Topo

Perrone

Clássico do Morumbi é retrato dos gastões que se afundaram em dívidas

Perrone

08/03/2015 11h00

O clássico entre Corinthians e São Paulo, neste domingo, no Morumbi, é um retrato do buraco em que se enfiou a maioria dos times brasileiros. Fotografia de clubes que esbanjaram dinheiro, se afundaram em dívidas, continuaram gastando, e agora falam em cortes.

Tanto que duas das maiores equipes do país se enfrentam num momento em que sofrem para remunerar em dia seus jogadores. O São Paulo tem pelo menos um mês de imagem atrasado, além de premiações ainda não pagas. Pelo menos parte dos jogadores corintianos também tem no mínimo um mês de direitos de imagem atrasados. O alvinegro ainda deve os tubos para empresários de seus atletas. Como para os agentes de Ralf, que cobram R$ 2,7 milhões na Justiça e agora tentam um acordo.

Mas quem simboliza mais o fundo do poço corintiano não estará em campo hoje e agora defende a camisa do rival: Alexandre Pato. O atacante foi contratado por cerca de R$ 40 milhões pouco depois de o clube fechar 2012 com uma dívida de R$ 177 milhões. Em dezembro do ano passado, após muita gastança, o débito chegou a R$ 313,5 milhões. Torrar R$ 4,8 milhões para Pato vestir a camisa tricolor por um ano ajudou no aumento dessa dívida. Assim como aumentou o buraco pagar comissão até para empresário de jogador que renova contrato, caso de Carlos Leite, agente de Cássio. E para a empresa que intermediou a troca de Pato por Jadson, a Think Ball, que cuida da carreira do ex-são-paulino.

Do lado tricolor, também teve contratação milionária. Em 2012, o clube pagou R$ 16,4 milhões por por 32% dos direitos econômicos de Ganso. Mesmo com o gasto, o São Paulo fechou aquele ano com superávit de R$ 826 mil. Cerca de dois anos depois, o atual presidente Carlos Miguel Aidar anunciou que assumiu o clube numa situação caótica. Revelou uma dívida de R$ 109 milhões só com instituições bancárias.

"O São Paulo é um clube viável? É. Mas gastou mais do que podia. Eu estou fazendo milagre. Pago R$ 2,3 milhões por mês de juros bancários", disse Aidar, na ocasião, à Folha de S.Paulo.. Por causa dos débitos, ele anunciou cortes de despesas e demissões. Assim como o novo presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, que demitiu até o coordenador-técnico das vencedoras categorias de base do clube sob a justificativa de precisar reduzir gastos.

Enquanto os corintianos se acostumaram nos últimos anos a fatiar seus atletas e até a pegar dinheiro emprestado com empresários, Aidar propôs uma medida mais dramática: antecipar dez anos de bilheteria. Uma empresa pagaria o valor médio arrecadado anualmente pelo clube, que usaria o dinheiro para quitar dívidas bancárias. Nos dez anos seguintes, a receita de venda de ingressos ficaria com a parceira. A oposição reagiu contra a ideia, que até agora não saiu do papel.

Assim, com os dois clubes devendo para atletas, empresários e bancos e tentando antecipar até o que não é receita garantida para sobreviver, o Majestoso deste domingo bem que poderia ser chamado de o Clássico dos Enforcados.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.