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Como a briga entre Corinthians e construtora de estádio ficou insustentável

Perrone

13/02/2015 06h00

Pelo menos desde 2013, Corinthians e Odebrecht rosnam um para o outro. Nos bastidores, o tom bélico entre as duas partes aumentou na mesma proporção em que cresceram os problemas relacionados ao estádio do clube. Assim, 2015 começou com a relação entre os parceiros por um fio. Advogados das duas partes acompanham cada passo nos bastidores. O caldo só não entornou de vez porque Andés Sanchez, apesar de brigar internamente, tem se mostrado contrário a uma ação na Justiça.

Falta de dinheiro para tocar a obra, seguidos atrasos na conclusão da arena e a impossibilidade de o Corinthians explorar todas as receitas de seu estádio estão no centro do atrito. Apesar da tensão, as duas partes negam publicamente o desentendimento. Tanto que não responderam as perguntas feitas pelo blog.

Episódio fundamental para a compreensão da crise aconteceu no segundo semestre de 2013. Na ocasião, alegando que o custo das obras tinha estourado e que precisava de mais dinheiro, a Odebrecht pediu um aditamento do contrato. A medida aumentaria o valor da construção e, consequentemente, a dívida do clube com a construtora.

A direção alvinegra respondeu na ocasião que aceitaria rever o contrato se fosse feita uma auditoria externa para averiguar quanto já havia sido gasto na obra. De acordo com duas fontes ligadas ao clube, houve uma divergência milionária entre o cálculo dos auditores e da Odebrecht. Pelas contas da auditoria, a construtora gastou menos do que na soma feita pela empreiteira.

A discussão se arrastou por meses, mas um termo aditivo foi assinado. Ao blog, a assessoria de imprensa da Odebrecht disse que não pode falar sobre assuntos referentes ao estádio. Só o Corinthians tem esse poder, segundo o departamento de comunicação da empresa.

Enquanto discutiam valores, os corintianos perdiam o sono com os atrasos no palco de abertura da Copa do Mundo. A ponta de vidro da cobertura da arena, por exemplo, não ficou pronta, fazendo com que torcedores que compraram ingressos dos mais caros se molhassem em dias de chuva. Como bombeiro, Andrés deu entrevista alegando que o problema foi provocado porque não havia no Brasil quem produzisse vidros com as especificações exigidas que não fossem esverdeados.

De atraso em atraso, a conclusão do projeto passou de janeiro de 2015 para abril do mesmo ano. Representantes do Corinthians desandaram a reclamar de que sem camarotes, restaurante e outras propriedades prontas, o clube não poderia explorar todo o potencial de receita da arena. Dessa forma, teria dificuldades para pagar pela construção.

Pior, alegam os corintianos nos bastidores, o estádio não está ficando exatamente como o clube queria. Alguns materiais de acabamento são inferiores aos desejados e algumas obras teriam deixado de ser feitas, algo que oficialmente sempre foi negado pelas duas partes.

As reclamações irritaram a direção da Odebrecht, conforme apurou o blog com pessoas que acompanham as discussões. A primeira resposta aos corintianos foi alegar que atrasos e aumento dos custos aconteceram pela demora na liberação do financiamento do BNDES com a consequente necessidade de empréstimos com juros. Mas, conforme o blog apurou no mercado, funcionários da Odebrecht passaram a criticar os corintianos por passarem a maior parte do tempo tentando vender camarotes, naming rights e outras propriedades sem a ajuda de uma empresa especializada.

Nesse tiroteio, virou comum ouvir a justificativa de que obras incompletas não atrapalham as vendas. Isso porque a WTorre contou com a ajuda especializada e conseguiu negociar camarotes e o nome do estádio palmeirense ainda durante a construção.

Outra crítica nos bastidores foi disparada, segundo apuração do blog, na direção de Aníbal Coutinho, arquiteto que projetou o estádio e é descrito na construtora como inflexível por não aceitar algumas mudanças provocadas pela situação financeira de quem ainda não conseguiu nem vender os Cids liberados pela prefeitura. São os certificados de incentivo emitidos pelo município que podem ser usados por quem compra  para abater impostos.

Nesse cenário, há uma divisão no lado corintiano entre os que defendem medidas mais duras contra a Odebrecht imediatamente para assegurar a execução das obras exatamente como o clube planejou e a turma que acredita que a hora (ainda) não chegou. Enquanto isso, o tempo passa, e a dificuldade para pagar a obra aumenta.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.