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Opinião: Felipão não aprendeu com 7 a 1. Ou finge que não

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26/03/2017 11h27

A resposta de Felipão em entrevista para a Folha de S.Paulo, neste domingo, sobre os 7 a 1 na semifinal da Copa de 2014 insulta o poder de análise do torcedor brasileiro, dos jornalistas que cobriram a seleção no Mundial e o futebol alemão.

Ao insinuar que a sorte foi importante para os alemães vencerem, Scolari mostra que não aprendeu nada com o massacre ou finge não entender o acontecido.

Entre as pérolas, o técnico insinuou que os alemães foram sortudos com um gol de pé esquerdo de quem chuta de direita (isso não seria mérito, treinamento? Que diferença faz um gol nessa goleada?) e que o Brasil foi azarado por não ter Neymar, contundido, e Thiago Silva, suspenso (com os dois em campo estariam eliminadas todas as falhas técnicas e táticas?). O treinador também esboçou reclamar de erros individuais ao dizer "perdemos umas bolas ali que…", ignorado problemas de posicionamento que poderiam ter sido corrigidos nos treinos.

Com seu discurso, Scolari não reconhece a melhor preparação alemã, feita na Bahia, com temperaturas semelhantes às enfrentadas nos jogos, enquanto o Brasil saiu do frio de Teresópolis por duas vezes para atuar no calor de Fortaleza, por exemplo.

Felipão não cita a bagunça que foram os treinamentos de seu time, com direito a interrupção para gravação de programa de TV e invasão de torcedores. Não reconhece o erro de insistir com Fred, isolado no ataque ou que seu discurso motivacional para nada serviu. Pelo contrário, sobraram jogadores com nervos em frangalhos.

Quase três anos depois da tragédia, ele também não admite que faltou conhecimento da comissão técnica brasileira sobre os rivais, principalmente em relação aos alemães.

Felipão, seus assistentes e a diretoria da CBF erraram feio durante a Copa toda, e a conta foi paga no Mineirão. Ou seja, não teve nada de sorte ou azar na goleada histórica.

Apesar das falhas grosseiras e da falta de humildade, Scolari, comandante do pentacampeonato em 2002 com um trabalho excelente, como tantos outros feitos por ele em clubes brasileiros, não merece ser lembrado como um idiota por causa do desastre de 2014. Mas também não é justo que ele faça os outros de idiotas contando uma história que não aconteceu.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.