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'Vi contratações piores que a do Wesley no Palmeiras', diz ex-presidente

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09/03/2015 07h13

Leia abaixo entrevista concedida ao blog por Arnaldo Tirone, ex-presidente do Palmeiras.

O senhor disse no COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) que não pediu para Antenor Angeloni (empresário e presidente do Criciúma) assinar a garantia bancária dada ao Werder Bremen para o Palmeiras contratar Wesley?

Nunca pedi nada pra ele. O MOP (sistema pelo qual torcedores ajudariam na compra do volante), para poder operar, tinha que estar com o jogador no nome do Palmeiras. Mas o clube não tinha as garantias que o Werder Bremen pedia. Então ,ele [Angeloni] foi lá e deu a garantia. Mas não temos nenhum documento lá disso, não tem nada assinado. Ele fez isso visando ter lucro com o jogador.

Muitos conselheiros, torcedores e alguns jornalistas consideram que a compra do Wesley foi a pior contratação da história do Palmeiras. O jogador custou R$ 23 milhões (Angeloni cobra cerca de R$ 20 milhões na Justiça alegando que pagou ao Werder Bremen e não foi ressarcido) e saiu de graça para o São Paulo porque seu contrato acabou. Concorda que foi o pior negócio?

Não concordo. Na época ele tinha ido muito bem no Santos, saiu muito bem pra Alemanha. O Palmeiras não tinha condições de contratar o jogador, então tentou o Mop. Não concordo mesmo que foi o pior negócio de todos os tempos. O jogador foi muito bem até por um período na gestão do atual presidente. Foi muito bem na Série B. No ano passado, ele foi bem até a metade da temporada, depois, fizeram muita polêmica, começaram a falar que foi a pior negociação de todos os tempos e acho que isso deu uma desanimada nele. A indecisão sobre ele renovar acho que também atrapalhou um pouco. Mas não concordo que foi a pior contratação.

Viu contratações piores no Palmeiras?

Vi, mas não vou dizer nomes, não vou ficar falando.

O senhor acha que na época o Wesley valia mais de R$ 20 milhões?

Não acho que valia. A primeira vez me ofereceram, em 2011, ele viria por empréstimo com parte do valor do passe mas o clube endureceu e quis só vender, daí desistimos. Em 2012, ofereceram o jogador, um investidor traria, mas na hora roeu a corda, e aí pareceram essas pessoas do MOP que tinham negócio montado no São Paulo e que não deu certo. Daí trouxeram a ideia pro Palmeiras, e nós tentamos.

Então o senhor achava que não valia mais de R$ 20 milhões, mas contratou?

Não é que não valia, é que o Palmeiras não tinha esse dinheiro. O problema foi a crença de que o negócio vingaria, mas não vingou. A gente acreditava que a torcida iria abraçar a ideia do MOP, mas não abraçou. Naquele momento o departamento de futebol achou que era importante para o time.

O Palmeiras deveria ter renovado com o Wesley?

Não sei o que aconteceu, não falei com o Wesley pra saber porque ele não renovou. Então, não quero entrar nesse mérito.

O senhor se arrepende de ter contratado Wesley?

Não me arrependo. Achei que era correto, na vida não acertamos tudo. Naquele momento fizemos a coisa certa. Wesley não deu certo em termos porque foi muito aproveitado pelo time.

O Palmeiras não deve pagar o que o Angeloni pede na Justiça?

É uma questão jurídica, acho que o Palmeiras tem que brigar pelos direitos dele. Tem que analisar tudo com calma.

Incomoda quando dizem que foi a pior contratação da história?

Não fico muito confortável, não me deixa satisfeito porque a história sempre tem dois lados. Alguma pessoas entendem que foi a pior, outras não. Tem outros jogadores que acho que não foram bons para o Palmeiras. Pro clube, cada um tem uma maneira de justificar o que não dá certo. Quem contratou não fui eu, foi o Palmeiras, por solicitação da comissão técnica. Existia uma grande solicitação da torcida. O Wesley era importante para o meio do Palmeiras. O time precisava se reforçar. No primeiro ano da minha gestão, quando vi que o time estava indo falei não vou fazer movimento grande para não onerar mais o clube. No segundo ano, achei que tinha quer reforçar o time. Tanto que contratamos o Henrique e deu lucro, falavam que era mau negócio e não foi. Só não vendemos o Barcos na minha gestão porque achamos que precisávamos dele pra fazer gols. Depois, ele saiu para o Grêmio num negócio com seis jogadores, que não sei como foi feito.

Estão colocando um carimbo na sua testa de pior negociação da história por questões políticas?

Podem colocar carimbo numa porção de coisas que possam acontecer no Palmeiras. O dirigente não acerta em tudo. Quando fui campeão da Copa do Brasil fui carimbado como campeão e depois como rebaixado. Agora é melhor tentar acertar do que não fazer nada. E a torcida pediu o jogador. O Wesley naquele momento tinha um apelo, então fizemos o que deveríamos fazer. Não ficaria de braços cruzados.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.