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'Prioridade é acertar atrasos, não contratar', diz diretor do Corinthians

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19/03/2015 10h07

Entrevista com Emerson Piovezan, diretor financeiro do Corinthians.

A situação financeira do Corinthians é pior do que o senhor imaginava quando era candidato a vice-presidente pela oposição na última eleição?

Já imaginava as dificuldades, tinha conhecimento de que não seria fácil. Eu sabia que tínhamos dívidas negociadas, antecipações, não tive nenhuma surpresa. Estamos trabalhando pra resolver. Não vai ser a curto prazo.

Mas qual a solução?

Ainda é difícil dizer. A primeira coisa que estamos fazendo é uma revisão orçamentária. Devemos consolidar isso essa semana. Vamos alterar o que era um regime orçamentário para um regime de caixa.

O que isso significa?

No regime orçamentário, você via, por exemplo, que tinha R$ 50 milhões para receber da Globo e falava: "vou fazer um plano pra gastar esses R$ 50 milhões. Vou gastar R$ 10 milhões num jogador, gastar tanto em outra coisa." Não vai mais ser assim. Agora só vamos gastar se tivermos dinheiro em caixa para gastar. Hoje não podemos usar o caixa. Queremos comprar um jogador. Tem dinheiro no caixa? Não, então não compra. Isso não significa que vamos parar o clube. Não tem dinheiro em caixa para fazer contratação, então temos que buscar recursos. Quero comprar um novo jogador. Quanto ele custa, R$ 10 milhões? Aí vou atrás desse dinheiro. Vou pegar empréstimo, fazer financiamento. É nisso que estamos trabalhando.

É nesse contexto que o senhor tem dito que não dá para contratar o Bernard?

Sim. Só dá para trazer se, além de não pagarmos nada para o clube dele, o Bernard continuar recebendo a maior parte do salário do Shakhtar. Não tenho dinheiro em caixa. Estou muito mais interessado em resolver os atrasos com o plantel do que em buscar reforços. Precisa reforçar o time sempre, mas entendo que temos plantel bom, temos condições de disputar títulos.

São seis meses de direitos de imagem atrasados?

Alguns casos sim, mas não são todos. O que temos são cinco ou seis atletas que estão com esse tipo problema.

Como vai conseguir o dinheiro para pagar os atrasados?

Estamos vendo várias alternativas, opções de patrocínio, outras operações financeiras. E estamos fazendo o básico. Vamos cortar despesas e alongar a dívida, fazendo empréstimos com mais tempo para pagar (e quitando os que vencem em menos tempo).

Precisa fazer um empréstimo de quanto?

Ainda não tenho esse número.

O Corinthians já antecipou todas as cotas que tinha para receber da Globo?

A gestão anterior antecipou algumas cotas de 2016, mas temos recebido algumas cotas em 2015. Tem o dinheiro do pay-per-view para receber, por exemplo.

Quanto o Corinthians precisa cortar de despesas?

Cada departamento tem uma característica e cada área vai dar sua contribuição. A ideia é reduzir o máximo possível.

No futebol, de quanto vai ser a redução?

Ainda não temos esse número. O futebol é o maior centro de custos, mas também é o maior centro de receitas.

É preciso vender jogadores, certo?

Isso depende dos nossos resultados em campo. É uma das alternativas, mas vamos analisar nossa situação depois que passar a Libertadores. A situação é difícil para todos os clubes. A realidade patente hoje é que temos as federações bem colocadas, e os clubes mal. Temos que estudar como mudar isso.

O senhor está sendo consultado na negociação para a renovação com o Guerrero?

Quem cuida é o presidente e o diretor de futebol. Eu ajudo a conseguir os recursos. Primeiro, temos que conseguir sentar com ele (Guerrero) pra conversar, o que tem sido difícil. A proposta dele é muito alta, e nós temos um limite. Mas vamos fazer de tudo para tentar um acordo. Vou buscar recursos e ver o que conseguimos.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.