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Venda de camisas no Japão faz aliado de Andrés virar alvo de opositores

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29/01/2020 12h38

Quem nunca presenciou o momento da verdade num grupo de WhatsApp? Aquela hora em que alguém fala diretamente para um dos integrantes tudo o que dizem dele em conversas privadas. Manoel Ramos Evangelista, conselheiro do Corinthians conhecido como Mané da Carne, fiel escudeiro de Andrés Sanchez, passou por essa situação na noite da última terça (28).

Ele atacava colegas de conselho que criticavam do Duílio Monteiro Alves, diretor de futebol, por afirmar ter sondado Neymar e Cavani. Atacado, Leandro Cano, juiz de direito e também conselheiro, perguntou se Mané já tinha prestado serviço para o clube sendo membro do conselho, se havia agenciado jogadores da base, se tem uma filha trabalhando no estádio do Corinthians e ainda se vendeu camisas do time no Japão, durante o Mundial de 2012.

O homem de confiança do presidente alvinegro negou a venda de carne ao clube, pelo menos desde quando virou conselheiro, negou o agenciamento de atletas, confirmou a atuação da filha na Arena Corinthians e a venda de camisetas no Japão.

A comercialização faz com que opositores se articulem para pedir uma investigação na comissão de ética e disciplina do Conselho Deliberativo. 

Na mensagem, Mané disse que as camisas não eram oficiais. Porém, ao blog declarou que eram produtos licenciados pelo Corinthians.

Os que planejam apresentar requerimento contra o aliado de Andrés avaliam que, se as camisas eram piratas, ele prejudicou o clube economicamente, e por isso pode sofrer sanções previstas no estatuto.

Caso as mercadorias sejam oficiais, eles querem saber se houve facilitação interna para que o conselheiro obtivesse o material. Pelo menos um membro do conselho que estava no Japão afirma que havia camisas autografadas por jogadores colocadas à venda por Mané. Assim, opositores querem saber como ele conseguiu as assinaturas e se elas eram legítimas. Por sua vez, Evangelista nega a existência de autógrafos.

A lavagem de roupa começou quando Cano perguntou no grupo: "o senhor já prestou serviços ao Corinthians sendo conselheiro? O senhor ou a sua esposa já agenciaram jogadores da base? A sua filha trabalha ou trabalhou na arena? O senhor possui os comprovantes de pagamento de viagens que fez com a delegação em jogos fora de São Paulo? Na viagem ao Japão o senhor vendeu camisas autografadas para torcedores? Responda se quiser".

Mané respondeu: "como conselheiro não, nunca (prestei serviços). O Corinthians, a diretoria pediu para arrumar um açougue que eu conhecia. E eu arrumei, mas nunca servi nada de carne. É simples, o clube paga com cheque. É só ver para quem foi mandado o cheque. Nunca agenciei jogadores. Nenhum. Minha filha fez estágio no marketing. Depois, gostaram do seu serviço e a contrataram. Quanto a trabalhar na arena, ela presta serviço para acomodar os meninos para entrada com jogadores, e nunca foi remunerada (por isso), e ganha um salário de R$ 2.600,00. Já pedi para ela sair porque dou o dobro, mas ela quer ganhar experiência. Comprovante de viagem, sim tenho nos boletos do meu cartão. No Japão, vendi camisas do Corinthians, mas não autografadas. Mas não era oficiais, muito menos autografadas. Comprei de fabricante. Camisas muito boas".

Ao blog Mané deu outra versão. "As cinco camisas que vendi eram oficiais, porque fui procurado pelas pessoas. E não estou preocupado com o que eles vão fazer. Quero ver eles provarem e terem testemunha da venda. Obrigado pela preocupação. Outra coisa, camisa pirata é afirmação desses senhores. Disse que eram camisas de boa procedência", escreveu Evangelista para este blogueiro.

Confrontado com o fato de ter dito no grupo de conselheiros que as camisas não eram oficiais, Mané deu outra versão. Afirmou ter adquirido o material em loja oficial do clube.

"Oficial de jogo, camisa usada pelos jogadores. Isso para mim é oficial. O senhor vai a uma loja e compra uma camisa. Ela é uma camisa do Corinthians. O senhor ganha uma camisa de um jogador, ela é oficial do clube", argumentou o conselheiro.

Indagado se as vendas que fez no Japão foram informais, sem emissão de nota fiscal, e se isso não é um problema, Mané respondeu: "pode ser, no Japão. Há oito anos atrás, desculpe,n lembro o que comi ontem".

O conselheiro disse ainda que estava levantando os comprovantes de pagamento das viagens que fez para acompanhar os jogos do time e afirmou que poderia colocá-los à disposição do blog. Ouviu como resposta que não seria necessário. Evangelista é um conselheiro da linha de frente de Andrés. Normalmente, é o primeiro a rebater críticas à diretoria, indo para o corpo a corpo com opositores.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.