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Teste positivo de Dorival mostra como futebol brasileiro brinca com fogo

Perrone

16/08/2020 10h34

O teste positivo de Dorival Júnior para covid-19, divulgado na última sexta, é mais uma demonstração de como é impossível retornar ao futebol com segurança em plena pandemia.

O treinador do Athletico comandava um treino quando foi avisado por um dos médicos do clube que estava contaminado. Ele se retirou imediatamente da atividade.

Só que, nesse caso, o imediatamente pode ter sido tarde demais. Por maiores que tenham sido os cuidados durante os trabalhos no Furacão, Dorival pode ter transmitido o vírus para alguém.

Essa é uma brecha no protocolo da CBF para o Brasileiro e, acredito, que ocorra na maioria das competições.

Enquanto os testes estão sendo examinados, jogadores, comissões técnicas e demais funcionários dos clubes estão convivendo uns com os outros.

As medidas de prevenção não são suficientes para evitar esse contágio. A prova disso são os diversos surtos registrados em clubes desde a retomada do futebol. O próprio Athletico teve vários registros de testes positivos em julho.

Como evitar que alguém contaminado e assintomático tenha contado com os colegas? Só evitando a convivência. Ou seja, os times teriam que ficar sem treinar toda vez que aguardassem os resultados. Isso inviabilizaria uma preparação decente para a competição.

O caso de Dorival nos mostra uma complexidade maior.  Apesar de assintomático no momento em que saiu o resultado, ele exige atenção especial porque passou por um tratamento contra câncer de próstata no ano passado. Fez uma cirurgia para a retirada do tumor em outubro.

Se alguém acredita que o futebol pode escapar da covid-19 sem maiores problemas porque jogadores são jovens fora do grupo de risco e em sua maioria sem histórico de doenças graves, Dorival está aí para lembrar que não é assim que funciona.

Os clubes podem ter treinadores, preparadores físicos, massagistas, seguranças e uma série de outros profissionais que pertencem ao grupo de risco para a covid-19. A chance de complicações caso eles se contaminem é maior. Isso precisa ser levado em conta.

Agora, vamos imaginar que uma agremiação tenha afastado todos os seus funcionários do grupo de risco do trabalho. O problema foi resolvido? Não. Os jogadores jovens e esbanjando saúde estão expostos ao risco de contaminação. Caso se contaminem e nada de grave aconteça com eles, como ficam seus familiares. Quem não tem na família alguém com comorbidade?

Bom, todos devem ter sido orientados para não sair de casa sem necessidade. Mas e os que moram com parentes que pertencem ao grupo de risco. E os que não respeitam essa regra de distanciamento fora do clube?

Ou seja, o caso de Dorival força quem ainda não enxergou que o futebol brasileiro está brincando com fogo. Não se trata só de afastar jogadores que, teoricamente, em duas semanas estarão de volta ao trabalho.

Essa bolha imaginária enxergada pela CBF pode trazer sérios problemas para muita gente que não compartilha o perfil de saúde da maior parte dos atletas.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.