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'Todos terão prejuízos com adiamento dos Jogos', diz presidente do COB

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28/03/2020 04h00

Em entrevista ao blog, Paulo Wanderley, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) falou sobre as consequências do adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio por conta do avanço do novo coronavírus no mundo.

O dirigente explicou que a entidade tem contratos que vencerão neste ano, pois estavam atrelados às Olimpíadas. Apesar de os pagamentos se encerrarem em 2020, os parceiros terão as contrapartidas acertadas na ocasião em que a Olimpíada for realizada.

Ele também explicou sobre problemas de logística, como armazenamento de material que já está no Japão e trocas de passagens.

Vanderlei falou ainda sobre a próxima eleição presidencial no COB. Ele será um dos candidatos. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Blog do Perrone – Com o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio já existe uma definição ou pelo menos uma previsão de quando será a eleição presidencial no COB?

As eleições do COB serão realizadas em novembro de 2020, na data prevista, sem alteração devido ao adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio. 

Blog – O COB tem contratos de patrocínios que vencem em 2020? Caso tenha, existe a possibilidade de eles serem prorrogados para depois dos Jogos Olímpicos? 

Paulo Wanderley – Além dos parceiros do programa TOP do Comitê Olímpico Internacional, o COB tem parceiros nacionais tais como: Peak, Estácio, Travel Ace, Alliansce Sonae, Ajinomoto, BRW, Max Recovery e Wollner. Todos os contratos estão atrelados à entrega nos Jogos Olímpicos do ciclo 2017-2020 e o COB honrará, sem dúvida, com este compromisso. Os pagamentos são feitos em 2020. Mas os jogos acontecem em 2021.  Então, eles terão a entrega que compraram nos Jogos de Tóquio, quando eles forem realizados.

Mantemos contato próximo com nossos parceiros, inclusive nesse período recente de incertezas quanto aos Jogos de Tóquio.

Alguns já nos sinalizaram que pretendem continuar conosco até Paris 2024, porém as negociações ainda estão no início. Também estávamos fechando novos contratos com empresas privadas para ações em Tóquio e elas já nos informaram que o interesse continua.

A prioridade agora é o combate à pandemia e tão logo seja possível daremos andamento a todas as conversas.

Blog – Quais medidas estão sendo tomadas pelo COB em relação à logística devido ao adiamento da Olimpíada? 

Paulo Wanderley –  A diretoria do COB e a área de Jogos Internacionais e Operações estão se reunindo com frequência, via videoconferência, para debater os contratos relacionados à viagem e à aclimatação em Tóquio, entre outros assuntos. Também já foram realizadas reuniões com o COI (Comitê Olímpico Internacional), neste mesmo sistema.

Já iniciamos o contato com todas as nossas bases e todos os nossos fornecedores para informar sobre o adiamento e deixá-los antecipadamente cientes de nosso interesse de manutenção das parcerias para 2021, sabendo que precisamos esperar a definição das datas exatas para que possamos nos programar para o ano que vem. Já nos colocamos à disposição, deixando clara nossa intenção.

Também estamos elaborando o aditamento de contratos com fornecedores como os dos depósitos que a gente tem no Japão, do transporte e da alimentação. Houve o cancelamento do envio de seis contêineres que iriam para o Japão agora no início de abril. Vamos reprogramar para o ano que vem. O material já estava todo separado em um galpão e pronto para fazer a ovação, mas tivemos que parar essa operação. Por isso, deveremos ter um custo extra de armazenamento tanto dos materiais que já estão no Japão, quanto os que ficaram no Brasil.

Em relação às passagens, houve um contato inicial com a Air Canada. A gente começa uma negociação agora, mas ainda dependemos das datas para poder calcular as chegadas e partidas dos integrantes da delegação. Inicialmente, a Air Canada se colocou à disposição para fazer o ajuste de voos de acordo com a nossa demanda para 2021.

Temos confiança que conseguiremos mitigar todos os prejuízos, com o objetivo de seguir com nosso planejamento visando os Jogos de Tóquio no próximo ano.

Blog – Mesmo tendo apoiado o adiamento, vê risco de algum efeito colateral para o COB, as confederações, atletas e para o esporte olímpico brasileiro de maneira geral com o adiamento?

Paulo Wanderley – O maior risco, na minha opinião, seria a realização dos Jogos Olímpicos neste ano, o que poderia causar a exposição dos atletas ao COVID-19. O COB, foi um dos primeiros Comitês Olímpicos Nacionais a se posicionar a favor do adiamento e estamos aliviados com a decisão dificílima que o Comitê Olímpico Internacional, na figura do presidente Thomas Bach, precisou tomar ao lidar com essa complicadíssima questão. Nossa preocupação está em proporcionar as melhores condições para os atletas, afinal, são eles as grandes estrelas do esporte.

Estamos vivendo uma situação totalmente inédita com o adiamento dos Jogos Olímpicos. Ainda estamos passando por grandes indefinições. Por exemplo, não sabemos quando exatamente serão realizados os Jogos, e nem como se darão os processos de classificação das diferentes modalidades, suas regras e prazos. O risco que todo o sistema esportivo mundial atravessa é passar pelo desconhecido.

É algo que todos terão que passar da melhor forma possível. Acredito muito na equipe do COB e sei que vamos superar todos os problemas que, com certeza, aparecerão.

Blog – Várias confederações têm contratos com patrocinadores que terminam neste ano. O COB tem algum projeto para ajudá-las nessa situação já que há risco de ficarem sem esses patrocinadores antes da Olimpíada de Tóquio?

Paulo Wanderley – O COB está sempre disposto a ajudar as Confederações Brasileiras Olímpicas, dentro de seus limites estatutários. Além de distribuir a maior parte dos recursos da Lei das Loterias entre as Confederações e também assumir parte da preparação das equipes olímpicas, o COB socorre as entidades que ficam impossibilitadas de receber a verba por força da lei. 

No momento estamos também com uma parceria com a Caixa, com o objetivo de aumentar o volume de apostas em seus produtos e, consequentemente, os recursos para o esporte olímpico do Brasil. 

Blog – Avalia que o COB pode ter algum prejuízo com o adiamento da Olimpíada? É possível calcular de quanto? O COI ofereceu algum tipo de ajuda para os Comitês Olímpicos Nacionais com o objetivo de minimizar eventuais prejuízos?

Paulo Wanderley – Todos terão prejuízos com o adiamento dos Jogos. Até alguns meses atrás essa era uma situação impensável. Porém, ainda não é possível dimensionar o tamanho do prejuízo nesse momento. 

Todos os estudos operacionais estão sendo refeitos, mas dependem crucialmente da data dos Jogos, que ainda não foi definida. Em várias frentes, teremos que replanejar, fazer novos estudos, falar com nossos patrocinadores e fornecedores… Porém, ainda não é possível dimensionar tal prejuízo nesse momento. 

Mas a estrutura definida para esse ano não se perde, por isso não consideramos ter um prejuízo tão grande. Os uniformes serão os mesmos, as bases serão as mesmas, a cenografia das bases serão as mesmas e aí por diante.

O principal fator de variação nesse momento é o dólar, que não podemos prever como ficará para a frente.

Blog – Qual a sua avaliação sobre possíveis prejuízos causados ao COB e ao esporte olímpico brasileiro de maneira geral com a pandemia do novo coronavírus?

Paulo Wanderley – O maior prejuízo teria sido a manutenção dos Jogos Olímpicos na data prevista. Esse é um momento em que temos que deixar algumas questões de lado e priorizar a saúde e a integridade física de todos. Desde o primeiro momento o COB decidiu lidar desta forma com essa questão, fechando o CT Time Brasil, liberando seus funcionários para trabalharem de casa e recomendando o mesmo a todos os atletas.

Blog – Quais as suas principais propostas (na disputa da próxima eleição) para mais um período no comando do COB? Em sua opinião, o que a entidade mais precisa na próxima gestão? Qual será o maior desafio de quem estiver na presidência? 

Paulo Wanderley – A prioridade absoluta agora está em oferecer as melhores condições aos atletas e equipes para que o Brasil se prepare de forma adequada para fazer uma excelente campanha nos Jogos Olímpicos. Por toda complexidade do contexto atual e de todos os desafios que virão pela frente, acredito que este não seja o momento mais adequado para abordar este tema. Temos que rediscutir contratos, buscar receitas, coordenar as operações com as modalidades. É hora de trabalho, não de política. As eleições no COB estão programadas para o final do ano e até lá existe muito a ser feito. Entendo que o debate político e de ideias, que é sempre salutar e necessário, deve ser postergado momentaneamente, dando espaço às necessidades que se impõem agora.

Blog – Atletas do mundo inteiro querem ter mais participação nas decisões de entidades de administração do Esporte. O novo estatuto do Comitê Olímpico Brasileiro dá uma participação até então inédita no país aos atletas olímpicos. Existe algum plano de ampliar essa participação?

Paulo Wanderley – Os  atletas são o motivo da existência de todo o Movimento Olímpico. Avalio como altamente saudável a maior participação deles nas decisões das entidades diretivas. Quando implantamos mecanismos de governança e democratizamos a entidade, buscávamos justamente uma maior participação da comunidade esportiva.
Os atletas, por exemplo, obtiveram maior representatividade na Assembleia do COB e na eleição da entidade, passando de um para 12 votos. O nosso CEO, Rogério Sampaio, é um campeão olímpico. São avanços históricos implementados em nossa gestão. A participação dos atletas vai aumentar ainda mais, já que estão previstos mais 7 votos a eles para o próximo ciclo. É um incremento de mais de 50% no colégio eleitoral.
Além disso, o processo para presidente e vice-presidente do COB se tornou mais acessível, abrangente e inclusivo. Hoje, qualquer brasileiro maior de 18 anos, que esteja em conformidade com as regras de candidatura e tenha apoio de 3 dos 47 votantes pode se candidatar à presidência do COB. Antes, a única possibilidade de alguém se tornar candidato à Presidência era ser membro da Assembleia do COB há pelo menos cinco anos, receber dez indicações de outros integrantes da Assembleia e formalizar uma chapa com, pelo menos, oito meses de antecedência.

Blog –  Empresa de auditoria contratada pelo próprio COB sugeriu uma devassa nas contratações feitas na área de tecnologia da entidade suspeitando de esquema de contratações de empresas ligadas a amigos e familiares de um funcionário do comitê próximo ao senhor. Esse funcionário já foi demitido, certo?  A investigação sugerida foi feita pelo COB? Em sua campanha eleitoral, vai sugerir medidas que possam impedir situações como essa?

Paulo Wanderley – Seguindo firme no propósito de adotar as melhores práticas de ética e transparência implementados na minha gestão, o COB fez questão de tomar uma série de medidas, além das indicadas pela Kroll (responsável pela auditoria), após o recebimento das denúncias. 

Contratamos um novo Gerente Executivo Administrativo, uma nova Supervisora de Compras, um novo Líder de Conformidade e desligamos os funcionários de TI envolvidos, incluindo o antigo gerente Executivo.

Além disso, a Kroll apontou a necessidade de novas verificações em todos os contratos da área de TI, o que já está sendo feito desde o ano passado. Outra recomendação da Kroll foi a atualização da política de contratação de recursos humanos (RH), profissionais autônomos (RPA) e compras com recursos próprios, além do aperfeiçoamento das estruturas de controle da entidade. 

Vale destacar que os fatos ocorridos não geraram qualquer prejuízo para o COB e confederações e também não houve aplicação de recursos públicos nos projetos investigados. 

Penso que todas as medidas que estão sendo tomadas irão dificultar em muito que novas fraudes semelhantes aconteçam. Estamos trabalhando pra isso. 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.