Topo

Perrone

Mortes, medo, contaminação e dificuldade: 15 médicos falam sobre a pandemia

UOL Esporte

20/04/2020 04h00

ESPECIAL NOVO CORONVÍRUS

Em enquete realizada pelo blog, 15 médicos que atuam na linha de frente do combate à Covid-19 em diferentes estados apontaram suas dificuldades e os problemas do país no enfrentamento da pandemia. Eles responderam também sobre mortes, medo, colegas contaminados e comportamentos do Governo Federal e da população, entre outros temas.

A maioria dos entrevistados relatou ter enfrentado falta de EPIs (equipamentos de proteção individual) e de triagem adequada para separar pacientes com suspeita de Covid-19 dos demais quando chegam para serem atendidos. Cada um desses problemas apareceu sete vezes nas respostas.

A pergunta feita foi: "quais desses problemas você já enfrentou durante o enfrentamento da pandemia?".

Cinco participantes não apontaram nenhuma das alternativas apresentadas. As outras opções eram falta de leitos, falta de leitos de UTI e falta de respiradores. Nenhuma dessas foi citada. Era possível assinalar mais de uma alternativa.

Como maior problema do país para enfrentar a pandemia, as faltas de EPIs e de mensagem única do Governo Federal sobre prevenção para a população foram as respostas mais escolhidas: seis vezes cada.

Em seguida, aparece a resistência da população em ficar em casa, apontada quatro vezes. Falta de leitos apareceu três vezes. A carência de respiradores foi marcada em duas oportunidades. Nessa questão, também foi possível marcar mais de uma resposta.

Outra pergunta da enquete foi: você avalia que as orientações do Governo Federal sobre prevenção chegam à população de maneira objetiva, clara?

Oito dos entrevistados responderam que não. Sete dos médicos disseram que sim.

Vale lembrar que Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde, principalmente, por pregar a manutenção do distanciamento social, enquanto o presidente Jair Bolsonaro pedia o relaxamento dessa medida e dava exemplos contrários ao isolamento.

Apesar dos problemas relatados, a maioria dos médicos ouvidos não demonstrou ter mais medo de se contaminar do que normalmente têm por conta de suas atividades.

Dez dos participantes (cerca de 67%) disseram que quando vão trabalhar no combate ao novo coronavírus têm o mesmo medo de sempre de se contaminar. Três (20%) declararam não ter medo e dois (aproximadamente 14%) afirmaram sentir muito medo.

Oito dos entrevistados (cerca de 54%) disseram que não perderam pacientes em decorrência da contaminação pelo novo coronavírus. Três (20%) disseram ter mais de cinco pacientes mortos pela Covid-19. Outros três relataram que perderam mais de um e menos de cinco pacientes. Apenas um viu só uma morte. Ninguém registrou mais de dez óbitos.  

Apenas um dos 15 participantes disse já ter sido contaminado pelo novo coronavírus.

Por outro lado, só um dos médicos afirmou não ter colegas contaminados. Dez (cerca de 67%) contabilizaram até cinco colegas infectados. Quatro (aproximadamente 27%) responderam ter entre cinco e dez companheiros de trabalho contaminados. Ninguém registrou mais de dez casos entre companheiros de profissão. Nenhum relatou a existência de colegas mortos pela doença.

A jornada de trabalho tem sido longa para a maioria dos médicos entrevistados. Cinco deles disseram que trabalham até 12 horas por dia. Quatro encaram mais de 12 horas de trabalho. Um deles respondeu que trabalha até 10 horas diárias e outros cinco atuam por oito horas.

A enquete contou com a participação de médicos de São Paulo (5), Roraima (2), Rio Grande do Sul (4), Distrito Federal (2), Sergipe (1) e Minas Gerais (1). As idades dos participantes variam entre 28 anos e 58 anos.

O trabalho foi feito entre a última quinta (16) e o último sábado (18). As perguntas foram enviadas por aplicativo de mensagem por celular, e-mails e contatos por redes sociais. No caso dos gaúchos, a enquete foi enviada para a assessoria de imprensa do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul (Simers) que as repassou aos profissionais.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.