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Em 2015 e 2016, Arena Corinthians obteve R$ 156 mi de R$ 424 mi esperados

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22/02/2017 04h46

Uma dúvida que tira o sono de cartolas do Corinthians e de parte considerável da torcida é como pagar a construção da arena do clube se as receitas estão longe do esperado. A distância entre sonho e realidade é medida com precisão na comparação entre o plano de negócios original do estádio e as receitas obtidas.

O blog teve acesso ao plano de negócios que foi apresentado para a Caixa a fim de que fosse obtido o financiamento de R$ 400 milhões junto ao BNDES.

O documento previa que entre 2015 e 2016 seriam arrecadados na casa corintiana R$ 424.554.000. Porém, de acordo com dados obtidos pelo blog, nesse período a arena gerou cerca de R$ 156 milhões.

A diferença entre a verba prevista e o que entrou nos cofres ajuda a explicar porque desde abril do ano passado o Corinthians, com a concordância da Caixa, parou de pagar as mensalidades do financiamento, arcando só com juros, enquanto negocia a extensão do prazo para quitar o débito.

Em alguns casos, não entrou nenhum centavo previsto. O episódio mais conhecido é o da venda dos naming rights. Pelo plano original, a expectativa era de que ele gerasse R$ 25 milhões por ano. Como não houve negociação, nada foi arrecadado. Com sports bar dentro da arena era prevista receita de R$ 215 mil no primeiro ano. O projeto não saiu do papel.  O espaço existe, mas até agora não foi negociado. Havia até a previsão de faturamento com clube do charuto, que também não se materializou.

Outro projeto em que os corintianos colocaram suas fichas foi o tour pela arena, com previsão de 280 visitas diárias em 150 dias por ano. Mas só no último dia 2 foi anunciada a assinatura do contrato com a empresa que administrará a operação. A visitação está prevista para começar em abril.

A área de marketing é a que mais impressiona no quesito não rolou. De acordo com o plano de negócios, o estádio teria 18 patrocinadores já em 2015. Hoje se tem conhecimento de apenas dois: Honda e Strella Galicia. Os demais que aparecem em telões e painéis do estádio são empresas que têm camarotes no local.

Em 2015, quando o estádio funcionou com obras na maior parte do ano, a arrecadação esperada com marketing era de R$ 43 milhões, mas foi de cerca R$ 240 mil.

A aposta em lugares vips também não vingou. Virou rotina ver camarotes vazios na arena. E outros espaços nobres continuam longe de fazer sucesso. Pelo plano de negócios, essas áreas, batizadas de premium, seriam responsáveis em 2015 por 41% da receita total do estádio. Ou seja, ganharam o status de carro chefe, mas levantaram menos de 10% da verba obtida pela arena naquele ano (R$ 7,5 milhões de R$ 85 milhões). Eram esperados R$ 84 milhões só com esses espaços luxuosos.

Se o potencial de arrecadação com áreas nobres parece ter sido superestimado no plano de negócios, o contrário aconteceu com a receita relativa à venda de ingressos em 2015, ano de título brasileiro. A projeção era de que essa fosse a segunda fonte de recursos do estádio, representando 29% do total obtido, mas acabou sendo a primeira, pois cerca de 88% do dinheiro que entrou veio da venda de tíquetes em 2015.

O blog não traz números detalhados da receita de 2016, mas é possível afirmar que com a campanha decepcionante no Nacional a arrecadação foi inferior à projetada. A previsão feita no plano de negócios era de R$ 63 milhões, mas os ingressos renderam R$ 52,2 milhões de acordo com os boletins financeiros das partidas. Seguramente a bilheteria foi o setor que deu mais dinheiro à arena em 2016. A arrecadação total do estádio foi de aproximadamente R$ 71 milhões.

A diferença entre as receitas projetadas e realizadas nestes dois anos materializam uma discussão que existe no Corinthians desde antes do estádio ganhar forma. Parte dos conselheiros entende que houve erro ao se apostar em áreas luxuosas e caras e de tratar o marketing como mina de ouro a ser explorada em Itaquera. Essa ala defende que assentos e instalações simples combinados com times competitivos ajudariam muito mais o clube a pagar a conta da construção.

A mesma divergência existe entre Odebrecht e cartolas defensores do projeto inicial no clube. O blog apurou que executivos da construtora avaliam que o Corinthians sofreria muito menos para pagar a obra se o estádio fosse mais enxuto e as receitas com marketing e áreas vips estimadas com mais modéstia.

No clube, o discurso é de que a demora da Odebrecht para entregar a obra atrapalhou a geração de receitas, como na venda de camarotes. A construtora considera que concluiu a construção no final de setembro de 2015, mas dirigentes se queixam nos bastidores de que a arena ainda está incompleta e que isso dificulta algumas arrecadações. A Odebrecht diz que deixou de executar cerca de R$ 40 milhões em obras por causa de um estouro no orçamento, mas sem ferir o contrato, pois alega ter realizado serviços em valor semelhante e que estavam sem preço estipulado.

 Há uma queda de braço nos bastidores entre a empresa e Luis Paulo Rosenberg, pai do plano de negócios, e Aníbal Coutinho, arquiteto autor do projeto, arquitetônico do estádio.

O blog procurou Rosenberg, ex-vice-presidente do clube e que não participa da gestão da arena, mas ele não quis falar justamente por estar afastado do processo.

As assessorias de imprensa do Corinthians responsáveis pela arena e pelo presidente Roberto de Andrade não responderam às perguntas enviadas no último dia 17 até a publicação deste post.

Abaixo, compare as receitas projetadas e realizadas na Arena Corinthians em valores aproximados

Receita total projetada para 2015 – R$ 205.535.000

Receita total realizada em 2015  – cerca de R$ 85.000.000

Receita total projetada para 2016 – R$ 219.019.000

Receita total realizada em 2016 – R$ 71.000.000

Receita projetada em dois anos – R$ 424.554.000

Receita realizada em dois anos – R$ 156.000.000

Dados de 2015 em valores aproximados

Produtos premium (camarotes e assentos vips)

Receita projetada – R$ 84 milhões

Receita realizada – R$ 7,5 milhões

Marketing

Receita projetada – R$ 43 milhões, sendo R$ 25 milhões com naming rights

Receita realizada – R$ 240 mil, sendo que nada foi arrecadado com naming rights

Receitas operacionais (aluguel do estádio, concessões e estacionamentos, entre outras fontes de recursos)

Receita projetada – R$ 16 milhões

Receita realizada – R$ 1 milhão

Bilheteria

Receita projetada – R$ 59 milhões

Receita realizada – R$ 74 milhões

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.