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Preparo físico gera clima de desconfiança no Corinthians

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01/11/2017 04h00

Com Diego Salgado, do UOL, em São Paulo

Uma rede de desconfianças e críticas compõe o cenário da brusca queda de rendimento do Corinthians no segundo turno do Brasileirão. A trama envolve suspeitas de falta de comprometimento e cuidado com o físico por parte de jogadores. Mas também há queixas de supostas falhas de profissionais que zelam pela saúde dos atletas.

Enquanto torcedores e conselheiros criticam a condição física de parte do elenco, há na comissão técnica quem entenda que a culpa é de atletas que não cuidam do corpo como deveriam na hora das folgas. Não estariam comprometidos com o grupo.

Fonte com trânsito na comissão técnica afirmou ao blog que a saída de alguns jogadores do time titular por questões físicas chegou a ser discutida. Porém, Fábio Carille optou pela manutenção deles. Indagado sobre a veracidade do episódio, por meio de sua assessoria de imprensa o treinador afirmou que não se manifestaria. Walmir Cruz, preparador físico corintiano, disse que não pode dar entrevistas individuais por orientação da diretoria.

Rodriguinho, Jadson e Arana são os atletas cobrados por conselheiros e torcedores por supostamente não estarem descansando suficientemente nas folgas, o que estaria prejudicando a preparação física deles.

"Eu posso te garantir que nunca faltou vontade. Tive uma contusão que me atrapalhou. Mas pode ter certeza que todos estamos muito dispostos, determinados e vamos atrás do objetivo  principal", disse Arana à reportagem por meio de sua assessoria de imprensa. Os assessores de Jadson e Rodriguinho declararam que eles não falariam sobre o tema.

Antes do jogo contra a Ponte Preta, a concentração do elenco foi antecipada em um dia. A medida é costumeira em clubes que acreditam que seus jogadores não se cuidam de maneira correta fora do trabalho. Ao comentar o assunto na semana passada em enrevista no CT corintiano, Flávio Adauto negou que a medida tenha sido adotada para evitar boleiros na noite. "A preocupação não é que eles saiam, é sim que durmam cedo e se alimentem bem", disse o diretor de futebol, atribuindo a decisão a Carille.

Insatisfação

Mas, do lado dos jogadores as reclamações são outras. Integrantes de estafes de atletas alegam que parte do elenco está descontente com médicos e outros responsáveis por cuidar deles. As críticas são referentes a supostas demoras para diagnosticar corretamente jogadores contundidos, lentidão em algumas recuperações e falhas que teriam ocorrido na análise de atletas mais propensos a "estourar" por causa do desgaste físico.

Um dos casos citados pelos que criticam o departamento médico corintiano é o de Guilherme Arana. Ele sofreu uma lesão muscular na coxa contra o Vitória, em agosto e voltou em outubro diante do Vasco, mas fez seis jogos no Brasileirão sentido dores. Só atuou voltou a atuar sem estar dolorido contra o Botafogo. Ivan Grava, médico do Corintians, diz que o jogador teve uma fibrose (aumento de tecidos durante a cicatrização) e que ela é normal em atletas que se recuperam de lesões semelhantes. Declarou ainda que Arana havia dito para ele estar sem dores.

Outro caso apontado pelos que questionam o departamento médico é o de Pablo. O zagueiro não jogou contra o Atlético-PR por causa de uma contratura na coxa. O jogador não criticou os médicos, mas, internamente, quem reclama do departamento questiona o fato de ter havido demora na realização de uma ressonância magnética para melhor avaliação. Ele vinha sendo examinado por meio de ultrassom, que nada apontava, mas continuava se queixando de dores e ficou fora da partida contra o Coritiba, na qual se esperava que ele jogasse. O atleta então treinou dois dias para enfrentar o Bahia. Depois do segundo treino, o jogador apontou dores de novo. Só então foi feita a ressonância que detectou uma contratura com prazo de recuperação entre 7 e 10 dias. A suspeita dos críticos dos médicos corintianos é de que, se tivesse sido feita antes, a ressonância já teria apontado o problema.

Grava, porém, rebate essa versão. Afirma que a lesão foi num local diferente daquele que vinha sendo examinado. Afirmou também que o ultrassom identifica contraturas. Mas, segundo ele, o exame só não foi feito novamente, de acordo com o médico, porque era feriado, e o profissional que opera o aparelho no CT estava de folga. Nesse cenário, foi escolhida a ressonância. O médico sustenta que não houve falha.

É sob essa nuvem de suspeitas que o time treina em busca de uma vitória contra o Palmeiras, domingo, para estancar seus maus resultados e ficar mais perto do título Brasileiro.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.