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Promotor explica torcida única: 'estou farto das atitudes das organizadas'

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06/02/2015 06h00

Entrevista com o promotor Paulo Sergio de Castilho (Juizado Especial Criminal). Com Roberto Senise, da promotoria do Consumidor, ele pediu para a Federação Paulista autorizar a venda de ingressos apenas para a torcida do Palmeiras no clássico de domingo com o Corinthians, no Allianz Parque. A FPF disse ser contra a medida, mas atendeu à recomendação.

 

A decisão de pedir torcida única no jogo entre Palmeiras e Corinthians valerá também para os demais clássicos no Estado?

Não, essa é a decisão atual, tomada após a morte de um torcedor corintiano [na semana retrasada), trocas de ofensas e ameaças na internet. Mas o presidente do Corinthians [Mário Gobbi] pediu que, se o jogo de domingo fosse com uma só torcida, os outros clássicos também fossem. [Após a entrevista ficou decidido que se os dois times se enfrentarem na semifinal do Estadual na arena do Corinthians também não haverá visitante.] Não sou contra torcida visitante em clássico, mas quero pulverizar os ingressos, não quero deixar só com as organizadas. A minha ideia é discutir com os clubes uma forma de vender os ingressos de visitantes para associações, como associações de policiais militares, professores, jornalistas, e de doar as entradas para escolas. Assim você tira do estádio em dia de clássico as torcidas organizadas que só vão para brigar. Elas não trazem nada de positivo para o futebol, só levam violência e medo. Vou te dar uma informação. Sabe por qual motivo as organizadas se revoltam quando não podem ir a um jogo?

Qual?

Elas não estão preocupadas com o jogo. Estão preocupadas com as caravanas que não vão poder organizar. Caravana é a maior fonte de receita delas. Eles deixam de ganhar com o ônibus que superfaturam, com a revenda de ingressos que pegam nos clubes. Esse é o motivo. E os que vão só querem arrumar confusão.

A nova medida é um sinal de que o Ministério Público vai ser mais duro com as organizadas?

É. Não sou eu mais que tenho que confiar na palavra deles. Eles é que precisam provar que merecem ir aos jogos. O futebol sobrevive melhor sem eles. As organizadas dão prejuízo para o futebol e querem mandar até nos presidentes de clubes. Os presidentes têm medo deles. Estou farto do comportamento deles [integrantes das organizadas]

Qual sua opinião sobre os que dizem que optar por torcida única é uma confissão do Estado de que não tem condições de cuidar da segurança em dia de clássicos?

O Estado tem condições. Coloca dez mil homens [policiais] lá e está feita a segurança. Mas a sociedade está disposta a pagar esse preço? Ter esse gasto e ainda ver os torcedores brigando na rua, no metrô? Não é assim que funciona, o Estado tem outras coisas para cuidar. Então, não dá para o Estado gastar dinheiro privilegiando com escolta pessoas que querem ir ao estádio para brigar. Eles [membros de organizadas do Corinthians] estão prometendo protestar fazendo baderna no dia do jogo se não puderem entrar. Mais uma prova de que não merecem ir.

Não é uma conclusão tardia?

Não é tardia. Faz dez anos que estou tentando conscientizar esses jovens. Fizemos todo o trabalho que precisava ser feito. Conscientização, reuniões, inquéritos, prisões. Infelizmente eles estão cada vez mais abusados, desafiando a sociedade. Nem a psicologia explica isso. Individualmente, eles são pessoas normais, vão trabalhar sem arrumar confusão. Quando se juntam, perdem a identidade e saem quebrando tudo, matando, agindo como organizações criminosas. Não sou contra as organizadas, gosto de algumas pessoas delas, mas não concordo com a atitude delas em bloco. Não sou político, não estou preocupado com o que a imprensa fala, só quero fazer meu trabalho. Antes de pendurar as chuteiras quero dar minha contribuição, que é resolver isso.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.