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Por que o Corinthians atrasa pagamentos em ano de receita recorde?

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21/12/2016 07h59

Como pode um clube quebrar recorde de receitas e atrasar uma série de pagamentos na mesma temporada? Essa é a situação do Corinthians em 2016. A resposta, segundo Emerson Piovezan, diretor de futebol, passa por dívidas herdadas da gestão anterior, do mesmo grupo político atualmente no poder, pelos gastos com contratações e calotes dados por outros times.

"Não tenho dificuldade para explicar isso. Simplesmente, pegamos o clube (no início de 2015) com problemas enormes. Nessa época do ano passado ainda tínhamos R$ 5 milhões para pagar da compra do Pato. Tivemos um grande aumento nas receitas, mas a herança de dívidas também era grande. Assumimos com cerca de R$ 120 milhões em dívidas (a curto prazo) e sete meses de direitos de imagem atrasados", disse Piovezan ao blog.

Vale lembrar que Roberto de Andrade, atual presidente, comandou o futebol na maior parte da gestão anterior e foi um dos responsáveis pela contratação de Pato.

Indagado sobre a explicação do sucessor, Raul Corrêa da Silva, diretor financeiro nas gestões anteriores afirmou que "Piovezan é um bom moço, bem intencionado, o sogro dele foi um conselheiro de respeito no clube, mas ele está equivocado. Só isso que posso dizer", afirmou Corrêa.

O ex-dirigente sustenta que a situação atual do Corinthians não é diferente do que todos os clubes brasileiros costumam enfrentar e que não é grave.

Já para Piovezan, o quadro era pior em 2015. "Você fala que a situação é caótica. Caótica era no ano passado, mas o time foi campeão brasileiro e ninguém falou nada", respondeu o dirigente ao ouvir que a situação parece caótica. "Não nego que temos dificuldades, mas não tem nada de caótico. É o mesmo que acontece com a maioria do clubes", completou.

O aperto financeiro contrasta com a grande entrada de dinheiro nos cofres corintianos em 2016 impulsionada pelo desmanche do time campeão brasileiro no ano passado e por luvas recebidas de novo contrato com a Globo.

Até setembro, de acordo com balancete divulgado no site corintiano, a receita operacional líquida do departamento de futebol era de R$ 376,9 milhões, marca recorde no clube. No ano passado inteiro, a receita operacional líquida foi de R$ 262,4 milhões.

Só que a grande entrada de dinheiro não impediu vários atrasos em pagamentos. Os salários dos jogadores atrasaram, segundo a diretoria por receitas que não entraram quando deveriam. Empresários reclamam que suas comissões estão atrasadas. O Atlético-MG também não recebeu quantias referentes à venda de Giovanni Augusto. A compra de Marlone, que pode ir para o Galo, junto à Penapolense, registra parcelas atrasadas.

 Piovezan não nega os atrasos. "Já foi amplamente explicado porque tivemos um pequeno atraso nos salários. Está tudo em dia hoje. Com o Atlético-MG estamos conversando, é uma situação normal entre clubes. Agora, se um clube não me paga em dia, como o Porto não me pagou, como vou pagar a comissão da negociação para o empresário?", afirmou o dirigente.

Mas ele também admite que despesas altas, principalmente com contratações consumiram os milhões arrecadados.

"Arrecadamos R$ 144 milhões com a venda de jogadores, mas gastamos R$ 70 milhões com tributos (referentes a essas operações e comissões pagas a intermediários). Sobraram R$ 74 milhões, mas gastamos R$ 77 milhões para montar o time atual porque a gente precisava reforçar a equipe", disse Piovezan mostrando que do dinheiro da venda de atletas nada sobrou.

A despesa operacional do clube até setembro foi de R$ 242,1 milhões contra R$ 260,2 em 2015 inteiro, no primeiro ano sob a administração de Andrade. Em 2014, último ano da gestão de Gobbi, essa despesa foi de R$ 288,3 milhões.

O clube deve terminar 2016 com gastos em direitos econômicos e imobilizado (investimentos em seu patrimônio, como obras) no valor de R$ 70,5 milhões, mais que o dobro dos R$ 30,4 milhões desembolsados em 2015, ano de conquista de título brasileiro e menos do que os R$ 77,1 milhões da última temporada sob o comando de Gobbi.

Ao final de 2014 o endividamento a curto prazo do Corinthians era de R$ 127,4 milhões. No ano seguinte, esse número subiu para R$142,1 milhões e deve cair ao final deste mês para R$ 104,4 milhões

Apesar de não enxergar o cenário financeiro atual como caótico, a diretoria admite que não tem dinheiro para grandes investimentos em contratações. Assim, as trocas, jogadores que exigem apenas gastos com os salários e valorização das categorias de base devem ser as principais estratégias para a montagem do time para 2017.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.