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Sem voo do governo, entidade vê risco de faltar caixão em Manaus, que nega

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29/04/2020 04h00

ESPECIAL COVID-19

Para a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) há sério risco de Manaus ficar em breve sem caixões para enterrar seus mortos por causa da pandemia de Covid-19. Trabalhando com esse cenário, a entidade pediu que o Governo Federal fornecesse transporte aéreo a partir de Campinas para que fossem entregues com rapidez 2.000 urnas funerárias para a cidade. A solicitação não foi atendida por enquanto, e a associação demonstrou sua irritação em nota oficial.

Procurada pelo blog, a assessoria de comunicação da Secretaria de Governo, vinculada à presidência da República, afirmou, no início da noite desta terça (28), que aguardava a Prefeitura de Manaus responder se o envio proposto pela Abredif é necessário.

O departamento de comunicação da pasta argumentou que legalmente a solicitação deve ser feita por um ente público, não por uma entidade privada.

Por sua vez, a prefeitura da capital do Amazonas indicou ao blog uma situação menos crítica do que a vista pela Abredif.

"A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), responsável pelo serviço SOS Funeral, informa que o estoque de urnas funerárias está abastecido para suprir o aumento de demanda de sepultamentos e que houve reforço na equipe de servidores para prestação do trabalho pelos próximos 30 dias, mesmo assim a prefeitura já providencia aquisição de mais urnas, prevendo cenário mais grave da pandemia nos próximos meses" diz a nota endereçada ao blog.

A Abredif justificou ao governo seu pedido afirmando que o estoque das funerárias de Manaus era inferior a mil caixōes no último dia 25, que as mortes diárias por covid-19 na cidade passam de 130 (o número citado não leva em conta só casos confirmados de Covid-19) e o transporte rodoviário não seria capaz de levar o material a tempo para reposição.

Oficialmente, até o fim da tarde desta segunda, Manaus registrava 351 mortes por Covid-19. Porém, os cemitérios entraram em colapso. A prefeitura chegou a determinar que caixōes fossem empilhados em covas por falta de espaço, mas voltou atrás depois da revolta de familiares dos mortos.

Segundo Lourival Antônio Panhozzi, presidente da Abredif, sem avião as urnas funerárias podem levar até dez dias para chegar em Manaus partindo do Espírito Santo. "Tem uma dificuldade geográfica. Dá para ir de caminhão até Belém, depois é preciso pegar uma balsa", afirmou Panhozzi.

"Estamos com um caminhão em Porto Velho, mas ele ainda não conseguiu balsa. Vamos tentar com algumas funerárias do interior do estado, ver se elas conseguem socorrer um pouco. Tentamos um voo privado, mas o custo ficou proibitivo. Iria acrescentar quase R$ 1 mil no valor de cada urna, isso não tem como ser repassado. Vamos ver se (as empresas de) Belém conseguem mandar alguma coisa, mas lá também está aquecido. Se Belém conseguir, a gente consegue a duras penas passar por esse momento", declarou o  presidente da associação. Em nota, a Abredif afirmou lamentar "este distanciamento da pauta do governo das reais necessidades da sociedade", ao comentar o fato de não ter recebido ajuda governamental.

Por sua vez, a o departamento de comunicação da Secretaria de Governo explicou que não emitiria uma nova nota por já ter divulgado na segunda que havia pedido para a prefeitura de Manaus se manifestar sobre o tema.

A secretaria argumenta que precisa ser provocada por outra entidade pública, no caso a prefeitura de Manaus, já que a associação é privada. Lembra ainda que há regras rígidas para ações do governo com entidades privadas e que os caixōes seriam vendidos, não doados. Outro ponto é que haveria risco de serem transportadas mais urnas do que o necessário. Por fim, o governo se compromete a ajudar a prefeitura em relação aos caixões se ela pedir auxílio.

A Abredif se apresenta como entidade sem fins lucrativos.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.