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Criticado, empresário diz que Tite errou com Malcom, Petros e Uendel

Perrone

13/05/2015 06h00

A diretoria do Corinthians está incomodada com o empresário Fernando Garcia, agente de Malcom, Petros e Uendel, entre outros jogadores do clube. A avaliação é de que vira e mexe sai alguma notícia na imprensa envolvendo o agente e seus atletas e que acaba provocando polêmica no alvinegro.

Segundo um membro da diretoria, no último domingo, a direção pediu que Garcia evitasse novas declarações que pudessem fazer estardalhaço. Porém, no dia seguinte, ele falou ao UOL Esporte sobre a possibilidade de Petros trocar o Corinthians pelo Flamengo, aumentando o desconforto entre os cartolas corintianos.

Ao blog, Garcia, que é conselheiro licenciado do clube, negou que tenha recebido pedido para evitar novas declarações. Falou também sobre injustiças que Tite teria cometido com Petros, Uendel e Malcom. E ainda comentou a respeito dos empréstimos que fez ao clube. Leia abaixo a entrevista.

No domingo, a diretoria pediu para você não falar mais em público sobre as possíveis saídas de seus jogadores?

Não, ninguém pediu porque eu não falo nada em público.

Mas você falou do Petros, por exemplo.

Dei entrevista para um colega seu e disse que se o Petros tiver que sair do Corinthians a preferência dele é pelo Flamengo. Não disse que ele quer ir para o Flamengo. E nunca escondi nada, falo sempre com o Andrés Sanchez que é um grande amigo. Ele sabe do interesse do Flamengo no Petros, que não é de hoje. Há muito tempo o Flamengo quer.

Mas algumas pessoas no Corinthians estão incomodadas com declarações que você dá sobre a possível saída dos jogadores que você agencia e tem participação nos direitos econômicos. Como no caso do Petros, por não estar sendo muito aproveitado pelo técnico.

Respeito o Tite, mas não preciso ser cordeiro. Ele põe quem ele quiser pra jogar, e eu tenho o direito de discordar. O Petros é um dos jogadores mais dinâmicos do Brasil e do mundo. Ele foi o maior ladrão de bola do Corinthians no ano passado. Roubou duas vezes mais bolas do que o segundo colocado. Deu o dobro de passes certos que o segundo colocado. Fez uma bela campanha no ano passado, mas começou este ano no banco. O Mano gostava, o Tite não aprecia tanto o futebol dele. Agora tem outros que gostam, tanto que de dez telefonemas que recebo dois são para saber do Petros.

Além do Flamengo, existem outros interessados?

Em dois ou três dias devo receber um papel de fora do país. Se o Corinthians gostar fazemos negócio. Se não gostar, não fazemos.

De onde?

Não posso falar porque pode não chegar.

Também teve um problema com o Malcom. Você teria dito que tinha desistido de renovar porque ele não tinha espaço no time.

Não foi isso. Antes de assinar o contrato eu disse que queria conversar com o Andrés. Acho que o Sérgio (Janikian, diretor de futebol) não gostou, mas o Andrés (superintendente de futebol) é hierarquicamente superior a ele. Conversei com o Andrés e o Edu, depois renovamos. Acho o Malcom um dos melhores atacantes do Corinthians depois do Guerrero. Só que não dão continuidade para ele. É uma sacanagem não dar chance para o garoto. Agora começaram a dar.

Você não quis dizer que o Tite sacaneia o jogador por algum motivo que nada tem a ver com o desempenho dele, quis?

Não. O Tite é sério, é uma das pessoas mais dignas do futebol brasileiro. Falei sacanagem usando o termo de maneira popular. Agora, a titularidade é subjetiva. Eu não concordo com o Uendel ir para o banco perdendo a posição para o Fábio Santos. Se ele estivesse jogando mal, mas não estava, então não se justifica a saída do Uendel.

Na minha opinião, o Uendel também não merecia ter saído.

Sabe o que é engraçado? Tenho jogadores em muitos clubes. Mas só dá fofoca no Corinthians. Tenho o Giovanni e o Marlone no Fluminense. Acabei de levar uma proposta do exterior para o Marlone, eles estão estudando, e ninguém falou nada. No Corinthians, tudo sai na imprensa. Qualquer discussão, dizem que foi briga. Discutir é normal. Sou um grande amigo do Andrés, mas a gente discute. Ele defende o clube e eu defendo meus clientes.

Por falar em defender seus clientes, alguns colegas seus de Conselho Deliberativo do clube criticam o fato de você só ter se licenciado como conselheiro em fevereiro deste ano. Não acha que deveria ter feito isso antes por ter que defender seus jogadores, não o clube?

Meus colegas não me criticaram, não. Não me licenciei antes porque nem imaginava que o estatuto do clube proibia conselheiro de fazer negócios com o Corinthians.

Mas não é impossível conciliar as duas funções?

Não, tanto é que como pessoa física emprestei dinheiro para o Corinthians. Minha empresa nunca emprestou. Agora se todo conselheiro ajudasse como ajudei, emprestando dinheiro, o clube não estaria na situação financeira em que está.

Será que mudaria muito? O clube teria que pagar do mesmo jeito.

Tem que pagar, mas tem que pagar pro banco também. Só que nem um conselheiro quer emprestar. Emprestei bastante dinheiro quando o Andrés, meu amigo de quinhentos anos, assumiu. E meu irmão (Paulo Garcia) tinha perdido a eleição para ele. Eu não tinha nenhuma relação com o clube e emprestei. Porque os outros não ajudam também?

Você fala ajudar, mas não é doação. É empréstimo, com juros, não?

Sim, ninguém faz doação. Mas emprestar ninguém quer.

E o clube ainda te deve, mas não dá época do Andrés, certo?

Deve, outros empréstimos. Do Andrés foi tudo pago.

Você conhece bem a situação do Corinthians. Acha que será preciso vender muitos jogadores no segundo semestre por causa da crise financeira?

Não acho porque o Corinthians tem muitas receitas. O problema é que foi mal gerido na administração anterior, com contratações caras. Andrés deixou o clube com caixa e faixa. O Corinthians não era nada sem o Andrés, não tinha CT, não tinha estádio. Ele fez o que todos falavam e não faziam.

O Corinthians era nada? Já tinha toda a sua história.

Tinha história, mas não tinha histórico. O Andrés fez um grande time, o melhor CT do Brasil, o melhor estádio. Ruim foi ele ter saído por causa estatuto que não permite reeleição.

Correção

Na primeira versão do post, por um erro, foi escrito Paulo Garcia, irmão do empresário de jogadores, no lugar de Fernando Garcia, o nome correto.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.