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O Homem do Chapéu. Veja quem é e o que promete candidato opositor no SPFC

Perrone

24/10/2015 06h00

Você já ouviu falar no "Homem do Chapéu"? Talvez já o tenha visto no horário eleitoral de 2014. Foi candidato a deputado federal pelo PSDB-SP. Era daqueles personagens que se destacam pelo visual, pelo apelido, pelo slogan, pelas propostas ou por tudo isso junto.

Ele, que se chama Newton Luiz Ferreira, dizia antes de bater na mesa: "abrirei mão do meu salário de deputado, mas jamais abrirei mão das minhas convicções e do meu chapéu". E tinha propostas como tornar inelegível o presidente da República que aumentasse a dívida pública, privatizar os presídios para os presos pagarem sua estada nas penitenciárias com o dinheiro de seu trabalho e piso salarial de R$ 3.620 para professores e policiais.

O eleitor não se sensibilizou com suas palavras (foram só 2.702 votos). Agora, Newton do Chapéu, 57,  como é conhecido no Morumbi, é o candidato de oposição ao presidente interino do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, na eleição da próxima terça.

Entre seus planos está colocar como vice de futebol Márcio Aranha, que dirigiu o departamento em parte dos anos 1990. Leia abaixo entrevista concedia ao blog por Newton, considerado também por eleitores de Leco um dos importantes soldados na batalha contra o ex-presidente Carlos Miguel Aidar, assinando vários pedidos de explicações e sendo atuante nas reuniões do Conselho Deliberativo.

Se o senhor for eleito, dentro das possibilidades financeiras, quem contrataria?

Tudo vai depender do julgamento do caso Iago (o São Paulo pode ser punido com a proibição de registrar novos jogadores por até dois anos). Hoje, o Pato seria um jogador, que, se o clube tivesse dinheiro, poderíamos tentar comprar. Mas a torcida que não tenha muitas expectativas a curto prazo porque é hora de arrumar a casa. Não adianta falar da cor do telhado sem cuidar da estrutura primeiro. Não podemos mais atrasar direitos de imagem, nunca. E temos um plantel grande, categorias de base boas, teremos que recorrer a elas, principalmente se formos punidos. Temos uns 70 jogadores, não é possível que não dê pra montar um time competitivo. Serão tempos duros.

E o Luis Fabiano, renovaria com ele?

Luis Fabiano precisa de motivação. Se eu ganhar, ele será uma prioridade. No dia seguinte vou pedir para o vice de futebol conversar com o Luis para abrir uma negociação não só técnica. Futebolística também. O problema é que ele e o Ganso foram muito cobrados. Você precisa dar estrutura para o jogador. Esses problemas que o São Paulo enfrentou desmotivam o atleta. Então, eles precisam de ajuda, precisam de pessoas experientes por perto, acho que seria bom ter um motivador profissional.

Se o senhor ganhar, o vice de futebol vai continuar sendo Ataíde Gil Guerreiro.

Não. Vou convidar o Márcio Aranha. Se eu ganhar vou entregar o futebol para o Fernando Casal De Rey e ele já indicou o Márcio. Não faz sentido ex-presidente ter cargo, então o Fernando não vai ter. Mas vou ouvir o que ele falar que deve ser feito no futebol. Vai estar nas mãos dele. Vou aproveitar cada membro do Conselho Consultivo, como ele. Vou buscar orientações com cada um na área em que são especialistas.

Não quero ligar uma coisa à outra, mas o senhor é casado com a filha do De Rey?

Sim, é uma grande honra ser genro dele. Mas minha trajetória política no São Paulo não tem vínculo com ele, não tem apadrinhamento. Eu já era da oposição quando conheci a mulher maravilhosa com quem casei.

O senhor manteria o Doriva?

Delegaria essa missão ao vice de futebol e ao Fernando. Eles teriam que sentir. Toda essa situação do São Paulo tem influência no time. Agora, é óbvio que essas três derrotas não são alentadoras.

Quais serão suas prioridades, se for eleito, além da conversa com Luis Fabiano?

A prioridade seria tomar pé da verdadeira situação do São Paulo. Por exemplo, ouvi dizer que já antecipamos toda a cota de TV de 2016, preciso saber se isso é verdade. Depois disso, voltar com o aspecto moral e ético, nosso clube sempre foi reconhecido dessa forma. Posteriormente, buscar uma conciliação em relação à ação na Justiça que dura 13 anos e que contesta mudanças estatutárias. Outra coisa é apurar os fatos que aconteceram na última gestão. Já encaminhamos o caso da briga entre [Carlos Miguel] Aidar e Ataíde Gil [Guerreiro] para a comissão de ética do conselho deliberativo. Vamos melhorar a nossa relação com Corinthians, Palmeiras e Santos. Aceitaremos de imediato a contratação de uma auditoria oferecida pelo Abilio Diniz. Vamos analisar como adequar receitas e despesas. Hoje temos duas instituições interessadas em disponibilizar dinheiro para alongarmos nossa dívida, uma inglesa e outra brasileira. Tem uma construtora que refez o projeto de cobertura do Morumbi. Vamos conversar. No futebol, teremos pessoas experientes e vencedoras.

Essas instituições querem emprestar dinheiro para o clube, certo? Quanto?

Isso, mas existem várias formas de empréstimo. A instituição inglesa, fala entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões.

O senhor falou em melhorar relação com os rivais. Significa que não vai contratar jogadores dos outros grandes paulistas sem um acordo, como foi o caso do Alan Kardec com o Palmeiras?

Se quiser contratar, tem que ser respeitando o outro clube, não pode desrespeitar o trabalho do outro presidente. Nosso clube acabou virando motivo de chacota no caso com o Palmeiras.

Chacota?

É. Nosso ex-presidente falou uma coisa, o do Palmeiras respondeu. Não foi legal. Isso não pode acontecer. [Nota do blog: Aidar disse que o rival estava se apequenando. Torcedores palmeirenses fizeram piada com isso no auge da crise administrativa que o São Paulo viveu com o presidente que renunciou).

Sua campanha para deputado federal foi feita com R$ 72.790 (R$ 290 reais vieram do partido e o restante do próprio candidato). A campanha no São Paulo vai custar mais?

Não, no São Paulo só gastei o anúncio no jornal que o estatuto manda fazer. Espero que meu concorrente também tenha usado o próprio dinheiro, não o do clube, já que ele é o atual presidente. Seria um mal sinal, mas tenho certeza quase absoluta que ele pagou do bolso dele. Agora, minha campanha para deputado, tive só três meses para fazer. E me disseram no PSDB, partido ao qual eu era filiado, que uma campanha se fazia com R$ 5 milhões. Achei um despropósito e fiz uma campanha só entre amigos. Foi um treino para voltar a me candidatar em 2018. Mas isso pode ser adiado, dependendo do que acontecer no São Paulo.

Verdade que o senhor diz que quer ser presidente da República?

Eu estava brincando com o Marco Aurélio Cunha, num dia em que a gente ficou de madrugada numa festa na casa do Dorival (Decoussau, ex-diretor do clube). Ele falou que queria ser presidente do São Paulo, eu disse: "desejo ser presidente da República". Foi uma brincadeira, a gente tinha bebido uísque.

E por que usou "Newton, o Homem do Chapéu" na campanha?

Minha equipe de marketing achou que seria difícil o eleitor decorar meu nome. Como sempre usei chapéu (tem uma coleção com cerca de 30) eles acharam que seria mais marcante. E no clube também sempre me chamaram de Newton do Chapéu.

O senhor começou a ficar conhecido no São Paulo no futebol social, patrocinando times?

Fui técnico no campeonato interno. Fui campeão quatro vezes. Patrocinar, na verdade é dar o uniforme. Hoje não comando mais nenhuma equipe, mas dou as camisas para três. Minha empresa não ganha nada com isso.

Qual o ramo da sua empresa (a Nework)?

Ventiladores industriais, para computadores, para máquinas.

Para quem o Homem do Chapéu tira o chapéu no São Paulo?

Para todos que ajudaram o São Paulo a ser o que é (citou uma série de ex-dirigentes).

E para quem não tira?

Para os que denegriram a imagem do São Paulo. Falando em termos mais recentes, para os integrantes da gestão anterior. Não só o presidente, mas todos que desgastaram a imagem do São Paulo.

O senhor se considera um milionário excêntrico como alguns dizem no clube?

Não. Primeiro, porque não sou milionário. Preciso trabalhar. Quanto à excentricidade, essa história surgiu porque não tenho rabo preso com ninguém.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.