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Covid-19: médico da linha de frente crê em colapso e faz live preventiva

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31/03/2020 14h38

ESPECIAL COVID-19

O médico Daniel Duailibi Foto: Arquivo pessoal

 

São pelo menos 11 horas diárias de trabalho na linha de frente do atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus. A rotina estressante inclui a previsão de que é uma questão de tempo o sistema de saúde brasileiro entrar em colapso. Mesmo nesse cenário angustiante, o médico Daniel Duailibi encontra tempo e energia para fazer lives no Instagram com o objetivo de informar a população sobre a pandemia.

"O sistema de saúde vai entrar em colapso, mas não porque é o sistema brasileiro. Nenhum sistema de saúde do mundo estaria preparado para uma crise como essa. Nós temos dificuldades estruturais que devem piorar nas próximas semanas", disse Duailibi.

Ele é infectologista e clínico geral e trabalha no Hospital das Clínicas, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e no Santa Catarina, todos em São Paulo, sempre na linha de frente da pandemia.

Para o médico, a situação tende a piorar quando o vírus avançar nas comunidades do país.

"Existe uma pirâmide social (na pandemia). Começou pelas classes mais altas e chegou à classe média. Nas primeira e segunda semanas de abril deve chegar nas classes de menor poder aquisitivo", afirmou Duailibi.

"Ainda não está sendo desesperador ir trabalhar. Mas a expectativa é desesperadora quando se lê e se ouve o que profissionais de outros países falam. Parece ser uma questão de tempo que o sistema de saúde vai sucumbir. Então, isso desespera", completou.

Até o último sábado, quando conversou com o blog, ele não tinha perdido pacientes para a doença. "A gente vê o número de pacientes aumentando paulatinamente, isso dá uma angústia. Uma das qualidades para você ser médico é ser humano, nós sofremos junto com o paciente", declarou.

O médico relata que uma das dificuldades no combate ao novo coronavírus tem sido convencer a população a ficar em casa.

"Algumas pessoas querem respostas dos médicos sobre a dificuldade econômica que o distanciamento social provoca. Não temos essas respostas.  Algumas acham que a culpa é da medicina. Não, a culpa é da pandemia. Nós somos defensores da saúde. Nós cuidamos da pandemia. Quem criou o conceito de crise econômica cuida da crise econômica", disse o infectologista.

Ele reforça o que as autoridades da área da saúde têm dito em relação à importância do isolamento social, combatido pelo presidente Jair Bolsonaro.

O conceito é de que um fator fundamental é dificultar a circulação do vírus neste momento para que as cidades ganhem tempo com o objetivo de criarem estruturas melhores para receberem os pacientes.

"É 100% certo que o sistema de saúde entrará em colapso. Entraria em qualquer país. Então, temos que diminuir a velocidade da transmissão do vírus", explicou.

Mesmo com uma jornada de trabalho que tem chegado a até 84 horas semanais, Duailibi decidiu usar o Instagram para levar informações a população e até mesmo para profissionais da saúde.

"Entendo que tenho a obrigação de tentar informar as pessoas", afirmou o médico. Em suas transmissões ele também convida outros especialistas para falar de temas específicos.

Já fez lives sobre coronavírus na gestação e em crianças. Elas podem ser acompanhadas pelo perfil "drdanielduailibi" no Instagram. 

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.