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Para voltar à CBF, Dunga exigiu tratamento igual a veículos de comunicação

Perrone

22/07/2014 06h00

O blog faz breve pausa em sua folga nesta semana para falar do novo treinador escolhido pela CBF. Umas das exigências feitas por Dunga para voltar à seleção brasileira é de que todos os veículos de comunicação tenham tratamento igual. Como aconteceu em sua primeira passagem como comandante do time nacional, marcada pela briga com a Globo, ele não quer dar privilégios. Enquanto isso, pelo menos dois programas da TV já criticaram a escolha dele na noite desta segunda.

Tratada como as demais emissoras na África do Sul, a Globo voltou a ter tratamento diferenciado em 2014, com Felipão. Foi a primeira a entrevistar Scolari na Granja Comary, ao vivo, com Fátima Bernardes, e chegou até a interromper um treinamento para a gravação do programa do apresentador Luciano Huck.

Ao mesmo tempo em que assegurou a Dunga que ele não precisará dar regalias a Globo, a cúpula da CBF também acalmou a rede de TV. Deu garantias de que não será bélico o clima com o treinador.

José Maria Marin, presidente da CBF, e Marco Polo Del Nero, que vai assumir a entidade em abril de 2015, têm excelente relacionamento com a Globo e querem que continue assim. A dupla, por exemplo, tem proximidade com Marcelo Campos Pinto, encarregado de negociar a compra de direitos de transmissões de campeonatos. Mas os dirigentes também se dão bem com repórteres, como Mauro Naves.

Se a exigência de Dunga for realmente atendida na prática, existem dois caminhos: ou ninguém fará entrevistas exclusivas na seleção, ou todos farão. A segunda hipótese não combina com o jeito como o técnico gosta de trabalhar. Vale lembrar que no Mundial do Brasil Felipão deu outras entrevistas individuais depois de falar com a Globo.

As entrevistas exclusivas deram origem à guerra entre Dunga e a maior rede de TV do país. Já em 2008, o treinador acreditava que parte dos profissionais da Globo queria sua demissão para ter mais facilidade em entrevistar os atletas da seleção. Segundo o técnico, a emissora tentou gravar com jogadores à 1h da manhã nos Estados Unidos, e ele não permitiu.

Em 2009, no Sportv, canal das organizações Globo, o treinador fez outro ataque. Reclamou de Mauro Naves, que em reportagem classificou um dos treinos da seleção como "leve".

A situação se agravou na Copa de 2010. Primeiro, Robinho deu entrevista para a Globo em dia de folga e foi repreendido pelo técnico. A partir de então, os jogadores passaram evitar sair da concentração nos dias livres.

Mas a batalha mais tensa aconteceu na entrevista coletiva do técnico depois do jogo com a Costa do Marfim. A Globo queria entrevistar alguns jogadores, entre eles Luis Fabiano, num estúdio montado com autorização da Fifa perto dos vestiários, mas Dunga não deixou. O técnico ouviu quando o jornalista Alex Escobar comunicava sua equipe pelo celular do ocorrido e disparou xingamentos, como "cagão".

Em resposta, o "Fantástico" fez um editorial criticando a maneira como o treinador se comportava nas entrevistas coletivas. Depois, Dunga pediu desculpas pelo destempero aos torcedores.

Na edição desta segunda do "Jornal da Globo", a escolha de Dunga já foi criticada pelo narrador e apresentador Luís Roberto. Ele disse que esperava algo novo por parte da CBF. Afirmou que a entidade perdeu uma oportunidade [de inovar] e declarou que a mudança no futebol brasileiro precisa ser estrutural a fim de melhorar a formação de jogadores.

Logo após ao telejornal, começou o "Programa do Jô". E o apresentador, de cara, fez piada com o novo treinador da seleção. Indagou qual o motivo de se insistir com um que parece não ter dado certo se existem ainda outros seis anões, em referência a fábula de Branca de Neve e os Sete Anões. Em seguida, durante entrevista com integrantes da banda "Titãs", Jô perguntou: "Se fizerem uma pesquisa, quem vai ter mais rejeição, Dunga ou Guardiola?". Estão dadas as boas-vindas da Globo ao novo técnico.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.