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Futebol feminino desperdiça oportunidade com caos em final do Brasileiro

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30/09/2019 09h32

Fila depois do início da final do Brasileiro feminino Foto: Ricardo Perrone/UOL

Não foi só o Corinthians que perdeu ao ser derrotado nos pênaltis pela Ferroviária, após empate sem gols, na final do Campeonato Brasileiro feminino no domingo (29). A modalidade desperdiçou grande chance de dar um salto em sua escalada de desenvolvimento por conta do caos enfrentado por torcedores que foram ao Parque São Jorge.

O primeiro problema foi o horário de início do jogo: 14h, cerca de uma hora depois de a equipe masculina do alvinegro bater o Vasco por 1 a 0 em Itaquera. A proximidade entre o fim de um evento e o começo do outro fez torcedores alvinegros chegarem atrasados na decisão ou desistirem de ir.

Quem resolveu acompanhar a final feminina, porém, teve uma desagradável surpresa. Filas gigantescas para entrar no setor mais barato (a arquibancada foi vendida por R$ 5 pela internet para membros do programa Fiel Torcedor) e para comprar ingressos. Eram apenas dois portões disponíveis para os alvinegros. Um, com baixa procura enquanto a partida já estava rolando, dava acesso às cadeiras. O outro, abarrotado de gente, permitia a entrada para as arquibancadas. A situação estimulava o torcedor a procurar outra coisa para fazer no domingo ensolarado.

Entre os que encararam o desafio, muitos perderam o primeiro tempo inteiro. Do lado de dentro, pelo menos os que estavam na arquibancada, sofreram mais. Sob forte calor, água era um artigo raro. Corintianos se amontoavam num portão que dava acesso à rua para matar a sede comprando a bebida de ambulantes. Também havia mais filas pela frente. Dessa vez, para ir aos banheiros químicos instalados para o público que estava na arquibancada lateral.

Ficou nítido que os organizadores não avaliaram corretamente o interesse dos torcedores pela decisão. Por determinação das autoridades, o Corinthians só foi autorizado a vender 8.400 ingressos. Oficialmente, foi anunciado público pouco superior a 6 mil pessoas, o que destoa da quantidade de gente que tentava entrar na Fazendinha ainda no intervalo da decisão.

Foto: Bruno Teixeira/Ag. Corinthians

Uma final carregada de sofrimento para o público era tudo que o futebol feminino brasileiro não precisava. O interesse gerado deu a oportunidade de uma partida com presença histórica de torcedores. No entanto, era preciso de um horário melhor, com mais tempo para os que foram ao jogo em Itaquera, e um estádio com capacidade e estrutura para receber mais gente.

Com condições melhores, mais corintianos se sentiriam estimulados a acompanhar a equipe feminina não só em jogos decisivos. Além disso, uma marca épica de público presente teria um efeito cascata fazendo outras torcidas abraçarem seus times femininos. Foi assim com a história de apoiar equipes masculinas embarcando no aeroporto antes de grandes jogos e em treinos abertos em véspera de partida importante, por exemplo.

Mas, infelizmente, o Brasileiro feminino terminou com desorganização e quase nenhum estímulo para o torcedor voltar. Nem tudo foi perdido porque a partida foi agradável e de bom nível, merecendo mais respeito por parte dos organizadores. A organização não está à altura do que a elite do futebol nacional feminino apresenta em campo.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.