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Santos aposta em opinião de juiz espanhol contra Neymar na Fifa

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17/05/2017 09h46

Para tentar convencer a Fifa a suspender Neymar por seis meses, o Santos aposta na análise do juiz espanhol José de la Mata Amaya. Ele entende que o jogador e o Barcelona, também acionado pelo clube brasileiro, descumpriram o estatuto da entidade internacional em 2011, quando negociaram a transferência do atacante.

No último dia 4, na abertura do julgamento oral referente à ação movida pela DIS na Espanha contra Neymar, seus pais, a empresa da família, Santos e Barcelona, por entender que foi prejudicada na transferência do atleta, Amaya reafirmou sua posição sobre o desrespeito às regras da Fifa. Isso apesar de ressaltar que tal situação não é objeto do julgamento espanhol.

Parecer semelhante do juiz emitido em primeira instância no processo havia sido enviado pelo Santos à Câmara de Resoluções e Disputas da Fifa, na qual o clube brasileiro pede punição para Neymar e Barça. Os advogados santistas acreditam que a confirmação da convicção de Amaya tem peso para ajudar a convencer a entidade, diferentemente do que pensa a defesa do atacante.

Para o magistrado, o estatuto da federação internacional foi ferido quando o Barcelona assinou dois contratos com a empresa dos pais de Neymar (o segundo chamado de "empréstimo"), assegurando pagamento inicial de 10 milhões de euros à família do jogador e garantindo que ele se mudaria para o Barça em 2014, quando ficasse livre do compromisso com o Santos, por mais 30 milhões de euros.

Mundial de Clubes da Fifa

Amaya escreveu parecer óbvio que Barcelona, Neymar e a empresa de sua família descumpriram as obrigações impostas pelo estatuto da Fifa em relação a contratações de jogadores. Na opinião dele, não respeitaram o contrato que o atleta tinha com o Santos, negociaram fora do período permitido (seis meses antes do término do compromisso vigente) e "chegaram a fazer (Barcelona) e a receber (Neymar) pagamentos milionários só oito dias antes de uma partida transcendental para a história do Santos (final do Mundial de Clubes da Fifa)".

Em outro trecho ele detalha o episódio dizendo que foram realizados ou houve comprometimento de pagamentos multimilionários por parte do Barcelona a Neymar apenas uns dias antes de o jogador recebedor das quantias enfrentar o clube pagador na final do Mundial. "No dia nove de dezembro de 2011 foi feita transferência para a N&N (empresa dos pais do atacante) de 10 milhões de euros, e no dia 17 de dezembro de 2011, foi jogada a final do Mundial de Clubes entre Barcelona e Santos, com derrota da equipe brasileira por 4 a 0", escreveu o juiz.

Amaya ressalta que, sem prejuízo à avaliação ética que os torcedores das duas equipes façam do episódio, o Barcelona tinha uma carta pela qual o santos autorizava Neymar a negociar com outras equipes. O documento foi dado pela direção santista na ocasião. O juiz afirma, porém, que faltou uma autorização expressa pedida pelo Barça para que a transação não ferisse as regras da Fifa.

Essa carta é um dos pontos fundamentais da defesa de Neymar para alegar que não houve desobediência ao estatuto da Fifa.

O sentimento dos advogados do jogador é de que a opinião de um juiz que cuida do caso em outra esfera é irrelevante para a federação internacional, assim, não terá peso na decisão.

Outro argumento é o de que o Santos aceitou vender o jogador, tanto que assinou todos os documentos para isso acontecer. Por isso não tem do que reclamar com Barcelona e Neymar.

A arbitragem da Fifa já decidiu que não pode julgar os pais do atacante e a empresa deles por não estarem sujeitos às regas da entidade.

A expectativa dos envolvidos é de que a federação internacional anuncie sua decisão em junho. Quem se sentir prejudicado poderá recorrer ao CAS (Corte Arbitral do Esporte).

Além da suspensão, o Santos pede que sejam confiscados os valores recebidos pelo atacante pela transferência, solicita punição financeira ao Barça e recebimento de indenização.

Na Justiça espanhola, Neymar, seus pais e sua família foram isentos por Amaya da acusação de fraude por simular contratos, mas serão julgados por corrupção.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

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