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Opinião: São Paulo insiste na arriscada estratégia de agradar à torcida

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17/09/2017 09h24

A reunião entre torcedores e jogadores do São Paulo na última semana indica que a diretoria tricolor não aprendeu com erros cometidos na tentativa de agradar aos fãs do clube.

Geralmente, atletas não gostam de ter que dar explicações aos torcedores. E costumam se sentir ainda mais incomodados quando são tiradas satisfações dentro do local de trabalho e com anuência da direção.

Além do natural risco de gerar descontentamento, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, deixou membros do Conselho de Administração são-paulino contrariados com o que acreditam ser exposição desnecessária dos jogadores perante a torcida.

O episódio é a repetição da estratégia de tomar medidas simpáticas à torcida adotada outras vezes por Leco sem sucesso.

Foi assim, por exemplo, na decisão de contratar Lugano, claramente sem condições de ser titular, na tentativa de reconquistar o apoio dos torcedores para o time, além da aposta na liderança do zagueiro. Essa era a teoria, mas na prática o São Paulo ficou com um reserva de luxo enquanto não consegue arrumar sua zaga desde o início do ano. E o contrato do uruguaio ainda foi renovado, apesar de ele ser pouco aproveitado.

A contratação de Rogério Ceni, realizada em período de campanha eleitoral (Leco nega cunho político), também foi extremamente popular entre os torcedores. Porém, com a demissão do ex-goleiro em apenas cerca de seis meses, a escolha se revelou uma ação sem sólido planejamento. A impressão que fica, é que na oportunidade a diretoria fechou os olhos para os riscos da decisão de dar sua prancheta para um estreante. Assim como tampou os ouvidos para alertas dos membros do Conselho de Administração sobre a possibilidade de efeitos colaterais provocados pelo encontro entre atletas e torcedores.

Se jogadores podem ter ficado constrangidos com a cobrança feita especialmente por membros de torcidas organizadas, o mesmo pode acontecer com Dorival Júnior se for colocada em prática a ideia de Muricy Ramalho prestar consultoria técnica informal.

O atual treinador diz concordar com a medida, mas não é estranho o fato de a diretoria ter dito que Dorival considerava desnecessária a ajuda externa de um profissional do ramo? Muricy foi convidado mediante forte pressão de torcedores, sócios e conselheiros que entregaram para Leco um abaixo-assinado pedindo a contratação do ex-treinador como coordenador. Mais uma vez fica no ar o cheiro de que a direção continua confiando no populismo como forma de administrar o clube.

Esse estilo pode conduzir Leco a dois tipos de situação. Na primeira, se a equipe se salvar, do rebaixamento, torcedores, sócios e conselheiros irão dizer que a direção só não rebaixou a equipe porque eles interferiram. Até aí, tudo bem, pois não é vergonha contar com ajuda para fazer o melhor pelo clube.

No segundo caminho, o presidente afundaria com a torcida para a Série B. Daí poderá dizer que não errou sozinho e que fez o que os torcedores pediam, o que de nada adiantará.

O problema, na opinião deste blogueiro, é que já há casos concretos em que o a decisão de atender ao anseio popular atropelou o bom senso gerando resultados amargos para o tricolor. Ou seja, a diretoria repte uma estratégia que não tem dado certo. E, no momento em que o novo estatuto prega o profissionalismo, a influência de quem não é pago para tomar decisões, só aumenta.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.