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Chantagem no SPFC teve arquivo sigiloso, zoeira com hino e e-mail para Leco

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11/01/2020 04h00

Com José Eduardo Martins, do UOL, em São Paulo

Um chantagista debochado, ousado e municiado por documentos sigilosos. Esse é o perfil de um suposto hacker revelado por material registrado em cartório pelo São Paulo para tentar identificar a origem de vazamentos de informações no clube.

Como mostrou o blog, armadilha preparada pela diretoria tricolor deixou o vice-presidente Roberto Natel sob suspeita de colaborar com Edward Lorenz. Esse é o nome usado pelo autor das tentativas de extorsão.

A ousadia do suposto hacker fez com que ele enviasse e-mails diretamente para o presidente são-paulino, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.

"Fiz download de outras documentações e só vou parar com isso quando receber a quantia solicitada. Sou persistente e muito insistente. Eu deixo um dia para decidirem, após isso, eu começo a divulgar os documentos para todos, inclusive para os conselheiros.  Que, pelo que li, muitos estão loucos para derrubar o Leco". Esse é um trecho de e-mail que tem o presidente são-paulino entre os destinatários.

Nos textos endereçados a conselheiros e dirigentes, entre outros, Lorenz chega a debochar do hino do São Paulo e de música entoada pela torcida. É o que acontece na mensagem descrita a seguir:

"Oh, Tricolor, clube bem amado

As tuas glórias vêm do passado

E as corrupções também

Vai lá, vai lá, vai lá

Vai lá de coração

Vamo, São Paulo

Vamo, São Paulo

Vamo pagar meu milhão".

Reprodução de mensagem enviada por suposto hacker para Leco, entre outros

Em outra correspondência eletrônica, Lorenz detalha seus métodos de extorsão.

"Faço coleta de informações 'sigilosas'. Em seguida, faço primeiro contato apresentando todo conteúdo que tenho e tento desenvolver de forma tranquila, pacífica uma negociação. De forma sigilosa. Quando não tenho êxito, eu vou em busca de provas mais robustas, importantes graves, etc. E entro novamente em contato. Esse foi o motivo de retornar à essa negociação agora em 2019" escreveu o suposto hacker.

Uma série de documentos postados pelo  chantagista também faz parte do material registrado pelo departamento tricolor no 22° Tabelião de Notas de São Paulo.

As atas notariais obtidas pelo blog não mostram que Lorenz tenha documentos altamente comprometedores para dirigentes tricolores.

Porém, alguns dos papéis ferem regras de sigilo estipuladas pelo clube e seus parceiros.

É o que mostra ata notarial registrada em 10 de dezembro. Nela consta que Érica Duarte Pino Alves, advogada do São Paulo, solicitou, por questão de sigilo, que não fosse reproduzida na íntegra imagem de um contrato enviado por Lorenz ao departamento jurídico tricolor.

Trata-se de um comoronisso de cessão onerosa de uso de espaço entre a agremiação e a Phoenix Tower do Brasil.

O suposto hacker enviava esses arquivos com o objetivo de convencer a diretoria a pagar para que ele não tornasse a papelada pública.

Lorenz enviou uma série de relatórios financeiros internos, planilha de aluguel de camarotes e até cópia de trecho de negociação de direitos de transmissão de TV.

Numa das mensagens, com o título "fim", o suposto hacker elogia os cartolas tricolores ao relatar sua experiência na "negociação". Abaixo, leia a curiosa mensagem na íntegra.

"Olá todos os membros da diretoria e conselho do São Paulo Futebol Clube. Venho por meio deste e-mail expor como tem sido a minha experiência nesses três dias de negociação com vocês. Primeiramente gostaria de dizer que os senhores são profissionais excepcionais, pois buscam sempre a melhor solução até encontrar algo que possa ajudar a instituição SPFC. Buscam sempre o conhecimento e estão envolvidos em coisas muito importantes como ética, disciplina e administração do clube. Esses três dias têm sido muito importantes para a minha caminhada como profissional de tecnologia. Tenho aprendido muito e colocado em prática diversas coisas que agora estão se tornando mais claras".

Vale lembrar que a diretoria do São Paulo nega ter dado dinheiro ou negociado com o chantagista assumido.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.