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Ex-presidente do Palmeiras vai à Justiça contra quem o investigou no clube

Perrone

28/02/2015 06h00

Investigado por uma comissão de sindicância que pediu sua suspensão no Palmeiras por um ano, Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do clube entre 2010 e 2011, foi à Justiça. Ele ajuizou um pedido de explicações contra Flávio Luiz Amadei, que comandou o grupo responsável pelas investigações. Os trabalhos também analisaram parte da gestão de Arnaldo Tirone.

Belluzzo alega na Justiça que o relatório da comissão de sindicância faz afirmações que podem configurar crime contra a sua honra. Por isso pede explicações. Dependendo do que Amadei responder, o ex-cartola entrará com uma queixa crime.

Na Justiça, o ex-presidente quer saber o nome de todos os integrantes da comissão de sindicância, as normas contábeis que ele é acusado de desrespeitar, os impostos que teriam sido recolhidos na fonte e não pagos, os elementos que levaram a comissão a recomendar o envio do caso para o Ministério Público e o que o relatório entende como gestão temerária, entre outros pedidos.

Durante as investigações, o ex-presidente se recusou a depor na comissão de sindicância, que fala até em supostas irregularidades na contratação de Valdivia, como mostra documento anexado à ação e exibido pelo blog no final do post.

Belluzzo e Amadei foram entrevistados pelo blog. Leia a seguir.

Entrevista com Luiz Gonazaga Belluzzo.

Por que decidiu questionar o presidente da comissão de sindicância na Justiça?

Porque eles resolveram fazer a sindicância sobre algo que já prescreveu. Só poderiam fazer até dois anos depois da minha gestão, fizeram quatro anos depois. Na véspera da eleição (em que Paulo Nobre foi reeleito. Beluzzo era candidato à vice na chapa da oposição). Todos os pontos que eles tocaram são ineptos, coisa típica de clube de futebol. Vamos ver se eles falam alguma coisa ou se vão insistir com isso. Se insistirem, vou entrar com um processo por calúnia e difamação. Claro que não cometi nenhuma irregularidade.

 

O senhor entende que a sindicância teve motivação apenas política?

O (Antônio Augusto) Pompeu resolveu ressuscitar essa comissão depois que o Wlademir Pescarmona me pediu para ser candidato à vice, Não tenho nenhum interesse na política do clube. Já fiz o que tinha que fazer. Não pretendo me promover à custa de nada, muito menos à custa do meu clube. E você não frequenta lá, não sabe como está. Não dá mais para frequentar o clube.

Por quê?

Porque as pessoas não se comportam de maneira civilizada. Não estou falando dos meus amigos, mas da política.

O senhor é ofendido quando vai lá?

Não me ofendem porque não sou o Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda). Com 72 anos, se falarem alguma coisa pra mim vou tomar providência. Nunca xinguei ninguém, não gosto de intrigas. E aí, quando saí candidato, ressuscitaram essa comissão de sindicância.

O relatório da comissão arranhou sua imagem? Esse foi um dos motivos para o senhor ir à Justiça?

Não acho que minha imagem foi arranhada porque ninguém leva isso a sério. Acham piada, mas se não reage, acham que você admite. Estatutariamente, não cometi nenhuma irregularidade e respondi a todas as acusações deles numa carta, com educação.

Mas por que o senhor não foi depor na comissão?

Não faz sentido ir lá. Não vou ficar me aborrecendo. Respondi que não iria porque estavam praticando difamação. Lá tem gente que falava que o estádio nunca ficaria pronto. Você acha que eu posso ir num lugar desses? Tem gente lá que fala pra mim que o estádio não é nosso. Fizemos uma concessão de uso pra quem botou o dinheiro na obra. Fiz o melhor negócio possível para o clube. Você acha que conseguimos 90 mil sócios porque o time é formidável? Não, é porque gostaram do estádio. Falo para os que falaram que o estádio não sairia do papel: 'o que estou vendo, é uma miragem?' Alguns ficam rangendo os dentes pra mim por causa do estádio, só posso me divertir com isso. Não dá para ir num lugar assim.

Entrevista com Luiz Flavio Amadei, presidente da comissão de sindicância.

O senhor já respondeu às perguntas feitas pelo Belluzzo na Justiça?

A ação não é contra mim, não pode ser contra mim. É contra a comissão, então quem está preparando a resposta e pode te dar detalhes é o departamento jurídico do Palmeiras.

Mas só o senhor foi citado na Justiça.

É porque é mais fácil pegar um nome qualquer do que citar o Palmeiras.

Belluzzo alega que a comissão pode ter cometido crime de difamação.

Claro que não cometeu. É uma coisa óbvia. Uma comissão de sindicância nunca vai cometer crime de difamação porque ela age de acordo com documentos. Ele tem todo direito de ir à Justiça, agora que mostre as provas que ele tem. Nós temos documentos, fizemos tudo de acordo com documentos que levantamos. Ele pode ter o entendimento que quiser, e a Justiça vai ter o entendimento dela. Foi uma comissão administrativa, interna, não tem nada a ver com falar da honestidade, da idoneidade dele. Só seguimos o que diz o estatuto do Palmeiras. Recomendamos a suspensão dele por um ano. Agora o conselho vai se reunir e analisar se segue ou não a nossa recomendação.

Para o ex-presidente, a sindicância foi aberta por razões políticas. O que o senhor acha disso?

Ele alega que a motivação foi política, mas a sindicância começou dois anos antes (do período eleitoral). Só teve comissão porque as contas dele foram rejeitas pelo Conselho Deliberativo.

Veja abaixo documentos relativos ao processo.

 

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Abaixo, o que Belluzzo pede.

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Abaixo, trecho do relatório da sindicância que cita comissão paga na compra de Valdivia.

Trecho de relatório da comissão de sindicância que cita contrato de comissão na compra de Valdivia

 

Trecho em que Belluzzo se defende de suposta irregularidade na contratação de Valdivia em carta enviada à comissão de sindicância.

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Parte do relatório da comissão de sindicância que aponta gestão temerária.

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Também em carta à comissão de sindicância, Belluzzo se defende da acusação de ter causado dano ao clube rompendo com a ex-patrocinadora Samsung.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.