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Carta de Andrés sobre naming rights aumenta cobrança por transparência

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03/09/2020 11h48

Na última terça, dia do aniversário do Corinthians, Andrés Sanchez enviou e-mail aos conselheiros do clube informando a venda dos namings rights da arena corintiana. A mensagem não traz informações que não tenham sido reveladas publicamente e gerou indignação em membros de diferentes alas políticas. Eles alegam falta de transparência.

O episódio aumentou a cobrança para que o presidente corintiano apresente o contrato com a Hypera Pharma ao Conselho Deliberativo.  O grupo oposicionista Liberdade Corinthiana protocolou pedido nesse sentido ao dirigente e questionou se houve pagamento de comissão na operação.

Integrante da diretoria afirmou ao blog que Andrés entende que não precisa apresentar o acordo pela Neo Química Arena ao conselho porque o contrato foi assinado pelo fundo que cuida das questões relativas ao estádio, não pelo clube, assim não estaria sujeito às regras estatutárias. Corinthians e Odebrecht integram o fundo.

"Existe uma divergência sobre se o contrato precisa ou não de aprovação do Conselho Deliberativo. Mas acredito que o Andrés vai me passar as informações sobre o acordo e eu as enviarei às comissões que cuidam do estádio e de assuntos jurídicos", disse ao blog Antonio Goulart dos Reis, presidente do Conselho Deliberativo do clube.

Ele afirmou ainda que pretende colocar o acordo pelos naming rights em discussão no conselho. "Vamos discutir e fiscalizar o cumprimento do contrato", afirmou Goulart. Como convidado de Sanchez, ele participou do evento em que o novo nome da arena foi anunciado.

Os conselheiros que ficaram mais irritados com o e-mail de Andrés alegam que o documento tem cara de propaganda eleitoral. E afirmam que o presidente não os tratou com o devido respeito por não ter apresentado detalhes do contrato.

Sanchez deve lançar Duílio Monteiro Alves, diretor de futebol e que participou do evento do anúncio dos namings rights, como candidato da situação à presidência na eleição em novembro.

Abaixo, leia na íntegra a mensagem encaminhada pelo presidente corintiano aos conselheiros.

"Bom dia.

Nobres Conselheiros(as)

Como presidente do Sport Club Corinthians Paulista, tenho a honra de anunciar à nação corinthiana um acordo histórico, no aniversário de 110 anos de nossa maior paixão. É com muito orgulho que fechamos o contrato de cessão de Naming Rights com a empresa Neo Química, que batizará a Casa do Povo em Itaquera. A partir de hoje, nosso estádio se chamará Neo Química Arena.

Um contrato fechado com muito carinho, porque se tratava de um sonho, uma promessa e um compromisso.

A negociação, que cede o nome da Arena por R$ 300 milhões ao longo de 20 anos, foi concluída com segurança. Para tanto, o clube encomendou estudos de valor de mídia ao Ibope/REPucom, líder global de pesquisa em patrocínio esportivo. Com base nesse conhecimento das propriedades de marca do Corinthians, podemos garantir  que o clube receberá receitas à altura de sua trajetória.

Este êxito reafirma nossa filosofia de muito trabalho em prol do Corinthians, mesmo que, aqui e ali, surjam diagnósticos apressados a respeito do futuro. Sempre soubemos do que o clube era e é capaz, desde que zelasse pelo que construiu. Em todas as mesas de negociação, nossa força transparece mais a cada vez. Diante de um cenário econômico grave no país, o Corinthians pavimenta seu futuro com vigor.

Agradecemos à Neo Química, um velho parceiro que presenteia a comunidade corinthiana em seu retorno, e reafirmamos que o trabalho não cessará até o último dia desta administração.

Feliz 110 anos, e que venham mais 110.

Cordialmente,

Andrés Sanchez

Presidente do Sport Club Corinthians Paulista".

Por sua vez, a Frente Liberdade Corinthiana pediu nesta quarta (2) que o contrato relativo à venda dos naming rights seja apresentado em 48 horas. Leia na íntegra o documento enviado pelo grupo para Andrés.

"Os conselheiros da FRENTE LIBERDADE CORINTHIANA, CHAPA 21, vêm, mui respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria, requerer:

a) o encaminhamento do contrato
de venda dos "naming rights" da Arena Corinthians firmado com a empresa Hypera Pharma;

b) o detalhamento de eventual pagamento de comissão, caso tenha ocorrido;

c) os motivos pelos
quais a negociação não passou pelo Conselho de Orientação (CORI) e Conselho Deliberartivo (CD).

Fundamentamos a solicitação no dever estatutário dos conselheiros velarem
pelos interesses do Corinthians (art. 81, J), bem como na obrigatoriedade do presidente da  diretoria fornecer todas as informações e documentos (art. 111, 12), além das diretrizes expostas em legislações nacionais sobre a transparência em operações de entidades  deportivas (art. 25, VIII, Profut, e art. 2º, parágrafo único, I, Lei Pelé). Por derradeiro, solicitamos que o pleito e a eventual resposta sejam divulgados no portal de transparência dentro do prazo de 48h, sem prejuízo de encaminhamento para o e-
mail…".

Como mostrou o blog, conselheiros que defendem que o contrato deveria ter sido aprovado antes pelo conselho, usam como argumento ata de reunião realizada em janeiro de 2017 na qual foi acordado que contratos referentes à arena fossem analisados pelo órgão.

Na semana passada, o departamento de comunicação do Corinthians respondeu ao blog que a diretoria não comentaria se pretendia discutir o acordo no conselho.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.