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Promessa já dura 7 anos: por que Corinthians pena para vender naming rights

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06/02/2019 04h00

Imagem: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Hoje (6 de fevereiro) seria dia de cantar parabéns no Corinthians, não fosse constrangedora a data completada. Faz sete anos que Andrés Sanchez afirmou que estava perto de vender os "naming rights" da arena do clube em sabatina promovida pelo UOL e pela Folha de S.Paulo. "Isso já está bem adiantado. Depois que o novo presidente ganhar (a eleição) em 30, 40 dias sai o 'naming rights'. afirmou o cartola na ocasião.

De lá para cá, ele foi eleito deputado federal, já cumpriu o mandato, viu seus aliados Mário Gobbi e Roberto de Andrade presidirem o alvinegro, voltou à presidência e nada de o nome do estádio ser negociado.

A lista de empresas com as quais o clube tentou negociar a propriedade mais valiosa da arena é grande. Seguradora Zurich, Hyundai, Etihad Airways, Qatar Airways, MetLife, Brasil Kirin, Visa, Caixa Econômica, Jeep e Huawey estão entre elas. Com a ajuda do volante Paulinho, ex-jogador corintiano, foram tentadas outras marcas chinesas, também sem sucesso.

Houve até estudo em universidade americana e levantamento dos públicos em shows no Morumbi usados, em vão, como recursos para tentar fechar negócio.

"Virada recessiva da economia brasileira e ascensão do digital sobre o analógico na captura dos recursos de publicidade" são as principais causas para a venda ainda não ter acontecido na opinião de Luis Paulo Rosenberg, diretor de marketing do clube e um dos idealizadores do projeto da arena (no final do post veja sete perguntas respondidas por ele sobre o assunto).

A não venda impacta diretamente no pagamento do financiamento de R$ 400 milhões junto ao BNDES feito por meio da Caixa Econômica. Por contrato, o dinheiro eventualmente arrecadado com a negociação deve ser usado para o pagamento da dívida com a Caixa. Ou seja, se os direitos sobre o nome do estádio tivessem sido negociados, o débito poderia ser quitado em menos tempo. Na semana passada, em entrevista para a ESPN Brasil, Rosenberg afirmou que atualmente há um déficit de R$ 12 milhões anuais entre receitas e despesas da arena.

O primeiro preço colocado nos "naming rights" foi de R$ 40 milhões por ano. Nesse modelo, o comprador daria o nome à arena durante o período que ainda faltava para a construção terminar e por 15 anos a partir da inauguração. As parcelas seriam corrigidas anualmente pelo IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mais acréscimo real de 5%.

Pouco depois, foi preparado um material em inglês para empresas estrangeiras e obtido pelo blog que calculava o valor dos "naming rights" em  11.437.889 de euros anuais (cerca de R$ 43,9 milhões em valores atuais). O cálculo era feito com base no impacto que a propaganda poderia ter em determinado grupo de pessoas, entre outros fatores. Foi usada pesquisa realizada pelo Datafolha em 2011 estimando em 31.191.435 o número de corintianos no Brasil.

Rosenberg (primeiro à esq.) adota cautela em negociação dos naming rights da Arena. Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Trecho curioso do mesmo material traz levantamento sobre a quantidade de pessoas que assistiram a shows no estádio do rival São Paulo em 2011. O cálculo aponta público de 728 mil pessoas em 11 sessões no Morumbi. Sob o argumento de que eventos com capacidade de atrair essa plateia poderiam acontecer em Itaquera, o documento estipula como valor final dos "naming rights" da casa corintiana em 11.704.899 euros anuais (aproximadamente R$ 49 milhões atualmente). Só que a direção corintiana sempre disse que não pretende organizar apresentações musicais no local.

Essa não foi a única vez em que os corintianos recorreram à língua inglesa na tentativa de tornar seu produto mais atraente. Em 2015, o clube encomendou um estudo sobre o valor da propriedade na "Kellogg School Management" na Northwestern Univerity, nos Estados Unidos.

Em abril de 2016, o acordo para a exploração dos naming rights por um fundo de investimentos esteve perto de ser fechado. A torcida escolheria o nome do estádio e o fundo lucraria com a venda de produtos e serviços como cartões de descontos para os torcedores. No final das tratativas, porém, houve desacerto entre as partes e o negócio fracassou. O preço estipulado era de R$ 320 milhões por 15 anos de contrato.

Calejada depois de tantas dificuldades, a diretoria do Corinthians tem evitado estipular prazos para concretizar o sonho do nome próprio para seu estádio. Essa cautela fica clara nas respostas de Rosenberg ao blog sobre o tema. Confira abaixo.

Blog – A previsão inicial  era de vender os "naming rights" em quanto tempo?
Luís Paulo Rosenberg – No menor prazo possível.

Blog – Quais as principais causas que impediram a venda?
Rosenberg – Virada recessiva da economia brasileira e ascensão do digital sobre o analógico na captura de recursos de publicidade.

Blog – Por contrato, uma eventual receita  com os "naming rights" deve ser repassada para a Caixa ou para amortizar a dívida com a Odebrecht?
Rosenberg – Abater a dívida com a Caixa.

Blog – Qual o impacto da não venda no clube?
Rosenberg – Nenhum. O impacto é no fundo da arena: quanto antes vendermos, mais cedo receberemos as "sobras" de arrecadação de ingressos que decorrerão do aumento de receita.

Blog – Hoje, o clube negocia com quantas empresas?
Rosenberg – Várias.

Blog – Há previsão de quando devem ser vendidos os "raming rights"?
Rosenberg – Vide resposta à pergunta 1 [no menor prazo possível].

Blog –  Quanto o clube paga de juros por mês pelo financiamento?
Rosenberg – Algo menos do que 1% ao mês.

Por que Corinthians pena para vender naming rights? Andres Sanchez responde

UOL Esporte

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.