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Segundo relatório, Odebrecht deixou de fazer R$ 200 mi em obras em Itaquera

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01/02/2017 20h10

Atualizado com versão do arquiteto responsável pelo projeto da arena

Com Dassler Marques, do UOL, em São Paulo

Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, recebeu nesta terça-feira relatório sobre a auditoria feita em relação à construção da arena do clube a pedido da diretoria. O blog apurou que o documento aponta pelo menos cerca de R$ 200 milhões em obras que a Odebrecht teria deixado de executar ou que precisará refazer. Ricardo Corrégio, diretor de contratos da construtora, contesta o valor, nega falhas por parte da empresa e afirma não ter conhecimento do documento (leia as declarações do engenheiro no final do post e também do arquiteto Aníbal Coutinho, citado por ele).

O número pode subir substancialmente porque faltaram documentos e laudos que completariam o trabalho.

A direção alvinegra esperava a conclusão da auditoria para decidir quais medidas tomar já que o levantamento foi encomendado justamente para o clube avaliar se a construtora cumpriu rigorosamente o contrato.

Os auditores alegam que tiveram dificuldades para obter uma série de documentos, pois a Odebrecht sustentou que uma parcela deles era protegida por cláusulas de confidencialidade.

O relatório, produzido pelo escritório de Advocacia Molina & Reis, atesta em parte documentos que foram produzidos pelo arquiteto Anibal Coutinho, principal responsável pelo projeto da Arena Corinthians. Durante muito tempo, ele apontou inúmeros serviços que não teriam sido feitos ou que foram executados com falhas pela construtora, mas, na maioria dos casos, a diretoria evitou confronto com a parceira.

A Odebrecht sempre contestou as alegações do arquiteto, afirmando ter entregue o estádio respeitando o contrato.

Com a conclusão do relatório sobre a auditoria, a expectativa no Corinthians é de que a diretoria tente abater o valor da dívida referente à construção, que já ultrapassa R$ 1,4 bilhão, contando juros de empréstimos bancários. Ou que acione a Odebrecht na Justiça.

Porém, como o valor indicado no novo documento é parcial, deve continuar uma apuração no clube sobre outros itens que não teriam sido cumpridos.

Além de analisar o relatório, Andrade vai encaminhar o documento para o presidente do Conselho Deliberativo, Guilherme Gonçalves Strenger, e para a comissão criada a fim de estudar o caso.

Outro lado

Abaixo, depoimento dado ao blog por Ricardo Corrégio, diretor de contratos da Odebrecht, sobre o relatório.

"Não recebemos esse eventual relatório, não temos conhecimento dele, mas não acreditamos nesse número (R$ 200 milhões em obras não realizadas ou que precisam ser refeitas) e o contestamos fortemente.  Temos evidências, números, contratos pra atestar investimento de R$ 985 milhões (feitos pela construtora), respeitando os contratos e os aditivos.  Alguns itens não foram executados porque o contrato permitia a substituição deles (nota do blog: foram R$ 38 milhões não executados por conta de um estouro no orçamento pelas contas da Odebrecht).

 Desconhecemos quem fez esse eventual relatório e que métodos foram usados. Desconheço falhas na obra, que foi vistoriada por órgãos reconhecidos. Se tem algum problema que nos indiquem onde. Usamos sempre os melhores materiais e as especificações indicadas por eles (escritório de arquitetura de Aníbal Coutinho, indicado pelo Corinthians). Temos um termo de responsabilidade (que as partes assinaram) sobre materiais que questionamos. Como piso de mármore no banheiro (que teria sido pedido por Coutinho), que era inapropriado.

Nós mesmos recomendamos que fosse feita uma auditoria com empresa reconhecida. Estamos à disposição para qualquer esclarecimento".

Citado por Corrégio, Aníbal Coutinho, em nome dos escritórios de arquitetura CDC e DDG, enviou o comunicado abaixo ao blog.

"Um vez citados, declaramos, ainda, desconhecer o teor do relatório produzido e entregue pela auditoria, posto que é confidencial, mas de pronto refutamos as inverídicas e subjetivas afirmações do engenheiro da construtora.

Os fatos em questão estão amplamente documentados e amparados contratualmente, como demonstrado cabalmente em nota oficial emitida pela Arena Corinthians em resposta a afirmações anteriores deste mesmo profissional em matéria de 6 de dezembro deste blog.

Não há interesse por parte da CDC/DDG em discussões e polêmicas pela mídia, principalmente quando os temas objetos desta auditoria têm fundamento em fatos objetivos, em questões substantivas, consistentes e perfeitamente mensuráveis, baseadas em contratos, aditivos e outros documentos contratuais que as comprovam amplamente, não deixando margem a discussões".

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.