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'Corinthianismo' incomoda igreja católica. Conselheiro padre vê desrespeito

Perrone

25/02/2019 07h54

A campanha para divulgar o "Corinthianismo", que compara torcer para o clube com uma religião, gerou incômodo na cúpula da igreja católica em São Paulo. Na última sexta, uma reunião envolvendo pelo menos um bispo discutiu o tema. O padre Jeferson Mengalli, da diocese de Bragança Paulista e conselheiro do Corinthians, confirmou ao blog que a peça publicitária gerou desconforto.

Mengalli tenta marcar uma reunião do presidente alvinegro, Andrés Sanchez, e de Luís Paulo Rosenberg, diretor de marketing, com o bispo dom Luiz Carlos Dias, ligado à região em que fica o Parque São Jorge, para tratar do assunto. Em depoimento ao blog, Mengalli afirmou considerar o vídeo usado no lançamento da campanha desrespeitoso (após a publicação deste post, o clube anunciou que foi aceito o pedido de demissão de Rosenberg. Sua saída vinha sendo pedida por parte dos conselheiros).

Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, a Arquidiocese de São Paulo afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto porque não constituiu uma comissão para analisar o "Corinthianismo". Disse também que a arquidiocese não recebeu consulta formal do clube antes de a campanha ser lançada. Por sua vez, o departamento de comunicação do Corinthians declarou que não se pronunciaria sobre o tema. Já a assessoria de imprensa da F/Nazca S&S, agência contratada para desenvolver a campanha, não respondeu ao blog até a publicação deste post.

Conforme apurou o blog, no clube, a primeira avaliação foi de que nas redes os torcedores se dividiram equilibradamente a favor e contra a peça publicitária. Num segundo momento, a análise passou a ser de que a maioria demonstrava aprovação.

Abaixo, leia o depoimento de Mengalli dado ao blog por meio de mensagem por WhatsApp.

"Para mim, como religioso, cristão e conselheiro do Corinthians, essa campanha de marketing está sendo uma grande falta de respeito com o sagrado. Muito está se falando de religião ligada ao time de futebol, ao clube. Mas o primeiro ponto a ser visto é o significado de religião.

A palavra vem do latim Religare, que é o desejo, a ação do homem para estar de volta diante de Deus. Assim, vejo de modo muito objetivo que essa campanha, que visa dinheiro,  pois trata-se de marketing, é uma campanha que leva os menos informados à prática da idolatria, linguagem religiosa.

Outro ponto é o desrespeito aos símbolos sagrados do catolicismo. Você deve ter visto o vídeo. E percebeu que do inicio ao fim é mostrado o sofrimento corintiano associado à Paixão de Cristo. Perrone, eu nasci no Corinthians, também faço parte do Bando de Loucos. Mas, tudo tem limite. Fiquei muito triste e decepcionado com que vi no vídeo. O Corinthians tem outros meios para atingir o torcedor, os sócios do clube. Não precisa disso.

A Arquidiocese de São Paulo não gostou nada da campanha. Tenho conversado todos esses dias com dom Luiz Carlos Dias, que é o Bispo da região Belém, que abrange o clube social (Parque São Jorge). E será proposta uma conversa com o presidente Andrés e com o diretor de marketing Rosenberg. Vamos buscar um diálogo.

De modo geral, atingiu a todos os cristãos, católicos ou não. E até mesmo os que não têm religião, muitos não gostaram. Cancelar não sei se é possível (respondendo ao blog se o objetivo é o cancelamento da campanha). Mas acredito numa questão de conscientização.

Cada coisa no seu lugar, Perrone. Não se brinca com o sagrado. Em outros lugares e outras religiões, se algo parecido com isso acontecesse, o clube seria invadido. Entende?

Mas haverá sim um contato da Igreja com a diretoria do clube. Pois, diferentemente do que alguns estão dizendo, a igreja não autorizou nada. Colocar alguém crucificado na trave do gol é lamentável. Um homem carregando a cruz. Toda a questão do tríduo pascal, como paralelo ao sofrimento do clube. Foi mau gosto. Batismo, paixão, morte, ressurreição. Foi uma triste comparação.

E mais, nosso clube tem sua religiosidade por natureza. Temos São Jorge,  temos nossa capela dentro do clube, onde temos batizados e missas todos os domingos.

Contra a campanha. Essa é a posição da igreja. O sagrado foi profanado. E falo isso com tristeza, pois o Corinthians para mim é minha segunda casa e me deixou triste e preocupado."

 

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.