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Opinião: Tite terá que lidar com pressão maior se ficar na seleção

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08/07/2018 06h19

A CBF quer continuar com Tite. Por sua vez, o treinador já indicou que a ideia de permanecer na seleção brasileira o agrada. Porém, caso renove seu contrato, o técnico viverá uma fase de mais pressão do que enfrentou até aqui.

Tite é um dos comandantes do time nacional menos criticados após uma queda em Copa do Mundo. Aparentemente, a maior parte da torcida e da imprensa aprovam a sequência de seu trabalho.

Mas as críticas existem. Como por exemplo por não dar a vaga de Gabriel Jesus para Firmino. Os deslizes em solo russo serão anotados por torcedroes e profissionais da imprensa no prontuário de Tite. Assim, ao contrário de quando assumiu a seleção com a "ficha limpa", ele carregará alguns desgastes desta Copa do Mundo para a sua nova fase no comando da equipe nacional, se de fato ficar.

Isso significa que sua margem de erro sem fortes cobranças será menor. A situação fica mais difícil pelo fato de a Copa América de 2019 ser no Brasil. O fator casa aumenta a cobrança por um título.

Na CBF, a pressão também deve crescer já que ele teve praticamente tudo o que quis e não trouxe o caneco.

É natural que a capacidade de resistir à pressão seja menor depois de uma eliminação em quartas de final de Mundial. Agora é bem maior a parcela da torcida que vê Tite como o melhor ou um dos melhores treinadores brasileiros, mas não como um dos mais eficientes do mundo.

O tom professoral e a fala que parece ensaiada, também tendem a enjoar o torcedor a longo prazo. Tite precisará mudar seu jeito de se comunicar com a torcida, principal referência da cúpula da CBF para tomar decisões.

Dentro de campo, o técnico terá como uma de suas dificuldades renovar a equipe em alguns setores, principalmente nas laterais. Não será fácil preparar substitutos para Daniel Alves e Marcelo, dois dos maiores joadores da posição na seleção em todos os tempos. Reformular também representa risco de bater de frente com parte dos atletas que defenderam o Brasil na Rússia. E não é segredo que Tite gosta de ficar abraçado com jogadores de sua confiança. Ele precisará aumentar a sua dose de desapego.

Existe também o outro lado da relação de confiança entre jogadores e treinadores. Será que depois dos erros que cometeu na Rússia e da difculdade em sair da armadilha peparada pelos belgas nas quartas de final não abalaram a fé dos jogadores no técnico? Confiança no treinador é algo fundamental para um time ser vencedor.

Toda essa combinação fará de Tite, caso renove com a CBF, um técnico da seleção brasileira mais semelhante a seus antecessores. Sem a beatificação que ganhou até chegar à Copa do Mundo, ele ficará mais exposto às cobranças.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

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