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Jogo na TV Brasil reforça como seleção pode ajudar a empoderar cartolas

Perrone

14/10/2020 11h08

A transmissão da vitória da seleção  brasileira por 4 a 2 sobre o Peru nesta terça (13) pela TV Brasil é o exemplo mais bem acabado de como o time pentacampeão mundial pode ser usado para dar cacife político aos comandantes da CBF.

Depois de pedido do Governo Federal pela exibição do jogo em TV pública, a confederação  comprou os direitos da partida e cedeu para a TV Brasil, que já transmite a Série D.

O investimento feito por Rogério Caboclo, presidente da CBF, certamente valeu pela gratidão do governo e consequente aproximacão com os governantes. Tanto que o dirigente e cartolas da CBF receberam abraços e agradecimentos da Secretaria de Comunicação do governo pela cessão dos direitos.

Num país em que cartolas vivem pedindo favores, especialmente repactuações  de dívidas fiscais ao Governo Federal, o possível uso da seleção para essa aproximação entre CBF e governantes é preocupante.

É natural imaginar que, depois dessa, cartolas com dificuldades para terem pedidos atendidos em Brasília recorram a Caboclo, aumentando seu poder político e, talvez, tornando clubes mais vulneráveis às vontades da CBF.

Há muitas questões  em jogo no futebol brasileiro neste momento tendo Brasília na rota. MP do Mandante, dívidas fiscais dos clubes e questões trabalhistas relacionadas a jogadores e agremiações. Isso deixa evidente como o gesto por meio da seleção foi importante para a CBF.

Há também o lado do governo, que ganhou o time de Tite para fazer a velha e má política do pão e circo, igualzinho aos tempos da ditadura militar.

Pelo meio do caminho, ficou o canal por assinatura  EI Plus, único  que tinha os direitos de transmissão da partida. Ou seja, o governo acabou, indiretamente, interferindo em questões comerciais privadas.

O movimento da CBF pode ter reflexos em diversas áreas do futebol brasileiro, por isso o caso merece atenção. Personagens que estejam do lado oposto da CBF em eventuais questões  que passem pelo executivo não terão a seleção nas mãos para se aproximar dos governantes. A isonomia pode ser ameaçada.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.