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E-mails revelam conflito entre cartolas que ameaça futebol do São Paulo

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24/02/2015 06h00

De um lado, o cartola que conduz o departamento de futebol do São Paulo com pulso firme. Do outro, o dirigente mais ouvido pelo presidente do clube, Carlos Miguel Aidar. Essa queda de braço entre Ataíde Gil Guerreiro, vice de futebol, e Douglas Eleutério Schwartzmann, vice de comunicações e marketing, aumenta ainda mais a tensão em volta do time são-paulino.

A dupla já vinha se estranhando até que uma troca de e-mails entre dirigentes e conselheiros do clube no dia 11 de fevereiro se transformou num dos capítulos mais apimentados dessa história.

A lavagem digital de roupa suja começou às 11h53, quando Ataíde enviou e-mail para seis cartolas com o objetivo de marcar uma reunião para tentar selar a paz entre Juvenal Juvêncio e Aidar. Apesar de a mensagem ser intitulada de pacificação, o vice de futebol fez algumas críticas aos colegas, enquanto justificava discurso em que mencionou o sexteto em reunião do Conselho Deliberativo.

Para o vice de  comunicações, sobrou o seguinte disparo: "O Douglas necessita parar com mania de perseguição, quando o menciono é porque todos nós reconhecemos que ele é o dirigente de maior influência com o presidente e pode perfeitamente, com a presença constante, acalmar os ânimos belicosos".

Às 21h35, Douglas respondeu ao vice de futebol dizendo que "não tenho mania de perseguição, o senhor [Ataíde] é que não entende que o SPFC é uma coisa só, Cotia, Barra Funda e o Morumbi são uma gestão só, não crie republicas!".

Procurado, Douglas negou que tenha escrito o e-mail ao qual o blog teve acesso. Porém, confirmou que o endereço do destinatário da mensagem citada por este blogueiro é o dele. "Não sei do que você está falando, não recebi e-mail do Ataíde e nem escrevi para ele. Nunca briguei com o Ataíde, e o São Paulo não precisa de pacificação porque não está em guerra", disse Douglas. Por sua vez, Ataíde não atendeu às ligações feitas entre 17h02 e 21h06.

Porém, outros dois destinatários das mensagens confirmaram a veracidade da troca de correspondências lida pelo blog.

Ataque e contra-ataque registrados nos e-mails escancaram o problema central do relacionamento entre os cartolas graúdos. Ataíde é tido como um dirigente centralizador, que não admite interferências no comando do futebol. Na outra ponta da corda, Douglas é descrito por outros dirigentes como um cartola que gosta de dar sugestões para Aidar em todas as áreas, o que atinge o território de Ataíde.

A ameaça do fogo amigo ao departamento de futebol são-paulino foi citada na resposta de Rui Stefanelli, conselheiro do grupo de Juvenal, também convidado por Ataíde para a reunião. Ele respondeu que aceita o convite e que gostaria de falar a respeito de vários assuntos, como "sobre os rumores de uma eventual tentativa de interferência no setor do futebol profissional e de base. Sobre desavenças e brigas de ego dentro da atual diretoria".

Na resposta a Ataíde, Douglas afirmou que não tem poder de influenciar as decisões de Aidar. "Não tenho influência nenhuma sobre o presidente, nem eu nem você e nem ninguém. Você o conhece há tempo e sabe, ou deveria saber, que ele não é influenciável. Não achei legal esse seu parágrafo. Tenho, é verdade, a confiança dele, mas por dois motivos simples, pela minha dedicação ao SPFC e responsabilidade aos compromissos que assumi como diretor e agora vice, e pela lealdade e transparência que tenho com ele, que você deveria conhecer pelo meu DNA!", escreveu Douglas.

Outro motivo para a troca de tiros entre os dois vices é a maneira como cada um encara o duelo entre o atual e o ex-presidente. Ataíde quer que Douglas ajude a pacificar o clube. Enquanto isso, o vice de comunicações pede para seu colega engrossar a tropa de defesa de Aidar.

Em outro trecho de seu e-mail, Douglas diz: "E só para lembrá-lo, estou pedindo a sua ajuda já faz alguns meses para que o senhor use sua credibilidade e firmeza na fala que sempre faz no conselho, não só para falar de futebol, disso e daquilo, mas que realmente assumisse uma postura política e defendesse a gestão que o senhor faz parte".

Até a contratação do argentino Centurión, com a ajuda de Vinícius Pinotti, empresário e torcedor do clube, entrou na dança. "Estou sempre à sua disposição como amigo, conselheiro e como vice de marketing porque nós dois temos que estar alinhados. Já lhe disse isso várias vezes. Por isso, o Centurión deu certo. Não se esqueça que foi viabilizado pelo marketing e, particularmente, por mim como você bem sabe. Atendi sua ligação no meio do deserto da Califórnia, pus o rapaz direto com você e o presidente e dei a ele a tranquilidade, garantia e confiança que o senhor merece", escreveu Douglas no mesmo e-mail.

A ideia de Ataíde quando disparou a primeira mensagem era de que os seis cartolas colocassem para fora todas as críticas que um lado tem a fazer do outro numa reunião. Depois, levariam uma proposta de paz para Aidar e Juvenal. Além de Douglas e Stefanelli, o e-mail do vice de futebol foi enviado para Júlio Casares, vice-presidente do clube, Francisco Manssur e Roberto Natel, conselheiros e aliados de Juvenal Juvêncio, e Leonardo Serafim, conselheiro com bom trânsito na diretoria.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.