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Após teste em porco, ventilador pulmonar da Poli espera por prova em humano

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16/04/2020 04h00

Especial Covid-19

O ventilador pulmonar de baixo custo que está sendo desenvolvido pela Poli (Escola Politécnica da USP) obteve bom desempenho em testes feitos com porcos e ainda nesta semana pode ser testado em humanos. Essa é a expectativa de seus criadores, porém, a data da primeira prova com uma pessoa depende do cumprimento de etapas protocolares.

O equipamento tem características voltadas para necessidades de pacientes infectados com o novo coronavírus e manuseio mais prático do que em relação aos aparelhos tradicionais.

"As impressões iniciais em relação ao resultado dos testes com animais foram as melhores possíveis. Os testes em porcos fazem parte do protocolo, não é invenção nossa. O porco, como animal, é o que simula as condições mais próximas às do corpo humano", disse ao blog Dario Gramorelli, diretor da AEP (Associação dos Engenheiros Politécnicos) e integrante da equipe que desenvolve o projeto.

Não há um prazo definido para o equipamento ser aprovado para o uso em pacientes com a Covid-19, pois existe um protocolo a ser seguido, caso os testes com humanos sejam satisfatórios.

"Nosso projeto é aberto, não vamos patentear nada,  não vai ter (pagamento de) royalties, nada. Ele vai estar disponível para quem tiver habilitação na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e habilitação fabril para poder montar. Quem for comercializar, que não seremos nós, terá que seguir um protocolo", declarou Gramorelli.

A ideia é que o custo de produção do novo ventilador seja de R$ 1 mil. Com outras despesas, o valor final pode ficar entre R$ 1,5 e R$ 2 mil.

Os equipamentos tradicionais são avaliados por especialistas em pelo menos R$ 15 mil.

"A gente se preocupou muito em fazer um equipamento que seja fácil de ser montado, fácil de ser mantido, que seja barato, de operação simples e que tenha as funcionalidades necessárias para a Covid-19", disse o engenheiro.

Ele ressaltou que a intenção não é desenvolver um aparelho para competir comercialmente com os modelos tradicionais, mais complexos. 

"A ideia não é essa. Só que o nosso sistema ficou muito bom. E ficou claramente definido que é um equipamento de emergência. É um sistema que tem muita robustez do ponto de vista de uso, mas que também tem a vida muito curta. Talvez, em dois ou três meses você tenha que trocá-lo, por isso tem que ser barato", definiu Gramorelli.

Com apoio do Senai-SP (Serviço Nacional de Aprendizado Industrial), a Poli também trabalha no desenvolvimento de peças para o ventilador mecânico que sirvam de alternativa para produtos que hoje costumam ser importados. É uma saída para tentar driblar eventual falta de componentes provocada pela corrida mundial por esses elementos durante a pandemia.

Essas peças podem servir para outros respiradores.

Técnicos do Senai trabalham em respirador Foto: Divulgação/Senai

Manutenção

Em outra frente, o Senai faz parte de uma força-tarefa coordenada pelo Governo Federal e que conta com outras entidades e montadoras de veículos para recuperar respiradores que estavam fora de uso.

Em cerca de 10 dias, 1.107 aparelhos foram recebidos. Até o último dia 13, 138 tinham sido reparados e entregues de volta a suas bases.

"Cada equipamento que volta para o seu lugar de origem funcionando aumenta a motivação da nossa equipe, e o sentimento de exercício pleno da cidadania. Esperamos motivar outros setores a terem esse espírito colaborativo", disse ao blog Ricardo Terra, diretor regional do Senai de São Paulo.

Além de ter sua equipe trabalhando nos reparos dos respiradores, o Senai treinou presencialmente funcionários das montadoras GM, Mercedes-Benz, Scania, Honda, Toyota e Volkswagen para trabalharem na recuperação dos equipamentos. A entidade ainda oferece aulas de capacitação por vídeo.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.