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Hospital de São Paulo prevê início de testes com plasma na próxima semana

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09/04/2020 04h00

ESPECIAL COVID-19

Na manhã de quarta-feira (8), antes de completar três dias recebendo voluntários, o Hospital Sírio-Libanês de São Paulo já tinha 30 homens pré-selecionados para doar plasma para testes de um novo tratamento contra a Covid-19.

Animado com o engajamento de pacientes que tiveram a doença e se recuperaram, Silvano Wendel Neto, diretor médico do banco de sangue do Sírio-Libanês, espera que os testes no local já possam começar na próxima quarta-feira.

Os hospitais Israelita Albert Einstein e das  Clínicas da Faculdade de Medicina da USP também fazem parte do programa.

O estudo testará a eficiência do uso de plasma (parte líquida do sangue) de pacientes que se recuperaram da Covid-19 para ajudar doentes. O princípio é usar os anticorpos de quem já está curado no organismo de quem luta contra a enfermidade. 

"Muito importante dizer que a gente está muito feliz com a cooperação dos voluntários. Recebemos uma boa quantidade de voluntários. Obviamente, nem todos serão aceitos, mas o que vale neste momento é a intenção", disse Wendel Neto.

Os pré-selecionados já passaram por duas etapas e agora aguardam exames laboratoriais para saberem se poderão fazer as doações.

A captação de doadores começou na última segunda-feira. "Eu chego na semana que vem, provavelmente, e falo: 'pessoal, eu já tenho plasma para iniciar o estudo'. A acredito que na quarta-feira. E quando falo quarta não estou sendo exageradamente otimista, estou sendo racional. Provavelmente a gente já tenha alguma coisa, não para atender a todo mundo, mas já vai começar a ter plasma para pacientes que vão ser incluídos nesse estudo", afirmou o médico.

Segundo ele, se a previsão de liberar o primeiro lote de plasma na próxima quarta se confirmar, a ideia é que os testes comecem no mesmo dia. "É o que esperamos. Para isto, estamos trabalhando muito nesta semana. Toda a equipe do banco de sangue recebendo e avaliando o maior número de voluntários por dia", completou Wendel Neto.

No Sírio-Libanês a pesquisa será feita com cinquenta pacientes. Metade receberá plasma e outros medicamentos. A mesma medicação será dada aos outros 25, mas sem o plasma. Os médicos que tratarão dos doentes não saberão o que cada um recebeu.

"Os pacientes também não saberão. É um teste às cegas para que todos tenham o mesmo tratamento" , explicou Wendel Neto.

Será analisada, principalmente, a capacidade do plasma de quem já se recuperou de estimular a produção de anticorpos pelos organismos infectados. Há registros de bons resultados com esse tratamento na China.

"Nosso objetivo principal é reduzir esse período extremamente grave (da doença). Se a gente conseguir reduzir esse período de entubação de sete dias para quatro dias, três dias, dois dias, isso já é um grande avanço", afirmou o médico. Se o tratamento acelerar a recuperação, conseguirá aliviar a sobrecarga no sistema de saúde durante a pandemia. Isso porque leitos serão ocupados por menos tempo.

Wendel Neto avalia que, contando os testes realizados nos outros dois hospitais paulistanos, o número de pacientes envolvidos nas pesquisas deve passar de cem.

"Não temos um prazo definido (para concluir os estudos). Mas não podemos demorar muito, senão a pandemia acaba e não alcançamos nosso objetivo. Vamos ver se conseguimos ter todos os pacientes (testados) em dois meses, mas isso é teórico", declarou o médico.

Nesta quarta, a equipe do Sírio-Libanês trabalhava nos detalhes para a definição do perfil dos doentes que participarão do programa.

"Basicamente, vamos selecionar pacientes graves, mas entubados há até sete dias. Não queremos paciente entubado há 20 dias, por exemplo,  porque esse é um paciente muito mais grave e as complicações já se instalaram há muito tempo. Pode ser também aquele paciente que não esteja entubado, mas que tenha grande perspectivas de ser entubado nas próximas 24 horas", explicou o especialista.

Por sua vez, os doadores de plasma precisam ter se recuperado da doença, mas sem chegar a um quadro considerado grave. Devem se enquadrar nas condições normalmente exigidas de doadores de sangue. Por enquanto, só homens podem doar.

"Mulheres que tiveram gestação podem produzir anticorpos contra leucócitos. E se, porventura, houver esses anticorpos alguns pacientes podem desenvolver uma reação pulmonar muito intensa e eu não quero piorar o pulmão de alguém que já esteja ruim", esclareceu o médico.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

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