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Renda superior a R$ 22 mi na Copa América fortalece elitização em estádios

Perrone

15/06/2019 09h29

 A renda de R$ 22.476.630,00 para um público de 46.342 pagantes na abertura da Copa América tem um lado triste: o da elitização do público nos estádios brasileiros.

O preço médio dos ingressos ficou em R$ 485, pouco menos do que o valor de uma cesta básica (cerca de R$ 520 em São Paulo no mês de abril). 

O bilhete mais barato para assistir à vitória da seleção brasileira por 3  a 0 sobre a Bolívia custou R$ 190. O valor é proibitivo para quem ganha salário mínimo (R$ 998) por exemplo.

Não é novidade o futebol no Brasil excluir quem tem bolso mais magro. Mas os preços praticados na abertura da Copa América mostram que não há limites para os cartolas subirem o sarrafo.

Ainda que partidas da competição nas arenas de Corinthians e Grêmio tenham bilhetes a R$ 60, o torneio consolida a tendência de deixar quem ganha menos acompanhando a festa pela TV.

É capaz que no futuro nem isso seja possível, graças às vendas de assinaturas para ter acessos às transmissões.

O recado que vem das bilheterias é claro e cruel. Se seu poder aquisitivo é baixo, as portas dos estádios brasileiros vão fechar cada vez mais na sua cara.

A tendência ignora o caráter popular do futebol no país. Dá de ombros também para importância de cativar torcedores com bolsos de todos os tamanhos. É inteligente atrair o fã  independentemente do peso de sua carteira. É fundamental para  times tentarem aumentar suas torcidas.

Imagine uma criança de uma família de baixa renda que ainda não escolheu uma equipe para torcer. Se ela nunca foi a um estádio e tem chances remotas de ir como ela vai se apaixonar por um clube brasileiro?

Só se os pais forem muito insistentes. Caso contrário ela vai ligar a TV e assistir ao futebol europeu. A qualidade é muito melhor. Já que é pra torcer de longe por que não escolher o espetáculo de melhor nível?

E mesmo para quem pode pagar R$ 190 no ingresso de um jogo, será que o futebol apresentado por  Brasil e Bolívia vale esse preço? Pra mim a metade disso é caro pelo que as duas seleções exibiram em campo.

Nesse contexto, o que se viu nesta sexta no Morumbi foi um incentivo à elitização do futebol brasileiro. Um estímulo aos cartolas para continuarem subindo os preços e afastando o povão de sua diversão.

 

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.