Topo

Perrone

Tire suas dúvidas sobre a venda dos naming rights da arena do Corinthians

Perrone

05/09/2020 04h00

Abaixo, tire suas dúvidas sobre a venda dos naming rights da arena do Corinthians para a Hypera Pharma por R$ 300 milhões por 20 anos.

1 – Com a venda dos naming rights, a renda dos jogos em casa volta a ser exclusivamente do Corinthians? O clube pode usar o dinheiro como quiser? Pode investir em contratações, por exemplo?

Não. Isso só vai acontecer quando toda a dívida com a Caixa Econômica Federal relativa ao estádio for paga.

2 – A Hypera Pharma vai antecipar o pagamento das parcelas referentes aos naming rights para ajudar o Corinthians a quitar a dívida com a Caixa mais rapidamente, liberando o dinheiro gerado pela bilheteria pelo clube?

A diretoria não tem a expectativa de que isso ocorra. Dirigente ouvido pelo blog disse não haver essa necessidade porque os juros a serem pagos para Caixa não são altos, segundo o cartola. Ele não revelou a taxa.

Porém, uma das ideias do clube enquanto tentava negociar o nome da arena com outras empresas era receber o dinheiro em dez anos, justamente para acelerar a quitação da dívida.

4 – Como a Hypera Pharma vai pagar os R$ 300 milhões para colocar o nome Neo Química Arena na casa corintiana?

O pagamento será feito em 20  parcelas anuais.

5 – A venda dos naming rights resolve o pagamento da dívida pela construção da arena?

Ajuda bastante, mas não garante a quitação total do débito. Na Justiça, a Caixa alega que o fundo criado para viabilizar a construção do estádio, controlado por Odebrecht e Corinthians, deve R$ 536 milhões.

O clube contesta esse valor, principalmente por causa de multas cobradas por inadimplência. A direção alvinegra calcula o débito em cerca de R$ 490 milhões. Ou seja, em nenhum dos dois casos a receita gerada pelos naming rights é suficiente para pagar a conta.

No cálculo entram ainda juros da dívida e dos pagamentos parcelados.

Esse débito se refere ao financiamento de R$ 400 milhões feito jundo ao BNDES por intermédio da Caixa para ajudar na construção da arena .

Há ainda uma dívida a ser resolvida com a Odebrecht Participações e Investimentos (OPI) avaliada em certa de R$ 160 milhões. Andrés Sánchez espera anunciar em breve a quitação desse débito por muito menos através de um acordo.

A solução depende de aprovação dos credores da empresa, que está em recuperação judicial. Esses valores se referem a juros de operações financeiras feitas pela OPI para tocar a obra

Em relação à outra dívida, com a Odebrecht Engenharia e Construção, as partes assinaram um acordo de quitação que envolveu o repasse de CIDs (Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento) para a empresa, além do abatimento de valores correspondentes a trabalhos que o clube considera não terem sido feitos.

6 – A venda dos naming rights influencia  no acordo que o Corinthians costura com a Caixa para encerrar cobrança na Justiça?

A diretoria do clube acredita que sim. Isso porque, agora, o fundo tem uma receita fixa, independentemente da venda de ingressos para garantir ao menos parte dos pagamentos.

7 – A receita gerada pelo negociação dos naming rights passa a ser a maior fonte de renda para o pagamento da dívida relativa ao estádio?

Não. A Hypera Pharma vai desembolsar R$ 15 milhões anuais  por 20 anos. De acordo com o balanço do clube, em 2019 foram repassados para o fundo R$ 39.211.000 gerados pela venda de ingressos. Em 2018, o montante enviado ao fundo por conta da bilheteria em jogos foi de R$ 41.086.000. Ou seja, nos dois casos a verba obtida com a comercialização de ingressos supera o valor anual a ser arrecadado com os namings rights.

8 – O contrato precisava ter passado antes pelo Conselho Deliberativo?

Não há um artigo do estatuto alvinegro que fale isso claramente. Os conselheiros divergem sobre o tema.

A ata de uma reunião do órgão feita em janeiro de 2017, na qual foi acordado que contratos referentes ao patrimônio do clube, incluindo os relativos à arena, passariam pelo conselho, é usada pelos que defendem a obrigatoriedade. Porém, não se fala em tentar anular a operação. Andrés agora é cobrado para exibir o contrato assinado ao conselho.

Membro da diretoria afirmou ao blog que o presidente entende não ser necessário apresentar o documento ao órgão porque ele foi assinado pelo fundo, não pelo Corinthians.

O presidente do conselho, Antonio Goulart dos Reis, diz acreditar que Sanchez enviará detalhes do acordo. Se isso acontecer, ele promete encaminhar as informações às comissões que cuidam do estádio e de assuntos jurídicos no órgão.

9 – Será paga comissão para alguma empresa pela intermediação da venda do nome da arena?

Essa é uma das principais dúvidas no clube hoje. Diretor próximo a Andrés disse que ele não informou se pagará ou não comissão. Andrés não fala com o blog, pois isso não foi possível indagá-lo sobre o tema.

Conforme apurou o blog, em tentativas anteriores, o fundo autorizou pagamento de comissão por intermediação de até 5 % em relação ao valor total do contrato.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.