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Por que o Palmeiras consegue manter Dudu e o Corinthians vende Rodriguinho?

Perrone

25/07/2018 04h00

Na atual janela de transferências para a Europa, uma pergunta martela a cabeça do torcedor corintiano: por que o alvinegro não conseguiu segurar Rodriguinho e Balbuena, dois de seus principais atletas, e o rival Palmeiras manteve Dudu?

As duas diretorias têm respostas simples para o questionamento. Andrés Sanchez, presidente corintiano, argumenta que a desvalorização do real diante do dólar faz as ofertas serem irrecusáveis para os jogadores. E que manter atleta insatisfeito é péssimo negócio porque seu rendimento tende a cair.

Para os palmeirenses, se os salários estão em dia, o jogador não tem do que reclamar. Se o interessado não paga a multa rescisória, ele tem de continuar trabalhando em alto nível e ponto final. A reposição é difícil no meio da temporada e isso deve ser levado em conta.

Em abril, o Corinthians já tinha perdido Maycon, outro nome importante do elenco campeão brasileiro no ano passado.

O Palmeiras também negociou atletas recentemente, como Tchê Tchê, Keno e João Pedro. Mas se orgulha de ter recusado uma oferta da China de aproximadamente R$ 52 milhões por Dudu. O valor é superior à soma do que o Corinthians obteve com as saídas de Balbuena (R$ 18 milhões) e Rodriguinho (R$ 15 milhões). O alviverde ainda conseguiu que Roger Guedes, que estava no Atlético-MG, fosse para a China no lugar de Dudu, recebendo cerca de R$ 20,4 milhões.

Por trás das respostas simplistas das duas diretorias sobre esses casos estão as maneiras como os clubes lidaram com suas dificuldades financeiras nos últimos anos.

O Corinthians recorreu a empréstimos de empresários, como Carlos Leite e Fernando Garcia. Algumas vezes, cedeu fatias de seus jogadores em troca. Em muitas situações, ao negociar com os atletas, o alvinegro aceitou cláusulas que permitiam a saída dos jogadores por valores baixos em comparação com a média do mercado. Foi a forma encontrada para pagar menos do que as quantias pedidas.

Exemplo mais bem acabado é o de Balbuena. Para renovar contrato com o zagueiro, seu empresário exigiu que a multa rescisória fosse de apenas cerca de R$ 18 milhões, valor pago pelo West Ham, da Inglaterra. A direção alvinegra argumenta que era aceitar isso ou ver o contrato antigo do defensor se encerrar e se conformar em não ganhar nada. Acredita, então, que não fez um negócio ruim. Para renovar, os corintianos contam até que aceitaram uma cláusula que previa multa caso o pagamento do salário atrasasse mesmo que só por um dia.

Enquanto o socorro de agentes fez o Corinthians perder poder nas negociações, o Palmeiras se fortaleceu com três mecenas: Paulo Nobre e o casal formado por José Roberto Lamachia e Leila Pereira, donos da Crefisa. Primeiro o ex-presidente bancou contratações, além de outras despesas, e virou credor do clube em mais de R$ 140 milhões, já pagos.

A saúde financeira palmeirense melhorou com as empresas do casal (Crefisa e FAM), elevando os valores de patrocínio a patamares jamais alcançados pelo clube. A dupla, agora integrante do Conselho Deliberativo, também financiou uma série de reforços. Inicialmente, o Palmeiras só precisaria devolver o que recebesse nas vendas dos jogadores até a quantia investida pelos parceiros. Em caso de lucro, ele ficaria todo com com a agremiação, e eventuais prejuízos seriam só dos patrocinadores. Mas, após investida da Receita Federal, o contrato foi mudado e agora o clube precisa pagar a prazo o valor integral gasto pelos patrocinadores. A mudança preocupa conselheiros palmeirenses.

Com a melhora nas finanças, o Palmeiras evita atrasos nos pagamentos dos jogadores, o que é considerado um ponto fundamental para a diretoria no momento de recusar ofertas como a recebida por Dudu. Se está tudo em dia, o atleta não tem motivo para se rebelar e nem para pedir aumento, na opinião da diretoria. O atacante chegou a fazer uma postagem na qual dava a entender que não estava feliz com a permanência no alviverde.

Por sua vez, o Corinthians segue sem patrocínio principal na camisa e precisa repassar suas receitas com bilheteria para pagar o financiamento com o BNDES por meio da Caixa Econômica para a construção de seu estádio. O abalo nas receitas tornou frequentes os atrasos em direitos de imagem e parcelas de luvas prometidas aos atletas. Em tese, essa situação enfraquece a equipe no momento em que aparece uma proposta de fora.

Em nota ao blog, a diretoria corintiana afirmou que renegociou pagamentos que estavam atrasados. "O Sport Club Corinthians Paulista informa que os contratos de direitos de imagem e luvas em aberto foram negociados e encontram-se todos eles ajustados não havendo nenhum tipo de cobrança ou notificação", afirma o comunicado enviado pelo departamento de comunicação do clube da Zona Leste.

Também há contrastes na maneira como os dois rivais interpretaram o que representaram as propostas para Rodriguinho e Dudu. Os corintianos falam que a oferta do Pyramidis, do Egito, significava a independência financeira do jogador e que o clube não poderia atrapalhar. A despedida foi amistosa e em clima de até breve. O Palmeiras, no lugar de enxergar "a proposta da vida", vê assédio de clubes estrangeiros que não querem pagar os valores das multas rescisórias e pressionam atletas a forçar a saída.

Além de Dudu, os palmeirenses Lucas Lima, William e Antônio Carlos também despertaram interesse de clubes estrangeiros.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.