Topo

Perrone

Opinião: Rosenberg caiu por não entender que os tempos mudaram

Perrone

26/02/2019 14h47

Na opinião deste blogueiro, Luís Paulo Rosenberg caiu no Corinthians por não entender que os tempos mudaram desde sua primeira passagem pela direção de marketing do clube, iniciada em 2008.

Naquela época, ele se acostumou a fazer piadinhas com rivais. A torcida achava graça. Cerca de 11 anos depois, repetiu a fórmula sem perceber que as estocadas nos adversários, principalmente no Palmeiras, irritavam boa parte da torcida e do conselho corintiano. O cartola não se ligou que o antigo modelo estava desgastado. Hoje, muitos clubes gozam os rivais pelas redes sociais (não vejo sentido nesse comportamento, mas é assim que funciona). Não são mais os diretores que assumem o papel de gozador, na maioria das vezes.

As provocações ao Palmeiras em momentos delicados, como ao falar de um processo que chegou a penhorar a taça do Mundial de 2012, incomodaram grande parte dos corintianos. Rosenberg foi frequentemente criticado por fazer brincadeiras em vez de apresentar explicações e sugestões para superar dificuldades enfrentadas pelo Corinthians. E foi acumulando antipatia.

O ex-diretor de marketing não notou também a mudança no cenário político alvinegro. Andrés Sanchez ainda tem maioria no Conselho Deliberativo, mas sua popularidade (internamente e externamente) é bem menor do que no mandato anterior. Para manter a governabilidade, ele se aliou à uma ala que fica com um pé na oposição e outro na situação. Nessa turma, existe um pelotão de conselheiros que nunca gostou de Rosenberg. A diferença é que agora eles têm poder de barganha com o presidente do clube. Antes, eram solenemente ignorados.

Rosenberg reforçou não entender os novos tempos ao chamar de conselheiros frustrados por seguidas derrotas membros do conselho que enviaram carta a Andrés pedindo sua demissão, dias antes de ele mesmo se demitir. Na declaração, dada ao "GloboEsporte.com", ele disse que não pediria demissão por causa deles.

Antes do ato final de sua segunda passagem pelo marketing corintiano, o cartola deu mais um exemplo de não entender que não está mais em 2008 ao comparar a dificuldade em vender os 'naming rights' da Arena Corinthians a uma mulher com HIV. Onze anos atrás, o cara ouvia ou lia uma bobagem dessas e só podia mostrar sua indignação nas rodas de amigos. Agora, com a velocidade da internet, a estupidez volta como um bumerangue no pescoço do autor da pérola.

Com a declaração impensada, Rosenberg fechou o circuito para seus detratores conseguirem o que queriam. Eles só deram um empurrãozinho. O ex-dirigente fez o resto sozinho.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.