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Mais violentas, torcidas aumentam poder em Corinthians, SPFC e Palmeiras

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22/02/2015 10h44

Na mesma proporção em que aumentam seus atos violentos, as torcidas organizadas de Corinthians, São Paulo e Palmeiras ampliam seus poderes nos clubes. Os exemplos são fartos no início de 2015.

Esse fortalecimento acontece até em clube que rompeu com as uniformizadas, como o Palmeiras. Apesar de o presidente Paulo Nobre virar as costas para ela, a Mancha Aliverde elegeu seu membro mais famoso, Paulo Serdan, para o Conselho Deliberativo palmeirense.

"Eu sempre ouvia, na época que frequentava estádio: 'Enquanto eles estão do lado de fora, tudo bem'. Eles, os diretores e conselheiros, sempre se sentiram muito confortáveis, com a gente distante. Agora eles começam a se incomodar mais, porque a gente está dentro do clube", disse Serdan em recente entrevista à Folha de S.Paulo. Ele é presidente de honra da torcida e preside e escola de samba da Mancha. O torcedor não teve sua escalada no clube interrompida nem após agredir um treinador das categorias de base que substituiu seu filho, em 2007.

O avanço da uniformizada palmeirense é um pequeno passo comparado com o que Eduardo Almgren Ferreira, o Edu da Gaviões, acaba de conseguir ao ser nomeado diretor-adjunto de futebol do Corinthians.

"Ainda sou sócio da Gaviões e nunca vou deixar de ser. Mas minha participação na torcida diminuiu muito", disse Edu ao blog. Ele começou a ganhar espaço no Corinthians por ser um dos líderes do "Movimento Fora Dualib" e virou homem de confiança de Andrés Sanchez.

Mas as organizadas alvinegras mostraram mais força. Depois de uma semana com pelo menos três conflitos entre corintianos e palmeirenses, Mário Gobbi, então presidente, disse que o time não entraria em campo se seus torcedores não pudessem ir ao jogo com o Palmeiras no Allianz Parque, como havia sugerido a Gaviões no dia anterior.

Gobbi conseguiu os ingressos para suta torcida. Gaviões da Fiel e Pavilhão 9 tiveram integrantes acusados de agredir policiais para furar a escolta feita pela PM a fim de brigarem com palmeirenses.

Antes disso, as uniformizadas corintianas já haviam destruído cadeiras do estádio do clube e conseguido meses depois que elas fossem retiradas de seu setor para terem mais espaço. O clube atendeu à exigência, mutilando o projeto arquitetônico da arena.

Já no São Paulo, o presidente Carlos Miguel Aidar atendeu a um telefonema do presidente da Independente, conhecido como Negão, e informou que cederia ônibus para as uniformizadas irem ao estádio do Corinthians.

No clássico, são-paulinos agrediram dois corintianos dentro do estádio, uma dupla tricolor foi detida com bombas caseiras e 30 corintianos da Estopim da Fiel foram flagrados com armas brancas.

A ligação da Independente com a cúpula são-paulina é antiga. Em 2013, um sócio do São Paulo acusou quatro membros da uniformizada de agressão dentro do clube, simplesmente por apoiar o opositor Marco Aurélio Cunha. No mesmo dia, Negão, o presidente da torcida, protagonizou cenas de truculência enquanto defendia Juvenal Juvêncio num evento para sócios são-paulinos.

Assim, a uniformizada virou peça importante no xadrez político são-paulino. Ainda mais depois de Aidar romper com Juvenal. Com o episódio dos ônibus, o atual presidente, mostrou a seu antecessor afinidade com a organizada.
Esse cinturão de poder dos torcedores nos clubes é um indício de como será difícil a missão do Ministério Púbico de São Paulo, que parece disposto a romper de vez com as torcidas violentas, após anos dando votos de confiança a elas.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.