem seu dono identificado.

Mensalidade

Os extratos indicam ainda que os membros da Resgate faziam contribuições mensais para o grupo político, que se esfacelou durante a administração de Laor e hoje apoia o oposicionista Orlando Rollo.

Entre os comprovantes de contribuição, aparecem membros do grupo que viraram funcionários do clube e pagavam os valores mais altos da relação obtida pelo blog: R$ 300 reais cada. São os casos do agora candidato Fernando Silva, que na ocasião era gerente de futebol do clube, Fábio Gonzalez, à época gerente jurídico, e Luiz Fernando Vela, que ocupava o posto de diretor de patrimônio do Santos.

"Sempre fiz as contribuições. Não era uma obrigação. Se não fizesse você não perdia nenhum direito. Existiam várias faixas e sempre optei pelo valor mais alto, mesmo antes de ser gerente. É um absurdo imaginar que porque era remunerado no clube tinha que dar dinheiro para o grupo pagar alguém. E nunca ouvi falar sobre remuneração para o Laor", disse Gonzalez.

"As doações, como em qualquer associação, tinham como objetivo mantê-la viva. Minhas contribuições foram as mesmas de sempre [R$ 300}. Não posso falar pelos demais", disse Fernando Silva.

O candidato também afirmou desconhecer pagamentos a Laor. "Mesmo porque jamais tive qualquer cargo diretivo na Resgate. Quem pode falar melhor sobre o assunto é o sr. Marcos Zeli, que foi diretor financeiro do partido e hoje está na chapa do Nabil [Khaznadar, candidato situacionista]", disse. Indagado se, caso vença a eleição, cogita encontrar uma fórmula para remunerar o presidente indiretamente, já que o estatuto não permite pagamento de salário, Silva afirmou: "Se for verdade [que Laor recebeu ajuda da Resgate], é algo condenável. Certamente não será uma prática da nossa gestão". Assim como Laor, ele não tem mais vínculo com o grupo político.

Fabio Vianna, atual presidente da Resgate, também disse que Zeli é quem sabe sobre o tema. "Na nossa gestão isso nunca aconteceu. É proibido", declarou Vianna.

Tanto os depósitos em nome de Laor quanto as contribuições feitas por funcionários do Santos ao grupo político não constituem ilegalidade ou ato lesivo ao clube.

Por sua vez, Zeli diz que fazia os depósitos para Luis Alvaro por determinação do partido. "E quem mandava na Resgate era o Fernando Silva, mesmo sem ser presidente. Ele deliberou [os pagamentos] e eu cumpri o que foi determinado", rebateu o ex-diretor financeiro.

Veja abaixo os documentos que mostram transferências da Resgate para conta identificada como sendo de Laor.

 

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.