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Andrade quer sigilo de inquérito sobre suposta falsidade ideológica

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13/02/2017 11h10

Suspeito de cometer crime de falsidade ideológica, Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, não quer que os dados do inquérito que o investiga sejam públicos.

No dia 25 de novembro de 2016, Daniel Leon Bialski, advogado do dirigente, pleiteou junto ao 52º Distrito Policial, sem sucesso na oportunidade, que fosse "decretado sigilo absoluto dos autos, restringindo-se o acesso apenas aos funcionários do poder público".

Como justificativa para o requerimento, o advogado disse que seu cliente apresentaria documentos sigilosos. Na ocasião, ele explicou que o cartola não poderia prestar depoimento naquele dia por conta de compromissos profissionais.

 Em 12 de dezembro, Andrade compareceu à delegacia para prestar esclarecimentos sobre ter assinado a ata de uma assembleia do fundo que controla a Arena Corinthians e o contrato referente ao uso do estacionamento do estádio pelo Omnigroup com datas anteriores à sua eleição. Os documentos foram usados por conselheiros para pedir o impeachment do presidente, que será votado no próximo dia 20. Se o afastamento for aprovado, ainda terá que passar pelo crivo dos sócios.

Na delegacia, o dirigente disse não ter participado das tratativas para a assinatura do contrato do estacionamento, que é considerado lesivo pelos defensores do impeachment. Os supostos danos dariam respaldo ao afastamento. O acordo foi rescindido na última sexta-feira.

Ex-presidente

Andrade disse que as tratativas para a assinatura dos dois documentos foram feitas na gestão de seu antecessor, Mário Gobbi e que ele apenas assinou os papéis. Gobbi também prestou depoimento, mas no inquérito não há registro de resposta dele sobre esses episódios. Na transcrição do depoimento do ex-presidente e que é delegado está apenas que ele confirma ser dele a assinatura num dos contratos entre Corinthians e Caixa.

Roberto confirmou também a versão que já havia dado no clube de que apesar de assinar uma ata que fala em assembleia presencial não houve reunião. O dirigente sustenta ser uma prática normal e permitida em fundos.

O cartola também afirmou que quando percebeu o erro das dadas foi deliberada a correção entre as partes e que ela estava em fase de execução no dia de seu depoimento.

No dia 21 de novembro, Sérgio Luiz Verardi Dias, advogado do BRL Trust, que cuida do fundo ligado à arena, também prestou depoimento e afirmou que a reunião não aconteceu, pois seus temas foram discutidos antes pelos interessados e a ata da assembleia é a celebração da vontade das partes. Ele declarou que o documento foi encaminhado para os envolvidos assinarem em janeiro, quando Gobbi era o presidente corintiano. Mas houve demora no recolhimento das assinaturas e Andrade acabou assumindo o cargo. Disse ainda que por um lapso do clube ficou no documento a data de 5 de fevereiro de 2015, anterior à eleição de Andrade.

Ele também afirmou que em outubro de 2015 foi alertado por auditores que auditavam o fundo do erro na data e que acionou advogados do Corinthians mas que até a divulgação do fato pela imprensa (a Revista Época revelou o caso) "não foi elaborada nenhuma ata retificadora" e que "providências poderiam ser adotadas pelo clube e/ou pelo fundo, porém até o presente momento" não foram.

Contradição

Nesse ponto há uma contradição, pois na defesa de Andrade na Comissão de Ética do conselho foi anexada a ata de reunião do fundo realizada em 10 de novembro, antes do depoimento do advogado à polícia, para retificar a data da assembleia. O blog não localizou Dias para falar sobre o assunto.

Num dos momentos mais tensos do depoimento do representante do fundo à comissão de ética, ele não soube dizer quem votou à distância pelo clube na assembleia: Gobbi ou Andrade.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.