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Corinthians agora precisa ser sincero com torcida e ter time que pode pagar

Perrone

14/05/2015 07h38

Eliminado da Libertadores pelo Guaraní do Paraguai, um time infinitamente mais barato, o Corinthians precisa passar por uma transformação imediatamente. Não se trata de caça às bruxas com lista de dispensa, mas de uma mudança radical no comportamento de seus dirigentes.

A direção tem o dever de ser sincera com a torcida, expor a realidade financeira, mostrar quanto pode gastar com o elenco daqui para frente e parar de tentar tapar o rombo com a barriga.

É necessário trocar a megalomania pelos pés no chão. Parar de pensar nos pisos de mármore de Itaquera e valorizar o terrão, apelido de suas categorias de base.

Continuar inflando a dívida salarial com medalhões que não cabem mais no bolso do clube só serve para minar a motivação de quem não recebe em dia. É adiar a explosão da bomba-relógio.

O clube não pode mais ser gerido com espírito de jogador de pôquer, que blefa (nesse caso para torcida e jogadores), torra tudo o que ganha em apostas mais altas (como na contratação de Pato) e penhora o que tiver em casa (cotas de TV, de patrocínio…) para continuar apostando.

Cartadas como trazer Vágner Love na véspera da eleição e com salário de cerca de R$ 500 mil já deveriam ter sido descartadas por quem tem um estádio de R$ 1,2 bilhão para pagar e só pode usar sua receita de bilheteria para quitar a dívida gerada pela obra.

A sinceridade é o caminho para torcida se acostumar com um time mais barato, com mais garotos da base, menos salários que passam dos R$ 200 mil, com contratações mais modestas (sem gastos exorbitantes com comissões para empresários). Afinal, um clube que rotineiramente ganha a Copa São Paulo certamente produz jogadores de qualidade. Cabe a Tite, um técnico reciclado na Europa, fazer omelete com os ovos que tiver.

A qualidade da equipe vai cair? Provavelmente vai. Mas jogadores ainda em busca de sucesso e recebendo em dia, em tese, terão disposição de sobra. Não dá para o clube ficar até cinco horas antes de uma partida decisiva tentando levantar um empréstimo para saldar uma pequena parte do débito com os atletas em busca de injetar um pouco de ânimo. Isso aconteceu na tarde que antecedeu a derrota por 1 a 0 para os paraguaios.

No modelo básico vai faltar experiência ao elenco? É possível. Mas a experiência já não foi aliada do Corinthians nesta Libertadores, com expulsões de jogadores calejados como Sheik, Fábio Santos, Jádson e Mendoza.

No modo sinceridade a diretoria não deixaria a torcida delirar com a volta de Tevez, por exemplo. E faria os torcedores abraçarem um time menos luxuoso como a Arena Corinthians, mas que recebe em dia e não ameaça o futuro corintiano com uma dívida que pode se tornar impagável.

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.