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Opinião: no Brasileirão, Corinthians paga conta por apostas arriscadas

Perrone

14/10/2018 12h18

O sufoco do Corinthians na reta final do Brasileirão é reflexo de apostas de alto risco feitas pela diretoria. Muitas delas escoradas em amizades.

Essa combinação fez Jair Ventura assumir um time sem padrão tático e com escassas opções na reserva. Quando poupa titulares pensando na Copa do Brasil, como fez na derrota deste sábado (13) para o Santos, por 1 a 0, o treinador é obrigado a usar nomes de fraco desempenho na temporada, como Sheik, Jonathas e Danilo.

O mesmo acontece no momento em que ele precisa virar uma partida. O treinador deve sentir calafrios quando olha para seu banco.

O abismo entre titulares e reservas destruiu a fórmula eficaz usada pelos corintianos em suas últimas conquistas. No lugar de craques, a aposta foi sempre em elencos equilibrados, o que faz a diferença principalmente no longo campeonato Brasileiro.

A situação atual torna natural o questionamento relativo a algumas apostas. A vaga de Emerson Sheik, por exemplo, não poderia ter sido melhor ocupada?

O veterano se esforça, mas não produz os resultados que o time precisa. Era previsível que Sheik não seria um jogador para ocupar a titularidade, ainda que apenas no segundo time.

É sabido que o atacante é grande amigo de Andrés Sanchez, presidente corintiano. Em 13 jogos no Brasileiro, ele não fez gol.

Outro exemplo de pouca utilidade para o clube, Jonathas marcou uma vez em sete participações no Brasileirão. O atacante é ligado a Carlos Leite, amigo de longa data de Andrés Sanchez. O agente também trabalha com Mateus Vital e agiu na contratação de Jair Ventura.

Durante as últimas eleições no Parque São Jorge, o empresário se envolveu numa polêmica por enviar dinheiro para a conta do clube. Segundo documento interno do Corinthians, a quantia foi usada para pagar mensalidades de sócios em atraso na tentativa de viabilizar suas participações no pleito. O agente nega envolvimento com a votação e diz que fez um contrato de empréstimo.

Não se trata aqui de sugerir que a diretoria contratou jogadores com pouco potencial para compensar o empresário. Mas, sim, de mostrar que a confiança depositada pela direção em alguns agentes e jogadores justifica apostas de risco. Leite é sempre lembrado pelo grupo de Andrés por ter indicado Cássio, até então desconhecido no futebol brasileiro.

Roger, com três gols em 17 participações no Nacional é outro símbolo de aposta arriscada da diretoria alvinegra que prejudicou o poderio ofensivo corintiano.

Em sua defesa, a diretoria tem o fato de a equipe estar na final da Copa do Brasil. Mas, na opinião deste blogueiro, isso só reforça a tese de que foi montado um elenco capaz de disputar um torneio de mata-mata. Mas sem peças de qualidade suficientes para encarar o Brasileirão e se dividir em duas frentes.

A saída de Fábio Carille prejudicou o Corinthians, mas até ele teria dificuldades com o grupo que agora vê de um lado a chance de ganhar a Copa do Brasil e, do outro, a zona de rebaixamento do Brasileiro cada vez mais próxima.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.