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Naming right misterioso sofre resistência no Corinthians

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02/05/2016 09h26

"Essa coisa de empresa comprar os naming rights e não botar seu nome no estádio é esquisita. Pagar para colocar o nome de Fiel, só se for uma igreja evangélica que quer a Arena Deus é Fiel". A frase de Antônio Roque Citadini, ex-candidato à presidência do Corinthians, mostra a resistência que o plano da diretoria para batizar a arena do clube sofre internamente. A cúpula alvinegra espera até a próxima quinta estar pronta para anunciar o acordo com um fundo de investimentos misterioso por enquanto.

O modelo de negócio fora dos padrões do mercado, já que o comprador não vai colocar seu nome na arena, e a falta de um esclarecimento oficial sobre os detalhes antes da assinatura do contrato são os motivos que deixam conselheiros, até alguns da situação, com um pé atrás.

Parcela importante do Conselho Deliberativo quer uma reunião de explicações sobre a venda. Há também quem entenda que a diretoria precisa da aprovação dos conselheiros para fechar o negócio. Guilherme Strenger, presidente do órgão, diz que ainda estuda o caso para saber se existe essa necessidade.

O dinheiro dos naming rights vai para o fundo que administra o estádio, o que tiraria o caso da alçada do conselho. Mas os compradores pretendem explorar o programa de sócio-torcedor do clube, o que no entendimento de alguns requer a anuência dos conselheiros por se tratar de um acordo por longo prazo.

Entre as estratégias discutidas pela diretoria e o provável parceiro está o uso de um cartão de crédito para carregar os ingressos do Fiel Torcedor. Outros produtos seriam agregados ao cartão gerando lucro para o investidor, que não tem hoje uma mercadoria para divulgar como nome do estádio. Assim, para criar uma ligação entre investidor e torcida, a arena pode se chamar Arena da Fiel ou do Povo.

"Explorar cartão de crédito, o clube pode fazer sozinho. Aliás, até já fez. O Corinthians já não tem a renda dos jogos, que vai para pagar o estádio. Não podemos entregar nossas propriedades, como o Fiel Torcedor, porque temos contas para pagar", disse Osmar Stábile, conselheiro oposicionista.

Hoje, o clube deixa cerca de 50% do que arrecada com os sócios-torcedores na Omni, administradora do programa. A expectativa da direção é de ganhar mais do que na relação atual, com sua participação aumentando a cada ano, se o novo contrato for fechado. O rompimento com a Omni está perto de ser formalizado.

Em relação ao cartão de crédito, a Caixa fez um associado ao Corinthians, mas pelas contas do clube conseguiu apenas nove mil clientes. Quem conhece os interessados no nome da arena diz que eles são especialistas nesse tipo de cartão.

 Outro ponto controverso é a possibilidade de o comprador revender o nome do estádio.

"Se é isso, não estamos vendendo os naming rights. Estamos terceirizando a venda", declarou Citadini.

A ideia é que o clube tenha uma participação caso haja uma revenda. A direção não considera que seja uma terceirização pelo fato de receber pelos naming rights independentemente de eles serem revendidos.

"Na verdade, é difícil comentar porque não sabemos o que vai acontecer. A diretoria precisa levar isso para o conselho para explicar se a empresa vai pagar o nome com recursos dela ou do clube", declarou Stábile.

Se o acordo está praticamente fechado, como dizem internamente diretores corintianos, é provável que não haja tempo de fazer uma reunião antes da assinatura.

"Fica difícil opinar estando de fora. Não sabemos em que pé está a negociação, se existe alguma cláusula de confidencialidade", disse ao blog Rogério Mollica, diretor jurídico do Corinthians. Ele explicou que os responsáveis pela arena decidiram contratar um advogado terceirizado para cuidar juridicamente do assunto. Por isso, não poderia comentar se entende que o contrato deve passar pelo conselho.

O blog não conseguiu falar com Roberto de Andrade, presidente corintiano.

Além do formato da operação, conselheiros dizem estar preocupados com a origem do fundo. Parte deles trabalha com a informação de que os compradores são dois jovens publicitários que não possuem garantias que terão o dinheiro para pagar pelos naming rights.

Essa versão é negada por quem está envolvido no negócio e diz se tratar de um fundo norte-americano que acaba de criar um braço brasileiro justamente para comprar o nome da arena. Outra alegação é a de que, a partir da assinatura, o comprador já terá que pagar pelo nome, independentemente do resultado de suas operações.

O sentimento dos poucos que conhecem profundamente a tratativa é oposto ao dos conselheiros desconfiados. O discurso é de que, se concretizada, a negociação terá status de case mundial de marketing.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

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